XII - Novas Metas

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   Tudo o que eu mais queria era que a noite de ontem nunca tivesse existido.

 Dylan também não tocou mais no assunto, fomos para o trabalho e ele não disse uma só palavra. Confesso que me sinto aliviada por isso, não sei se ele percebera que eu não queria falar, ou se era ele que não gostava mesmo do assunto. 

Eu estava exausta, não só fisicamente, estava exausta de espírito. Me sentia sem forças! 

Por diversas vezes suspirei, passei minhas mãos em meu rosto. Meus olhos pediam descanso. Tudo o que mais queria era me esconder debaixo das cobertas e não ver mais ninguém tão cedo. Eu me sentia uma covarde por isso, quanto mais me autoanalisava mais sentia-me pior. 

“Eu vou falar com o detetive!” Eu dizia para mim mesma olhando para meu semblante caído, refletido no espelho do banheiro. 

Sozinha eu não daria conta, mal comecei e já me sinto à beira de um colapso! Às vezes precisamos levar alguns choques para nos darmos conta de que não estamos no controle de tudo. Isso também faz parte do nosso crescimento pessoal, precisamos nos contradizer, encarar que pedir ajuda não é só sinônimo de fraqueza ou incapacidade, pelo contrário, é preciso coragem para isso. 

Lavei o meu rosto e retornei para a minha mesa. Ainda estava no meio do expediente. 

No corredor, passando pela porta da diretoria, eu quase esbarro com o senhor Belmont. Ele saía da sala na hora exata em que eu passava por ela. 

– Senhorita Baker? Está tudo bem? 

– Está sim! – Dou um meio sorriso, corrigindo a minha postura, embora soubesse que minha cara estava horrível. 

– Isso tudo não é preocupação pela tarefa que lhe passei não, não é? Isso não vai interferir no seu trabalho, só foi uma sugestão – ele me analisava, como quem atribuísse minha noite mal dormida a preocupação de cumprir o desafio, que na verdade eu nem me recordava mais que existia. 

– Tudo bem, senhor! Apenas estou um pouco cansada, mas ainda pretendo cumprir – respondo e sigo caminhando. 

É isso que vou fazer! Com um detetive vou poder descansar um pouco a minha mente, sabendo que tem alguém procurando também. Vou me dedicar à esse projeto, tudo vai dar certo!

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Saíndo do trabalho, embora cansada, eu não queria voltar para casa. Apesar de lutar com todas as minhas forças para acreditar que era loucura, ainda temia ver aquele carro cinza de novo. O meu medo não era de estar em casa, era de chegar e vê-lo lá estacionado. Por isso parei no meio do nada, sentei em um banco e fiquei só observando as pessoas passando apressadas por mim, como se eu nem estivesse ali. 

É engraçado como às vezes estamos tão trancados em nosso mundo que nem percebemos o que está à nossa volta. As pessoas, quantas pessoas passam por nós e não nos damos conta? Senhores, jovens, mães com seus filhos, casais de namorados… Cada um tem um mundo dentro de si, histórias variadas, tristezas, alegrias… De repente minhas dores nem chegam perto das dores deles. 

Eu respirava fundo, sentia o ar frio do fim da tarde. O vento soprava forte, derrubando as folhas das árvores que rodopiavam ao meu redor, meu cabelo também dançava em seu ritmo. Quantas vezes me permitia estar assim? Não pensar em nada, não se importar com nada, apenas observar! Geralmente não fazemos isso!

Nesse momento senti minha mente clarear… Eureka! Encontrei minha matéria! 

O Dylan não estava totalmente errado, eu não podia viver completamente em prol de remexer o passado. Eu não quero e nem vou desistir disso, mas também não posso desistir de mim mesma. 

Vai me dar seu coração? Onde histórias criam vida. Descubra agora