XXIII - Despedidas

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       Sempre me perguntei como deveria me sentir, ou como as pessoas normalmente se sentem em situações como esta. Eu deveria querer correr e sumir dali? Deveria chorar até esvair todo o líquido do meu corpo? 

Pensar no dever de reações esperadas é como se estivéssemos automatizando os nossos sentimentos, para que estes se moldem em ações pré-configuradas. Mas afinal, o que somos? Máquinas em embalagens modificadas? 

Quando saí da sala do xerife Benson, Josie e Dylan já esperavam por alguém que necessitasse ser amparada, mas não era assim que me sentia naquele momento. Depois do baque, talvez em decorrência da adrenalina, curiosidade, anseio por respostas, o que realmente queria era ir mais e mais à fundo nessa história. Se é uma loucura, ainda não sei. Mas eu vou continuar, por mais irracional que seja! 

Me despedi dos dois na porta da minha casa. Josie ainda cogitou a possibilidade de faltar o trabalho, e Dylan também parecia disposto a permanecer na casa. No entanto, não queria os dois lá. Precisava falar com Dominic, não poderia mais esperar. 

Dylan acabou por ser convencido de levar a irmã ao trabalho. Ainda vendo o carro se distanciar na pista, peguei o celular e liguei para o detetive. 

📱

– Alô! Dominic? 

– Sim, Srta Baker! E então, como está? Eu esperava por sua ligação, só não imaginava que seria tão cedo! 

– Preciso falar sobre o Colecionador. Ele voltou a agir! 

– Sim! Já estou ciente do fato…

– Como?

– Tenho contatos na polícia. Como estávamos investigando-o, pedi para que fosse informado de todo à qualquer atentado similar às ações do Colecionador que ocorresse. 

– E por que não falou comigo antes? 

– Qualquer pessoa estaria abalada com o fato para pensar em investigar alguma coisa; imaginei que precisasse de tempo. Ainda quer mesmo continuar com isso? 

– Com toda a certeza! Poderia vir aqui? 

– Já estou à caminho! 

📱

Esperei por ele, andando de um lado à outro na sala. Eu só pensava no que poderíamos fazer; não dava para esperar até que houvesse uma segunda vítima. 

Após cerca de vinte minutos, a campainha toca. 

– Detetive… – Dei passagem para que este adentrasse. – Conseguiu alguma informação sobre o ocorrido? 

Dominic sentou-se no sofá, observando minha inquietação. Por um momento fiquei constrangida por estar sendo tão ansiosa e incisiva em relação ao assunto. 

– Quer alguma coisa? Um copo d'água, um café? – perguntei atentando-me aos bons modos. 

– Não, tudo bem! Obrigado!... Soube que você esteve presente no momento do crime… Realmente não viu nada? – sondou ainda me observando. 

Foi efetivamente uma situação patética. No fundo, era como se precisasse fechar os olhos. Procurava tanto conhecer a face do bicho papão que assombrava os meus sonhos, e quando finalmente tive a chance me neguei a encará-lo. 

– Não!... Não o vi!... Eu… – Desviei o olhar, sentindo minhas bochechas queimarem. – Não tive coragem de abrir os olhos, só me escondi e esperei que ele se fosse. 

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