Dezesseis anos se passaram desde aquele dia em que fui deixado do lado de fora da minha casa. Até hoje eu nunca soube o que havia acontecido para a minha mãe não ter aberto a porta da casa para mim, já que eu nunca mais tive a oportunidade de falar com ela.
Depois que eu fui atropelado e levado para o hospital, foi descoberto que eu estava com pneumonia, e não demorou muito para descobrirem também que eu estava sofrendo maus tratos. Do hospital eu fui levado para a assistência social, e de lá fui parar em um orfanato, onde começou uma nova fase em minha vida, na qual passei de casas e casas, para no fim das contas eu não ser adotado por nenhuma família, já que eu estava velho e as famílias não queriam crianças velhas, principalmente as que já eram marcadas por agressões.
Minha mãe nunca mais foi encontrada, ela simplesmente sumiu, e então eu fui vivendo nessa vida até a maioridade. Não fiquei surpreso pelos meus pais não terem dado as caras e não terem tentado me recuperar durante esses anos todos, afinal, eles nunca me quiseram mesmo.
Eu também devo confessar que não foi tão ruim viver em um orfanato. De início, confesso que eu tive problemas para conversar com outros órfãos, mas quando passou dessa fase, pude finalmente ter mais amigos, já que as crianças que viviam ali não tinham uma vida muito diferente da minha, e isso me ajudou, pois assim eu não sentia vergonha de falar sobre mim, sobre o que passei, sobre o que eu vivi, ali eu pude ver que não era o único. No orfanato eu não precisava só ouvir, eu tive a oportunidade também de falar.
Lá eu também não era obrigado a cozinhar e nem limpar a casa, as crianças se lembravam do meu aniversário, assim como os funcionários do orfanato, eu tinha sempre com quem conversar e ninguém me fazia passar vergonha, ou gritava comigo. Foram anos bons, pelo menos o suficiente para que eu ficasse preocupado quando completasse a idade para ir embora dali.
A única pessoa da qual eu senti falta nesses anos todos foi de Kirsty, a única amiga que tive fora daqueles muros. Só havia me restado aquele presente que ela me deu e as vezes eu ficava me perguntando se ela havia guardado a outra metade do coração também. Aquele objeto me acompanhou, ano após anos, e foi embora comigo quando tive que sair do orfanato, para começar uma vida nova... sem ninguém.
Porém, para a minha sorte, no orfanato eu consegui aprender a ler, mesmo Kirsty não estando presente naquele momento, ela fez parte dessa minha nova conquista, já que eu havia prometido para mim mesmo que iria honrar esse esforço que ela teve comigo e iria aprender a ler... por ela. Foram meses e meses de luta para conseguir superar a minha dificuldade, mas também, como eu imaginava, foi emocionante quando consegui ler a primeira linha sem gaguejar.
Confesso que foi muito bom conhecer a professora de Língua Inglesa do orfanato, pois tivera paciência para me ensinar, ao mesmo tempo em que os demais jovens da minha idade não ficavam rindo dessa minha dificuldade, como acontecia na minha antiga escola.
Eu queria que Kirsty tivesse visto o momento em que li a primeira frase sem gaguejar, com certeza ela falaria: eu sabia! Eu não te disse que você iria conseguir...?
Nunca esqueci que ela sempre acreditou em mim, mais do que eu mesmo... aquilo foi bom, pois depois de eu ter aprendido a ler, consegui avançar nos meus estudos, até consegui me formar no Ensino Médio, e sair do orfanato com um diploma na mão era satisfatório, pois eu sabia que ele era o suficiente para conseguir o meu primeiro trabalho.
Eu queria ir para faculdade fazer um curso de economia, afinal, eu tinha facilidade com números e também era ótimo para me comunicar. Muitas coisas haviam mudado naqueles anos todos, o suficiente para eu me desenvolver em diversos aspectos, principalmente na comunicação. Assim que saí do orfanato, percebi que o poder do convencimento era muito importante se você quisesse se dar bem na vida.
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O Caminho da Esperança (DEGUSTAÇÃO)
Romance(LIVRO EM DEGUSTAÇÃO, DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON) Após sofrer violência física e psicológica em toda a sua infância. Peter Morris fez uma promessa a si mesmo. Quando fosse adulto e tivesse os seus filhos iria ser um pai diferente, e principalment...