— Então, garoto, por que você é tão quieto? — a garota nova, que agora sei que se chama Kirsty, perguntou para mim, olhando com atenção, parecia curiosa, tanto que eu sentia que ela me olhava como se eu fosse um objeto diferente, algo nunca visto antes e que ela estava louca para conhecer.
Eu ia colocar um pedaço de bolo de carne na boca, mas acabei desistindo, então a olhei com as sobrancelhas franzidas.
— Vai, me fala sobre sua vida... — Ela insistiu, dando de ombros. — Eu já falei muito sobre a minha!
Isso era verdade, ela ficou cerca de uns dez minutos falando sobre a sua vida sem parar. Contou-me que havia se mudado há pouco tempo para a cidade, que a sua mãe se chamava Sara, era professora de Inglês, e que ela tinha conseguido vaga de trabalho em uma escola da região, por isso elas se mudaram para cá, que os pais dela são divorciados e o seu pai, Charlie, mora em outra cidade. Ela parecia se dar bem com os dois e aceitou muito bem a separação deles, e costumava sempre passar as férias na casa do pai.
Enquanto ela falava, notei que ela movimentava as mãos de um jeito que achei interessante, parecia sentir cada palavra dita, ela era intensa, e olhá-la parecia bem mais interessante do que falar sobre a minha vida, que não tinha nada de legal na verdade, muito pelo contrário, se eu contasse sobre minha vida, provavelmente eu a deixaria depressiva.
— Eu não tenho o que falar da minha vida...
— Claro que tem, fale da sua família! — Ela pediu, apoiando o rosto em sua mão, e ficou me olhando ainda com um sorriso no rosto. Naquele momento, enquanto a olhava, o meu estômago despencou.
O que eu vou falar da minha família? Que os meus pais são drogados, que eles servem apenas para ficarem sentados no sofá, assistindo televisão e sendo sustentados pelo governo? Não era algo legal para se contar no primeiro dia em que você conhece uma menina, na verdade, não era algo legal para se dizer em nenhum momento, então simplesmente desisti de comer e me levantei da mesa.
— Deixa para outro dia, eu vou ao banheiro e depois vou ao armário pegar os meus livros para assistir a próxima aula... — falei, mas na verdade usei isso como desculpa apenas para me livrar da conversa.
— Mas você nem terminou de comer! — Ela falou, parecendo ter ficado decepcionada.
— Eu estou sem fome! Nos veremos depois... — falei, desviando o olhar, pois se eu ficasse olhando para aquela garota, iria querer sentar novamente na mesa e ficar ali, apenas olhando ela falar.
— É... então está bem! — Ela respondeu, olhei para ela e a vi olhando para baixo, parecendo mesmo desapontada com a minha atitude.
Respirei fundo, antes de dar as costas e sair do refeitório, rápido, para não desistir. Passei pelos outros alunos e, depois de sair do refeitório, andei rapidamente pelo corredor, entrei no banheiro masculino e, sem parar, continuei caminhando até chegar a divisória, entrei nela, fechei a porta e me sentei no vaso sanitário.
Soltei um suspiro, cruzei os braços e olhei para baixo, enquanto pensava naquela garota simpática de olhos escuros e brilhantes que acabei de conhecer.
Era por isso que eu nunca tinha amigos, era por isso que eu preferia ser invisível, pois eu já sabia que quando alguém falasse comigo, depois de falarem sobre eles, iriam querer que também falássemos sobre nós, e aí que morava o problema. Nunca tive o que falar de mim, nunca tive nada para falar, era até legal ouvi-los falando sobre as suas vidas, que pareciam ser extremamente diferente da minha, mas não era legal quando eles ficavam quietos e esperavam que eu falasse algo tão legal quanto eles falaram, então preferia assim, ficar sem falar nada, então para eles eu continuaria sendo um mistério, e assim eu não sentiria vergonha.
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O Caminho da Esperança (DEGUSTAÇÃO)
Romance(LIVRO EM DEGUSTAÇÃO, DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON) Após sofrer violência física e psicológica em toda a sua infância. Peter Morris fez uma promessa a si mesmo. Quando fosse adulto e tivesse os seus filhos iria ser um pai diferente, e principalment...