Palavras. Mike gostava bastante delas. Talvez não fosse o melhor em usá-las, mas fazia um esforço a mais com elas. O garoto, desde pequeno, falava muito. Dentro e fora de sua cabeça. Falava sobre um assunto centrado ou sobre várias coisas bem diferentes. Falava sozinho, na calada da noite; falava pro mundo, quando começava a tagarelar para quem quisesse ouvir; gritava aos quatro ventos, correndo como uma criancinha sob a luz do Sol; ou contava, aos sussurros entre classes, detalhes a Will, que o ouvia com toda a atenção do mundo. Basicamente sua cabeça era feita de palavras. Era como se constantemente ela gritasse, um grito interno, silencioso e abafado pelo filtro que o impedia de falar o tempo inteiro. Will adorava esse detalhe no garoto.
Quanto a Will? Will era um bom ouvinte. Raramente falava, preferia reparar no resto do mundo. Sua cabeça era silenciosa, e ele gostava disso. Confusões o deixavam triste. Então ele dedicava seu tempo a coisas que nunca o fariam sentir assim. Desenhar, ler, ouvir música e, acima de tudo, ouvir seu melhor amigo, Mike, falar por horas a fio. Ele gostava de ver a animação dele ao falar sobre absolutamente qualquer assunto, isso desde pequenos. Gostava de ver as sardas praticamente pulando de seu rosto quando o assunto era visivelmente de seu interesse, gostava de ver Mike sorrir, gostava de ouví-lo cantar, sussurrar, gritar, rir, mas, principalmente, gostava de quando Mike falava sobre Will. Gostava de se sentir importante na vida do garoto. Gostava de fazer parte daquele emaranhado de palavras tão bonito, recitado por uma voz angelical, e, quando isso acontecia, os garotos agradeciam, com sorrisos, por terem um ao outro em suas vidas.