O Caminho da Esperança (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo seis

Só de fechar os meus olhos e pensar em meu passado, era fácil de concluir que eu nunca tive uma vida fácil, mas é como muitos dizem: às vezes nós precisamos conhecer as trevas para conseguirmos alcançar a luz, e a vida fez com que eu cresse que isso é a mais pura verdade, porque por mais terrível que a vida possa ter sido comigo em algumas ocasiões, eu ainda consegui tirar grandes lições dela, e acreditem... foram elas que me levantaram e que me tornaram o que eu sou agora.

Uma das lições da vida que considero mais importante foi que não podemos desistir do que queremos. Nunca, em nenhum momento! Eu aprendi que se você tem um sonho, precisa protegê-lo, guardá-lo como se fosse o seu bem mais precioso. Eu sei que pode parecer uma fantasia para muitos, mas eu tinha também os meus sonhos, e um deles era que eu não queria ser um vendedor de carros, ou de impressoras, pelo resto de minha vida, eu queria pensar maior, ver algo a mais, algo maior, talvez algo que ninguém tenha visto ainda, mas que eu conseguia ver, mesmo que esse sonho ainda estivesse tão longe, mas claro que sempre tem os empecilhos no meio do caminho.

Quando se quer algo, parece que sempre tem uma força maior com a intenção de tentar nos impedir de chegarmos lá, e em alguns momentos parece que sempre tem alguém para aparecer e querer destruir o seu sonho. No meu caso, a seguinte frase "você não vai conseguir" foi a que mais escutei em toda a minha vida, tanto na minha infância, como também no meu presente. Sim, o pior, e por ironia do destino, essa frase é até mesmo soltada pela pessoa que na verdade deveria me apoiar: Julia.

Por um lado, eu a entendia. Só de olhá-la eu conseguia perceber em sua expressão uma aparência de cansada, e as vezes eu desconfiava de que parte desse cansaço tinha a ver com a nossa relação.

— Bom dia, meu amor! — falei, entrando no quarto e abraçando Julia por trás, querendo ter pelo menos alguns momentos com ela, já que desde que acordou, ela não parecia ter feito muita questão de falar comigo, e alguém, claro, tinha que tentar. Ela estava se olhando no espelho, dando os últimos retoques para ir para o trabalho, dei um beijo em seu rosto, e logo ela se virou e me olhou.

— Você pode levar e trazer o Jack da escola? — Ela me perguntou. — Eu acho que terei que fazer hora extra!

— De novo? — perguntei e ela, então, me encarou com as sobrancelhas arqueadas.

— Temos contas a pagar, elas não vão esperar você conseguir vender uma impressora... — Ela disse e depois se afastou, foi até o seu guarda-roupa, abriu a primeira gaveta e pegou um par de brincos dentro do porta-joias.

— Eu sei, mas você pode esperar mais uma semana, não pode? —perguntei, então ela se virou para mim e me olhou, enquanto começava a colocar os brincos. — Olha para os seus olhos, você não dorme direito, amor, trabalhar tanto não faz bem, você também anda muito estressada e...

— Você sabe por que estou estressada! — Ela me interrompeu falando num tom, que logo eu senti como se ela estivesse jogando a responsabilidade para cima de mim. — Você acha que gosto de trabalhar tanto? Você fala como se eu tivesse outra opção!

— Mas, como eu disse, ainda estamos no meio do mês! Vendendo uma impressora eu posso pagar o aluguel, espera mais uma semana...

— Peter, você não tem certeza se alguém vai querer comprar esse trambolho! — Ela falou, agora fechando o guarda roupa e eu tive a impressão de que ela parecia mais nervosa do que antes. — Não é como vender carros, você já percebeu isso, não é?

— Eu sei, mas eu vou procurar um emprego melhor... — Eu disse, suspirando e me olhando agora no espelho, arrumei a gola da minha camisa, enquanto completava — de novo...

— Um emprego melhor, Peter? Eu nem sei se posso chamar isso que você faz de emprego! — Ela retrucou, e irritada pegou a bolsa na cama e saiu do quarto. Suspirei e saí caminhando atrás dela.