-Ninguém assinou seu gesso
Olho para o gesso duro: ainda branco, ainda patético
Connor dá de ombros.
-Eu assino
-Ah- minha intuição me diz pra fugir- Não precisa
-Você tem uma caneta?
Minha vontade é dizer não mass minha mão me trai, abrindo a minha mochila e entregando a ele a caneta permanente.
Connor arranca a tampa com a boca e ergue meu braço. Desvio o olhar, mas ainda assim consigo ouvir o rangido da caneta no gesso, sons individuais estendendo por mais tempo do que eu imaginava. Connor parece tratar cada letra como seu Picasso em miniatura.
-Voilà- Connor diz, evidentemente finalizando sua obra-prima
Baixo os olhos. Ali, no lado do gesso que dá para o mundo, se estendendo por todo o comprimento alcançando alturas absurdas, estão seis das maiores letras maiúsculas: CONNOR
Connor assente admirando sua criação. Eu não vou estragar a felicidade dele.
-Nossa. Obrigado. Mesmo.
Ele cospe a tampa na mão, fecha a caneta e me devolve.
-Agora podemos fingir que somos amigos.
Não sei exatamente como interpretar esse comentário. Como Connor sabe que eu não tenho amigos? Como ele não tem amigos, me reconhece como igual? Ou supondo isso apenas porque ninguém tinha escrito no meu gesso ainda? Ou será que ele sabe algo sobre mim? Significaria que eu causei uma impressão nele. Claro, causar uma impressão em Connor Murphy não é o ideal, e a impressão que eu causei não é exatamente lisonjeira, mas continua sendo uma impressão é, se alguém estivesse tentando seguir o conselho de seu terapeuta e se concentrasse no lado positivo, essa reviravolta poderia ser vista como uma pequena vitória.
-Boa- digo
-Aliás- Connor diz, pegando um papel de baixo do braço -Isso é seu? Achei na impressora. "Querido e Evan Hansen." É você não é?
Estou gritando por dentro.
-Ah, isso? Não é nada. É só um negócio que eu estava escrevendo.
-Você é escritor?
-Não, não de verdade. Não é, tipo, porque eu gosto.
Ele lê um pouco e sua expressão muda.
-"Porque tem a Zoe"- ele ergue os olhos. Um olhar frio- Isso é sobre a minha irmã?
Seus lábios ficam tensos e percebo que nossa conexão momentânea se rompeu. Dou um passo para trás.
-Sua irmã? Quem é sua irmã? Não, não é sobre ela.
Com um passo ameaçador, ele diminui o espaço entre nós.
-Não sou burro, caralho.
-Nunca disse que era.
-Mas pensou- Connor diz.
-Não.
-Não mente porra. Já entendi. Você escreveu porque sabia que eu iria pegar.
-Quê?
-Você viu que eu era a única pessoa na sala, então escreveu e imprimiu pra eu pegar.
Observo ao redor.
-Porque eu faria isso?
-Para que eu lesse esse texto estranho que escreveu sobre a minha irmã e tivesse um surto, não foi?
-Não. Espera. Quê?
-E aí você poder sair falando para todo mundo na escola que eu sou louco, né?
-Não. Eu nã o...
Ele ergue o dedo entre os meus olhos
-Vai se foder.
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If I Could Tell Him
FanfictionEvan e Connor são dois estudantes que não se conhecem, mas após um mal entendido acabam se conhecendo melhor . . . Cover by: @ziksua