dos fracos não reza a história

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Heloísa

Adentrei o nosso armazém com um sorriso estampado nos lábios. O Marcos encontrava-se sentado sobre uma mesa com uma expressão de contentamento enquanto contava as notas que tinha na mão. Aproximei-me dele e fiz questão de retirar o que tinha arrecadado, exibindo-o à sua frente.

— Fábio Coentrão dá gorjetas! — Abanei o maço, soltando uma gargalhada em seguida. — Melhor cliente que poderíamos adquirir, estás de parabéns!

Estamos de parabéns. — Corrigiu, juntando as suas notas às minhas e pousando-as sobre a mesa. — Fizeste um ótimo trabalho hoje, Helo.

Assenti, deixando que um pequeno sorriso se fixasse nos meus lábios.

O Marcos levantou-se e levou as suas mãos até à minha cintura. Pousou o seu rosto sobre o meu ombro, inspirando junto ao meu pescoço enquanto desabotoava a minha gabardine, preparando-se para a fazer deslizar pelos meus braços, de caminho até ao chão.

— Marcos... Hoje não. — Murmurei, levando uma das minhas mãos para o seu pescoço e a outra para o seu peito. — Tenho que ir fazer uma coisa ainda hoje e...

— É rápido, eu prometo... — Devolveu, livrando o meu corpo do pesado casaco que me acompanhara durante o dia de hoje. Sem afastar o seu rosto do meu ombro, começou a dispersar beijos no meu pescoço, levando-me a, instintivamente, inclinar a minha cabeça para trás. — Estás tão tensa... Deixa-te levar.

Consenti com as suas ações e movi uma das minhas mãos até à sua nuca, permitindo-lhe que continuasse a distribuir beijos pela extensão do meu pescoço. As suas mãos percorriam o meu corpo, ainda coberto pela roupa, reconhecendo cada pormenor já anteriormente explorado por si.

A subida dos seus beijos até aos meus lábios foi feita de modo lento, passando pelo meu maxilar e queixo até finalmente terminar num linguado. O seu toque quente parecia incendiar a minha pele gélida e a cada momento me parecia querê-lo mais — algo que me soava estranhamente contraditório tendo em conta que, inicialmente, o tinha tentado afastar.

A verdade é que, para mim, o Marcos funcionava como uma droga. Eu podia recusar-me fortemente a envolver-me com ele de novo, podia evitar um contacto físico mais próximo por saber que, mais cedo ou mais tarde, o nosso envolvimento iria dar para o torto mas, eventualmente, eu iria acabar por ter uma recaída e cairia novamente nos seus braços. Era assim que as coisas funcionavam e seria assim, como um ciclo vicioso, enquanto eu trabalhasse para ele e fosse obrigada a ver aquele seu sorriso de garanhão acompanhado pelo seu físico trabalhado.

Analisei o seu abdômen, percorrendo as minhas mãos por debaixo da sua t-shirt escura enquanto dava continuidade aos beijos que ele tinha iniciado. As suas mãos firmemente fizeram os mesmos movimentos pelo meu tronco, terminando por retirar a camisola que cobria o meu corpo e abandonando-a no piso de cimento.

O armazém, repentinamente, deixou de estar silencioso. Ouviu-se o ranger do portão velho e passos que rapidamente ecoaram e dispersaram pelo interior da velha estrutura.

— Estou a interromper alguma cena? — Inquiriu, com voz de gozo, um homem cuja voz me parecia desconhecida até então mas o sotaque carregado, provavelmente russo, tornava-o menos vulgar.

— Estás. — Devolveu Marcos depois de se afastar, lentamente, de mim. Fez-me sinal para apanhar a camisola e sair pela porta do escritório enquanto apanhava as notas que tinha deixado sobre a mesa, guardando-as no seu bolso traseiro.

Assim o fiz. Apanhei a t-shirt e corri em direção ao escritório, abrindo a porta e fechando-me no seu interior.
Pela expressão na cara de Marcos, sabia que a situação iria escalar rapidamente e poderia mesmo acabar mal. A aparição repentina daquele homem — cuja cara não fui capaz de visualizar tendo em conta a rapidez com que abandonei aquele espaço — no armazém do nosso cartel como se pudesse ali entrar livremente, tinha-me deixado intrigada.

The Hideout | sebastián coatesWhere stories live. Discover now