Capitulo quatro

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Acordei extremamente assustado, sem sequer saber o motivo. Sentei na cama e passei a mão em minha testa, notando que dela escorria suor. Enquanto olhava ao meu redor, escutei um barulho, algo havia acabado de bater na janela do meu quarto.

Olhei rapidamente para ela e ouvi novamente o barulho, foi então que entendi que se tratava de pedras, alguém estava tacando pequenas pedras no vidro da minha janela.

Levantei rapidamente da cama e me aproximei da janela do meu quarto, meu coração disparou quando olhei para baixo e vi quem era a visitante. Era a Kirsty. Vestida com uma calça jeans e uma blusa de moletom preta com capuz, ela estava com a toca da blusa na cabeça, sorrindo e acenando para mim. Eu abri a boca, incrédulo.

Já era de noite, o meu bairro era perigoso, eu não conseguia entender como ela estava em frente à minha casa, e que me deixava mais confuso ainda era como ela descobriu onde eu morava.

Fiz um sinal para ela esperar, afastei-me da janela e saí às pressas do quarto, desci as escadas na ponta do pé, espichei o pescoço para dar uma olhada na sala de estar, e soltei um suspiro aliviado ao ver que a minha mãe estava dormindo, então saí de casa e fui me aproximando de Kirsty.

— O que você faz aqui? Como você descobriu onde eu moro?

— Eu te segui quando você saiu correndo da escola, só que naquela hora eu preferi não falar com você, estava nervoso, então decidi vir agora de tarde...

— Já é de noite! — Eu falei, preocupado.

— Não exagera, são só sete horas! Pelo jeito que você fala, parece que já são meia noite! — Ela disse, cruzando os braços e me olhando de um jeito sério.

— Você é uma garota, não deveria ficar andando por aqui... — falei. Ela então revirou os olhos e descruzou os braços para dar um soco no meu ombro.

— Para de me tratar como se eu fosse uma menininha indefesa! — Ela reclamou.

Olhei para ela com as sobrancelhas arqueadas.

— E você não é?

— Não! E se vim aqui é para te falar que eu não aceito que você decida as coisas por mim, eu que tenho que saber se quero ser sua amiga, ou não, além do mais você não pode escolher os seus pais, isso não é motivo para viver sozinho, sem falar com ninguém...

— Você não entende...

— Se você explicar, quem sabe eu entenda? — Ela retrucou, arqueando as sobrancelhas. Fiquei observando-a com um olhar sério, olhei a minha volta e por sorte não havia ninguém na rua, mas ainda assim eu não conseguia deixar de me preocupar com ela. Meu maior medo era de que alguns dos desocupados do bairro aparecessem a qualquer momento.

— Kirsty é melhor... — Eu comecei, mas me calei ao ouvir o barulho da porta da minha casa se abrindo bruscamente. Tomamos um susto e olhamos rapidamente para porta, então avistamos minha mãe aparecendo com o rosto vermelho e com os olhos parecendo de um animal feroz.

— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, MOLEQUE? — Ela já fora gritando, toda descontrolada.

Meu coração disparou, entrei na frente de Kirsty e a segurei pelo braço.

— Eu... não estou fazendo nada! — falei olhando-a com os olhos arregalados.

— Ah, não está fazendo nada? É sempre assim que começa, fazendo nada... — Ela falou daquele jeito escandaloso, que só ela tem — ainda cheira leite e já está trazendo menininhas para casa? Você não sabe que essas vadias só querem arrumar barriga? Eu não vou ser avó, tá ouvindo? — naquele momento meu rosto esquentou, e o que imaginei que nunca seria possível, aconteceu: eu fiquei mais desconcertado com o que a minha mãe estava fazendo, do que no dia que gaguejei na frente de todo mundo.

O Caminho da Esperança (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora