XXXIII - No Interior Da Rosa

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         Eu estava sentada no sofá encarando as minhas mãos, ainda trêmulas de nervoso. O meu rosto já estava inchado de tanto chorar, e o que saia da minha garganta não era nada além de soluços. 

Josie estava trancada no quarto, suas últimas palavras, antes de deixar a sala, foram: “Você nunca deveria ter voltado.”

 Tia Rose seguiu a filha na tentativa de acalmá-la. O que as duas conversavam trancadas, prefiro não saber. 

Até me mudar, eu e Josie éramos a sombra uma da outra. Nunca brigamos daquela forma, nem mesmo quando quebrei sua boneca favorita, ou quando fiz o trabalho da escola com outra menina. Nunca a vi daquela maneira. 

As lágrimas sempre foram sua expressão do que sentia. Quem usava as palavras como defesa era o Dylan, não ela. Isso só indicava o quão destroçada estava por dentro. 

 Era sofrido lembrar que em nossas conversas planejávamos um casamento em conjunto, fazendo o mesmo pacto que um dia nossas mães fizeram, e nossos filhos seriam igualmente planejados. O que não imaginávamos era que o distinto traçaria caminhos opostos a nossa vontade. 

Quantas vezes me vi admirando a possibilidade de união entre ela e Dominic, ambos mereciam, era tão puro e belo de se ver. 

A menina que tinha medo do amor, e um detetive que não mais acreditava que pudesse ser amado. 

Eu me coloco no lugar de Dominic, sei exatamente o que é ser atormentado pelo passado. Ele também se escondia do mundo porque no fundo, bem lá no fundo, acreditava que não merecia viver. Sim, eu sei porque senti, convivi com a mesma dor e reconheci o mesmo sofrimento. Da mesma forma que eu, o imagino sonhando as mesma cenas, na eterna tortura. 

A pequena garotinha se aproximando do pai, depositando um beijo em sua bochecha, com um olhar terno de admiração. Recebendo um carinho recíproco; pegando sua mochila decorada com toda a sua pureza de criança; correndo para o carro onde sua mãe se encontrava; não esquecendo de erguer a pequena mãozinha para dar um último aceno para o pai. E então, em um milésimo de segundo, com o rodar da chave, que apenas deveria fazer o motor do carro acordar, tudo aquilo não mais existia. Destruição, a cena doce de uma família feliz tornou-se apenas destruição. Chamas que lambiam o carro com toda a voracidade, e o encanto no olhar de um pai apaixonado pela família, tornou-se dor e desespero. 

As repetições não cessam. Os cheiros, as imagens, as sensações nunca se vão. Era a explicação pela qual eu também não conseguia esquecer das imagens que constantemente me devolviam a dor; aquele supermercado, o vazio e a culpa. 

Dominic estava renascendo com Josie. Enquanto ela se martirizava por acreditar ser imatura para ele, era o detetive que se redescobria por causa dela. E talvez, só talvez, ele tenha ido em um momento feliz, que valia por uma vida. Os dois se beijaram, ele ao menos provou um gostinho da felicidade. 

– Maggie, acho melhor nós irmos agora – Dylan falou, a voz baixa e cautelosa. Colocou uma mão em meu ombro, fazendo um carinho suave com o polegar – Dê um tempo a ela… A Josie está de cabeça quente agora, e quando estamos de cabeça quente não conseguimos raciocinar. 

Acenei, confirmando. 

– Tem razão! 

– Só para de chorar, está bem? – Passou a mão em meu rosto encharcado, tentando secá-lo – Eu odeio te ver chorando. Vou conversar com ela, a minha mãe está fazendo isso agora. Logo as coisas vão se acertar, eu prometo! 

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