II. Sonhos indecifráveis

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Os sonhos constantes que eu andava tendo com aquele misterioso rapaz de cabelos e orbes róseos nunca, de fato, me intrigaram tanto quanto nos últimos tempos. Antes, os mesmos me embalavam o sono quando eu definitivamente ia dormir a noite, agora o faziam até nas minhas mínimas cochiladas.

Até mesmo quando eu fechava as minhas pálpebras seja pra curtir as músicas indies que eu tinha em minha playlist, seja para descansar um pouco a minha visão ou visualizar algum projeto de pintura, o mesmo garoto se materializava diante delas, quase como se tivesse sido estigmatizado ali.

Quando mais crescido e entendedor do quê se passava comigo, já me perguntei várias vezes se aquilo não era uma forma de amigo imaginário que eu tinha criado especialmente para mim, com as características tão semelhantes às flores de cerejeira que sempre apareciam nos sonhos como elemento de uma forma ou de outra. Acabei por descartar a possibilidade, pois bem... Eu já era bem crescidinho agora.

E então acontecera o fator principal para atiçar ainda mais minha curiosidade e estranhamento.

Era mais um dia de aula na minha classe de desenho e pintura quando meu professor viera com o tópico que nos serviria para o esboço do dia: felicidade. Fizera um pequeno monólogo em meio a todos ali dizendo que aquele sentimento era muito relativo para alguns e muito óbvio para outros e queria saber como cada um expressaria a felicidade com suas respectivas assinaturas e traços.

Não preciso nem dizer que fiquei por um bom tempo parado diante a minha tela tentando encontrar algo que parecia tão fácil e palpável para os outros, mas que para mim não passava de uma imensa... Tela branca. Estava prestes a dizer ao meu superior que aquela seria a minha arte de hoje, a própria tela da maneira que se encontrava, intocada, de maneira quase poética, quando um clique deu-se em minha mente.

Coloquei meu headphone—já que eu nunca saía sem ele—sentindo aquela estranha e súbita corrente de inspiração perpetuar em meu interior. Focando-me na letra de Flaws do Bastille, deixei minha mente fluir junto aos lápis de esboço, a aquarela e os pincéis, fazendo com que minha arte falasse por si só.

There's a hole in my soul. I can't fill it, I can't fill it. There's a hole in my soul. Can you fill it? Can you fill it?

Há um buraco na minha alma. Eu não consigo senti-la, preenchê-la. Há um buraco na minha alma. Você pode sentir? Você pode preenchê-lo?

Algum tempo considerável depois eu havia acabado a minha pequena obra de arte. Ou a minha felicidade, como o professor tinha sugerido e eu nunca me encontrei tão intrigado ao notar o resultado de horas de pintura.

O senhor Wontae viera assim que terminara de analisar o penúltimo quadro, já que eu havia terminado por último devido ao meu transe momentâneo que durara quase metade da aula enquanto tentava descobrir o que felicidade significava para mim.

—Realmente... —Wontae começara analisando meticulosamente cada pequeno fragmento de tinta espalhada sobre minha tela recém-feita. O óculos que usava sendo ajeitado em seu nariz. —Você não cansa de me surpreender, garoto. —disse por fim, seu olhar analítico passeava intimamente pela pintura deixando-me um tanto quanto desconfortável. De certa forma, me senti violado. Como se algo pessoal demais tivesse sido exposto. —Não sei o que se passa nessa sua cabeça, temo que ninguém saiba ao certo, mas isso é... Magnífico. Intrigante. Eu gosto disso em você. —e assim retirou-se, não sem antes deixar uma leve apertada em meu ombro como forma de apoio.

Então eu fiquei ali por um considerável tempo, mesmo quando todos já tinham ido embora, encarando aquela bendita tela com uma interrogação enorme em minha testa.

under the cherry blossom tree | pjm + jjk / jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora