É engraçado como até as melodias mais delicadas conseguem se tornar irritantes, se colocadas em um despertador. Eu odeio ser acordada, principalmente quando enfim consigo dormir.
O dia de ontem me deixou exausta, pela carga que continha. A noite foi ainda mais tensa, acordei várias vezes por causa dos meus pesadelos. E quando finalmente dormia tranquila, aquele aparelhinho tecnológico vem me lembrar de que preciso despertar, não posso me atrasar para minha entrevista.
O relógio marcava às 7h quando me levantei, em meia hora estava pronta. Me certifiquei de checar pela milionésima vez o meu currículo, peguei o casaco e segui para a minha entrevista.
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O prédio da Revista Colosso não era como eu imaginava. Era diferente das construções por aqui, talvez um dos maiores prédios da região. A cidade não era marcada por grandes construções, a maioria de seus prédios são medianos, aquele era um dos elefantes brancos, um prédio espelhado e bonito.
Na portaria encontrei um senhor sorridente que recepcionava muito bem a todos, em seu papel de porteiro. "Pode seguir para o quinto andar, minha jovem", foi o que dissera, apontando para o elevador.
Ao seguir suas instruções, cheguei em um espaço repleto de mesas e um pessoal concentrado, digitando e passando papéis e informações por todos os lados. Fui em direção à uma moça loira, com os cabelos bem presos em um coque, onde não se via nenhum fio assanhado. Ela estava ao telefone, atrás de uma grande bancada. Ao me ver chegar, fez sinal com o dedo para eu aguardasse o término de sua ligação. Fiquei alguns instantes parada em sua frente, distraída com o pessoal trabalhando, até ela bater o telefone e dirige-se a mim.
– Veio para a entrevista, não é isso?
– Sim, tenho horário marcado para às 8h – respondi.
– Deixe-me ver, Maggie Baker? Vejo que é pontual! Só um minuto, eu vou te anunciar – ela coloca outro aparelho no ouvido, comunicando a minha chegada. Em seguida aponta para uma sala e me manda entrar. Dou algumas batidas de leve na porta e abro-a com cautela.
Dentro da sala, sentando em uma grande e acolchoada cadeira, atrás de uma mesa espaçosa, estava o dono da empresa. Fiquei boquiaberta quando o vi, ele era incrivelmente bonito. Tinha os cabelos em um belo tom de castanho, compridos na altura do pescoço, o que contrastava com o seu terno, lhe concedendo um ar um pouco mais despojado e jovial. Era como um daqueles atores de cinema, um dos príncipes da Disney.
– Senhor Belmont? – Perguntei custando a acreditar. Ele confirma com a cabeça e aponta para a cadeira à frente de sua mesa. Me sentei sentindo minhas bochechas queimarem, ele me encarava com seus belos e penetrantes olhos verdes.
– Trouxe algo para mim?
– O que? – questionei tentando voltar do transe. Ele dá um leve sorriso e aponta para um envelope em minhas mãos.
– Suponho que isso seja o seu currículo.
– Ah sim! – Entreguei para ele.
Fiquei em silêncio enquanto ele corria os olhos pelos papéis que eu lhe entregara. Eu não sabia como agir e nem o que falar, apenas balançava uma das pernas na tentativa de controlar o nervosismo.
– Esperava que fosse um senhor mais velho, não foi? – ele pergunta ainda olhando para o papel.
– Com uns 60 anos no mínimo! – respondo com um discreto sorriso, mas quase que instantaneamente me arrependo, arregalando os meus olhos e me questionando, por que eu disse aquilo? Mas ele pareceu achar graça, ao menos sorriu balançando negativamente a cabeça.
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Vai me dar seu coração?
Gizem / GerilimAté que ponto a mente humana é capaz de chegar para suprimir a dor de uma perda? O cérebro humano as vezes consegue mascarar lembranças pesadas, para se proteger da dor que elas causam. Mas elas sempre buscam uma forma de mostrar que ainda estão lá...