Capítulo X

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Peregrina não esperava receber um papel. Receber o papel de "namorada do Pietro" não estava em um de seus incontáveis planos. A alienígena não sabia o que significava "namorada", porém, optou por manter-se calada enquanto o Campbell dialogava com a idosa funcionária ─ no qual ficara minuciosamente eufórica com a falsa notícia dita pelo loiro recém-chegado.

— Estou muito feliz por você ter encontrado alguém, meu filho. — comemorou Dorothy com um singelo sorriso formulado em seus lábios adornados em rugas visíveis nas laterais. — Aposto que sua mãe e seu pai irão adorar saber disso.

Um falso sorriso se formou nos lábios masculinos com a conclusão alheia, o que não passou despercebido pela jovem e estupefata alienígena. Um sentimento repleto de agonia e melancolia instalava-se no corpo da senhora, que abaixara sua cabeça em meio à um sorriso que adotou uma repentina tristeza logo em seguida. Pietro pigarreou.

— Meus pais estão em casa? — indagou o rapaz ao pressionar o ombro feminino da alienígena com sua canhota, colando o corpo feminino ao seu. — Preciso falar com eles ou com um deles.

— O senhor Christopher teve de retornar para o quartel com urgência. — respondeu a mais velha ao erguer sua cabeça. — A senhora Lilian chegará em algumas horas, e irá demorar um pouco. Mas venham, irei fazer um lanche para vocês dois.

{...}

A explosão de sabores em sua cavidade bucal fazia com que Peregrina suspirasse em satisfação. O preparo do sanduíche natural de Dorothy ao ver da alienígena, era divino. Obtinha certas dúvidas em relação aos dotes culinários dos terráqueos, e agora obtinha total certeza de que o dom culinário era algo no qual os terráqueos tinham de especial. Depositando o sanduíche recheado por embutidos light e verduras sobre o prato branco, a mão feminina agarrou o recipiente de porcelana, no qual um líquido claro e quente preenchia o recipiente.

— Por que você me chamou de "namorada"? — perguntou a jovem ruiva após bebericar poucamente do claro líquido. Sua face retorceu-se com a dor instantânea que se instalou em sua língua. Quente! — O que significa "namorada"?

— É... quando você se relaciona amorosamente com alguém que não é da sua família. — explicou o loiro ao limpar os lábios com um guardanapo depositado ao lado do prato de tonalidade branca. — Nós terráqueos costumamos nos relacionar desta forma. E... eu te chamei assim para despistá-la. Bom, se é que seus olhos conseguiram ter a proeza de não estragar minha tentativa de despistá-la.

Os globos resplandecentes rolaram em órbitas após a explicação alheia sobre o nome esquisito no qual o Campbell lhe dera. Não imaginava-se sendo namorada de alguém. Afinal, ninguém gostaria de se relacionar com uma alienígena estranha, certo? Espero nunca ter de namorar alguém. Falei certo?

— Existiam várias formas para despistar alguém, mas ela deve ter sido despistada sim. Só você ou seus amigos conseguem ver meus olhos brilharem. — comentou a extraterrestre dando mais uma mordida em seu sanduíche natural, mastigando-o calmamente. — Aliás, você disse que sua mãe pode nos ajudar. Como ela pode nos ajudar?

Pietro deu de ombros como resposta, resultando em um bufar malogrado por parte da alienígena. Peregrina concentrou-se em devorar o seu lanche, adotando o silêncio enquanto degustava do alimento e bebida quente.

— Por que você está querendo saber da sua origem? — indagou o rapaz em uma confusa entonação.

— Como assim?

— Bem... se você nasceu em outro planeta, não tem muito o que procurar por aqui que esteja relacionado à você. — supôs o loiro.

Os olhos azuis brilhantes de Peregrina fecharam-se com a resposta masculina. Com o pouco tempo convivendo com o grupo de terráqueos, acreditava que o motivo de sua busca estava tão claro como a água. Colocando a xícara sobre a mesa escura, a mão destra feminina fora levada aos fios vermelhos de seu couro cabeludo, onde enroscaram-se entre os dedos longos da alienígena.

Peregrina [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora