Heloísa
Escondi o meu rosto com a pesada gabardine negra e suspirei pesadamente enquanto caminhava em direção à Estação do Metro próxima ao estádio do Sporting.
Colocar-me claramente numa posição perigosa por ser informadora d'O Comando Metropolitano da PSP de Lisboa podia parecer um quadro terrível mas a situação tinha descarrilado quando fui apanhada por um agente no ato de entrega, num bairro próximo ao meu.
O acordo era simples: respondia-lhe a perguntas sobre alguns casos que a sua unidade estava a trabalhar e eu continuava livre, a viver a minha vida como se nada se passasse — até porque se eu, repentinamente, parasse de aparecer no trabalho iria parecer que, de facto, algo se estava a passar. Parte do acordado consistia também em eu não ter que testemunhar — iria, facilmente, colocar-me na lista de inimigos dos traficantes e tornar-me-ia, consequentemente, inútil para a PSP — e não tinha que me deslocar até à esquadra da unidade ou ser vista a falar com um agente de uniforme em momento algum.Era um ótimo acordo... E ou era eu a ir para a prisão por carregar algumas gramas de coca ou era um traficante de um grupo rival que, possivelmente, tinha feito algo muito pior do que entregar droga a quem precisa dela, certo? Para além disso, eu até poderia integrar um cartel conhecido mas estava completamente limpa — há cerca de dois meses mas, de qualquer das formas, limpa.
— Ei. — Proferiu uma voz grossa, puxando-me pela manga, assim que terminei de descer as escadas.
Ergui o meu olhar na direção do homem. Tratava-se do agente que me tinha acusado de posse de drogas e, em alternativa, oferecido o acordo. Os traços fortes que delimitavam o seu rosto, o nariz estreito, os fios pretos e a pele ligeiramente bronzeada tornavam-no, definitivamente, um integrante da lista de homens que, se não se encontrassem numa cadeia de poder superior, seriam meus.
Analisei a roupa que trazia vestida e ofereci um sorriso malicioso assim que o meu olhar regressou para o seu rosto. Afastei o meu cabelo, prendendo-o atrás da orelha e fitei-o com atenção, aguardando pelo tópico de interesse que o tinha feito mandar-me mensagem a combinar um ponto de encontro.— O quê que sabes acerca deste rapaz? — Inquiriu, apontando para um papel meio amassado que trazia consigo.
A caligrafia praticamente imperceptível dificultou-me o trabalho mas a ortografia do nome indicava-me que se tratava de um jovem brasileiro, tal como era o meu caso.
— Nunca ouvi falar. — Dei de ombros. — Qual é o vosso interesse nele?
— Tráfico de armas e de estupefacientes também.
— É de Amadora?
— Setúbal.
— Posso tentar saber qualquer coisa mas, sinceramente, duvido que consiga... Mas preciso de um nome.
— Faz isso. — Pediu. Num tom de sussurro, acrescentou. — O nome dele é Ivan Ovcharova... Russo, como deves imaginar.
Assenti e virei-lhe as costas, voltando a subir as escadas que levavam para o exterior da estação.
Hoje teria que passar no Centro de Treinos do Sporting visto que necessitava de entregar um pacote — extremamente bem fechado e com aspeto de ser um presente de uma fã — ao Coentrão. A probabilidade de correr mal era reduzida: vários adeptos do clube estariam lá e o ex-jogador do Real Madrid já me conhecia e sabia perfeitamente do que se tratava — afinal, fora ele a fazer o pedido.
Caminhava cabisbaixa tentando evitar olhares sobre mim. A roupa escura e a gabardine negra tornavam-me uma pessoa que passava perfeitamente despercebida entre multidões e, principalmente, numa cidade movimentada como a capital portuguesa. A brisa gélida do vento movimentava os meus fios claros que volta e meia escondiam a parte visível do meu rosto e o ruído provocado pelos meus passos apressados era facilmente camuflado pelas risadas e conversas alheias que se faziam ouvir em frente à estação.
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The Hideout | sebastián coates
FanfictionHeloísa Souza faz parte de uma rede de tráfico de drogas leves (ou não tão leves) na cidade de Lisboa, com origem no bairro 6 de Maio, na Amadora. Fábio Coentrão, apesar do seu esforço para se manter "limpo" e longe das drogas, acaba por ter recaída...