Primeiro Contacto

1 0 0
                                    

Passaram-se dois dias e eu deixei de me sentir cabisbaixa. Estou a ficar melhor no que diz respeito a ignorar os vizinhos e oiço um clique lá fora. Estou no meu sofá, ainda mergulhada n'O Senhor das moscas. Felizmente, estou quase a acabar. O Ralph está na praia à espera de uma morte violenta. Estou tão desejosa que o livro acabe para poder ler outra coisa, uma coisa mais alegre, que até ignoro o som. Minutos mais tarde ouve-se outro clique, desta vez mais alto. Pouso o livro e fico a ouvir. Três cliques, quatro, cinco, numa sucessão rápida. Está qualquer coisa a bater na minha janela. Granizo? Levanto-me e, em vez de pensar mais no assunto, vou até à janela. Puxo as cortinas para o lado.

A janela do Olly está aberta, a persiana está subida e as luzes do quarto estão apagadas. O indestrutível Bolo Caseiro está sentado no parapeito com uns olhos muito abertos a olhar para mim. O Bolo estremece e debruça-se para a frente como se estivesse a medir a distância a que está até ao chão. Recua e estremece mais um pouco. Estou a tentar encontrar o Olly no seu quarto escuro quando o Bolo salta do parapeito e mergulha em direção ao chão. 

Suspiro. Será que o bolo se acaba de se suicidar? Estico o pescoço para ver o que lhe aconteceu, mas está muito escuro e não consigo ver nada.

Nesse momento, uma lanterna ilumina o bolo. Parece impossível, mas continua intacto. Será feito de quê? Talvez tenha sido boa ideia não termos tentado comê-lo. 

A luz apaga-se e olho para cima, mesmo a tempo de ver uma lanterna a voltar para dentro e a mão do Olly enfiada numa luva preta. Fico mais uns minutos a olhar à espera que ele volte, mas não volta.

Tudo, Tudo e NósOnde histórias criam vida. Descubra agora