Naquele exato momento, Mike estava na mesa da cozinha, empurrando comida para a própria boca, derramando caldo por todo lado. Poderíamos dizer que ele encontrava-se ansioso. Os pézinhos já não tão "inhos" do garoto de quatorze anos andavam a todo vapor em direção à porta de casa, ele a abria, estava quase fora, e mais agitado que nunca, mas, antes que ele pudesse deixar o recinto, sua mãe o questiona, sendo respondida apressadamente sobre o que ele faria, o que fez com que o adolescente saísse correndo e pegasse sua bicicleta, abrindo caminho nas ruas de Hawkins. A força que Mike punha nos pedais fazia parecer que o asfalto continha agora o desenho em brasa de seu caminho. Ele parou à frente da casa. Parou; sorriu; bateu na porta, batucando gentilmente o ritmo de uma música; foi recebido pelo amoroso sorriso de Joyce Byers, que falou baixinho, sem alarmar ninguém, "ele está no quarto", e realmente estava. Michael nunca havia sentido-se tão preocupado até, bem, o verão passado, mas não é sempre que seu melhor amigo e possível amor de sua vida encontrava-se tão doente e, ainda por cima, de cama. O mais alto tinha total razão para ter seus olhinhos e seus pensamentos cheios de preocupação da mais variada. Ouviu atrás de si o som de chaves batendo na mesa e a voz da irmã conversando com Joyce e Jonathan, aparentemente Nancy Wheeler também planejava ver os Byers. Mike ignorou o turbilhão de pensamentos que o atacou para então entrar silenciosamente no quarto onde estava Will, desenhando com um sorriso de anjo e seus olhos pulando de alegria, embora seu rosto apresentasse uma palidez que muito preocupava o pequeno Wheeler, que tentava capturar cada centímetro de seu rosto. Ao lado da cama, Eleven, ou Jane, como ela preferia, lia de maneira serena uma história para seu praticamente irmão. Soltou um sorriso e uma piscadela ao ver Mike alí, e então continuou sua história, "... então o garoto entra no quarto, onde seu melhor amigo o esperava.". Will, confuso, respondeu, desviando o olhar do papel e dos lápis. "Mas Jane, você estava lendo 'A Pequena Sere-' MIKE!", e as perninhas fracas tentavam, sem sucesso, levantarem-se da cama, e Will acabou deitado, ofegante, o que fez Mike correr até ele. "Will! Você está melhorando? Vai ficar tudo bem, viu? Descansa muito.", ele abraçou-o, tomando cuidado com o corpo delicado, mas mesmo assim deixou cair os desenhos do pequeno Byers. Recolheu-os, vendo de relance um retrato de si mesmo, que o fez abrir o mais inocente dos sorrisos e corar violentamente, agraciado pelo prazer que estar na cabeça de Will provocava em seu corpo, um arrepio estranho e agradável o percorreu, quando de repente, sem notar, Michael já via-se deixando os desenhos sobre o colo de Will e beijando-lhe a bochecha e dizendo-lhe "aqui seus r-retratos bonitos, como o-o dono.". Internamente, repetia a si mesmo "o que diabos foi isso, Michael Wheeler? 'BONITOS COMO O DONO'? Tão discreto, meus parabéns, seu imbecil.", enquanto Will nem ao menos notava a batalha interna do garoto à sua frente, mas sentia-se estranhamente feliz com o gesto que lhe fora direcionado. Jane, visando cortar o silêncio que os rodeava, puxou uma conversa com os garotos, que durou a noite inteira, até que Will adormeceu sob o doce olhar apaixonado de Wheeler, que foi para casa pensando no garotinho deitado naquela cama, de olhares estrelados e sorrisos de outro mundo. Naquela noite, ele dormiu feliz.