Os raios solares somados ao leve cantar dos pássaros e a sensação fria e arrepiante do contato de minhas vestes molhadas contra a minha pele acordaram-me naquela manhã. Entreabri os meus olhos cobrindo a luz que vinha em direção a eles com meu antebraço e levantei o meu rosto da grama, sentindo-o um tanto quanto sujo de lama, folhas secas e pétalas da cerejeira.
Sorri quando aquele cheiro quase refrescante das flores de cerejeira recém-regadas atingiu-me as narinas. Era sempre assim depois de uma boa chuva e eu adorava aquele aroma de terra molhada, somado ao de todas aquelas plantas perfumadas encontrando na tempestade quase que uma renovação, seja do seu cheiro ou aspecto. Tudo ficava mais vivo.
—Eu amo o amanhecer seguinte às chuvas de primavera. —ouvi uma voz deveras melodiosa confessar.
Deixei com que um sorriso tímido nascesse em meu rosto ao passo em que esfregava os meus próprios olhos a fim de acordar totalmente e sair daquele estado grogue de sono. Ainda bem que era fim de semana, provavelmente eu estaria bastante atrasado pras aulas.
—Eu também amo. —respondi em meio aos bocejos. Sentei-me recostado na árvore e larguei meus braços ao lado do meu corpo.
Foi preciso alguns segundos de raciocínio para que eu entendesse o que estava acontecendo ali. Arregalei os olhos. Quem porras tinha conversado comigo? Sentindo o meu corpo arrepiar-se todo, dessa vez não sendo por causa do frio, olhei de soslaio com um medo extremo do que iria encontrar.
Virei o rosto em direção à voz. Senti meus olhos duplicarem ainda mais de tamanho, tentando controlar o meu corpo trêmulo para que eu não saísse correndo dali logo após. Não era possível! Não era!
Com seus cabelos róseos jogados desajeitados contra sua sobrancelha, as sardas tímidas lhe adornando as maçãs do rosto e o nariz, olhos castanhos escuros que me encaravam com certo conforto e encantamento... Lá estava o rapaz dos meus sonhos sentado quietinho ao meu lado com as pernas em posição de lótus. E ele tinha dois benditos galhinhos pequenos na cabeça que se assemelhavam a chifres, chifres cheios de flores pequenas de cerejeira crescendo em seus ramos! Eu estava sonhando? Tendo uma alucinação devido à febre consequente de ter passado uma noite inteira do lado de fora em meio à chuva?
Merda, minha cabeça certamente doía. Grunhi de dor.
—Você... —tentei dizer alguma coisa, mas tudo o que saíra da minha boca fora murmúrios incompreensíveis. Passei a esfregar os meus olhos por mais uma vez tentando acordar daquele sonho deveras estranho e a piscar continuamente sentindo meu coração disparar ao perceber que o rapaz ainda estava ali, ao meu lado, encarando tudo com certa... Confusão? Sou eu quem deveria estar confuso, ele era...
O rosado fizera menção de dizer algo, mas tudo o que eu consegui fazer foi afastar-me gradativamente, chutando a grama com meus pés e tateando o chão atrás de mim para que eu me levantasse e fosse correndo pra dentro de casa só para checar uma coisa. Eu precisava ter certeza de algo.
O olhar do garoto seguiu-me quando eu levantei, encarando-me de forma quase medonha e eu corri antes que a falta de ar que eu sentia se alastrasse mais, impedindo-me de fazer qualquer coisa.
Abri a porta de supetão e joguei-me pra dentro do cômodo onde ontem à noite eu havia deixado todos os meus desenhos. Encontrei o meu caderno e minha pasta junto aos meus headphones da mesma maneira que tinha deixado e peguei exatamente o que me interessava, voltando ao jardim logo após a passos vacilantes e cambaleantes. Eu me encontrava extremamente desnorteado, enjoado de surpresa. O rapaz ainda estava lá, dessa vez ajoelhado e sentado sobre suas pernas enquanto me esperava.
Aproximei-me com cautela da cerejeira e sentei-me calmamente em frente ao garoto que me encarava curioso. Engoli em seco e abri a minha pasta rapidamente tirando dela alguns dos meus desenhos esboçados. Com minhas mãos trêmulas aproximei o meu desenho do rosto do rapaz, sentindo-me empalidecer ao constatar que era realmente ele.
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under the cherry blossom tree | pjm + jjk / jikook
FanfictionDesde a infância Jeongguk fora fascinado em procurar respostas para perguntas complexas. Foi dessa forma, que em sua adolescência, ele começou a questionar a si mesmo e o porquê de se machucar tanto ao longo dos anos devido as circunstâncias familia...