-Você não tem vergonha de andar comigo? Um drogado sem amigos?- Connor dizia bem triste para mim
-Não... você, assim como eu e assim como todo mundo, tem seus problemas. De pouco em pouco a gente consegue resolver
-É... talvez. Mas, me conta um pouco sobre esse negócio das cartas que você faz. Talvez melhore um pouco para mim também.
Naquele momento senti meu corpo e meu cérebro congelarem, como se o mundo inteiro estivesse em câmera lenta. Já tinha feito tantas cartas na minha vida que já não sabia mais o que eu tinha que escrever lá. Saia praticamente no automático.
-Não sei explicar direito- falei tentando ser o mais sincero possível-A princípio eu escrevo uma carta prevendo se o dia vai ser bom ou ruim com base nos meus sentimentos. Como você deve ter visto, no dia que nós nos encontramos, eu tinha quase certeza que o dia ia ser ruim, mas a Zoe foi tão gentil e aquilo realmente me ajudou bastante.
-Uau. Isso é profundo, mas ajuda mesmo?
-Eu acho que sim, dependendo da intensidade dos sentimentos que você coloca nessa carta. Tem que lembrar que teoricamente ninguém vai ler isso depois, então pode desabafar a vontade. Esse é um momento seu com você mesmo.
Estava tentando ser encorajador para Connor, pois aquelas cartas, por mais que eu tentasse, não tinham um efeito tão bom comigo, mas pudesse ser mais efetiva para ele. Fomos calados por mais uns cinco minutos até a casa dele.
Do lado de fora a casa dele já parecia um palácio. Era extremamente grande com algumas árvores do lado de fora. Uma escadinha de dois degraus levava os visitantes à porta principal da casa. Connor pegou a chave no bolso de seu moletom preto e abriu a casa.
-Bem vindo ao meu humilde lar- disse em tom de sarcasmo- não repara na bagunça.
A casa era impecável. A estrada dava para uma sala de jantar com uma mesa transparente e uma fruteira em cima. Ao lado esquerdo, via-se uma escada de vidro que foi para onde a gente foi. Os pais dele não estavam em casa, nem a Zoe.
Subimos a escadas e fomos direto ao quarto dele. Ele era colorido com posters de bandas de rock nas quais eu nunca tinha ouvido falar. Connor também parecia gostar muito de ler também pois haviam muitos livros, quadrinhos, revistas e muito mais espalhados por seu quarto. Ele não estava mentindo quando disse que era extremamente desorganizado. São nesses momentos que, ao mesmo tempo que eu era extremamente parecido com ele, eu era o completo oposto.
-Nossa, você gosta bastante de ler né?- falei para puxar algum assunto em meio ao silêncio
-Gosto. Aprendi a gostar no sexto ano na verdade. Eu costumava não ler muito mas eu percebi que quando eu saia do mundo real e fosse para um "lugar imaginário", eu me sentia melhor. Você devia fazer isso também.
-Nossa, profundo. Aliás, vou no meu terapeuta amanhã, se quiser ir como meu acompanhante acho que você pode... "um amigo próximo e confiável" de acordo com ele.
-Isso é muito legal de sua parte, de verdade. Eu não sei como te agradecer.
-Você já fez isso assinando meu gesso, foi o suficiente para me deixar melhor aquele dia.
-Mas aquilo foi a desculpa de manhã cedo.
-Mas tá valendo pra isso também.
Naquele momento Connor fez a coisa que eu menos esperava que ia acontecer. Aquilo era completamente incompatível com sua personalidade. Ele foi chagando bem devagar perto de mim e logo me abraçou. Não sabia o que sentir nem o que fazer naquele momento. Tentava abraçá-lo de volta mas o gesso me impedia.
-Obrigado- ele dizia com algumas lágrimas escorrendo de seu rosto
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If I Could Tell Him
FanfictionEvan e Connor são dois estudantes que não se conhecem, mas após um mal entendido acabam se conhecendo melhor . . . Cover by: @ziksua