Peregrina [Em Andamento]

Capítulo II

Ser pega no flagra não estava em seus planos. Amaldiçoava-se por ter ignorado a ideia de trancar a porta antes de iniciar o processo de contato imediato. Abaixando seus braços antes erguidos em ângulos de noventa graus, seus lábios separaram-se, expelindo de sua cavidade bucal um suspiro esbaforido. Entretanto, não recordava-se da grande quantidade de água que custou para mantê-la pairando no ar. Seus globos azuis resplandecentes arregalaram-se no momento em que o líquido transparente ─ agora gélido. ─ perdera a "gravidade" e caíra como cascata pelo território estudantil. Pietro não fora salvo do grande tsunami que se proliferou no recinto, assim sendo atingido pela densa quantidade de água que caira do topo. Pietro vai me odiar muito.

Recompondo-se aos poucos, Peregrina avançou vagarosamente até o loiro ─ no qual esforçava-se para manter seus longos fios encharcados afastados de sua face ─ saltando as poças que se formaram no chão branco do laboratório. Apesar de tudo, não estava afim de molhar suas vans com o líquido espalhado pelo solo.

─ O que você está fazendo aqui? ─ esbravejou enquanto encarava o mais velho furiosamente. ─ Não viu a porta fechada?

Os globos azuis masculinos direcionaram-se à Peregrina. Não fora difícil identificar a fúria e confusão mescladas ao intenso mar azulado dos olhos do rapaz totalmente encharcado e estirado sob uma poça d'água. Por mais irritada que estivesse, tinha receio de que seu segredo tivesse sido parcialmente descoberto devido à uma tentativa de contato imediato.

─ Este lugar é público, Lorena. ─ rosnou Pietro em um timbre irritado. ─ Mas a questão é: como você fez isso?

Droga, pensou Peregrina ao mordiscar seus lábios cheios e rosados. Não sabia se aquele garoto poderia ou não ser confiável. E preferia acreditar na segunda opção ao invés de revelar que era uma alienígena maluca que tentou fazer contato imediato com seus pais de um universo paralelo. Muito melhor permanecer quieta do que ser motivo de chacota por parte do Campbell.

─ Não sei do que você está falando. ─ rebateu Peregrina visivelmente nervosa por não obter uma desculpa plausível pelo ocorrido. ─ Talvez você estivesse delirando.

Pietro franziu o cenho em silêncio enquanto encarava a ruiva. Estava tão claro de que não existia uma escapatória dessa vez?

─ Como você fez isso, Lorena? ─ indagou o rapaz novamente ao levantar-se cautelosamente. ─ Não adianta tentar me enrolar. É melhor que não queira ter um nerd desconfiado em sua cola.

Peregrina suspirou, rendendo-se no mesmo instante. Afinal, não tinha como escapar depois do que o loiro presenciou há minutos atrás. Tinha sido descuidada e idiota por não ter cogitado a ideia de trancar a porta do ambiente atualmente alagado e destruído. Deu de ombros ao afastar-se de Pietro, que automaticamente emanou um ar curioso com o ato inesperado da mulher. Irei me arrepender amargamente disso.

─ Eu.. ─ hesitou Peregrina sem desviar o olhar dos escombros espalhados pelo recinto. ─ acho melhor lhe contar sobre isso uma outra hora. Não acho que seja uma boa ideia te contar tudo aqui.

Pietro bufou irritado, assentindo contragosto. A curiosidade que o corpo masculino emanava era notável aos olhos de Peregrina. Não o culpava, já que tinha implantado a curiosidade no rapaz. Em momento algum deveria ter cedido a contar tudo para um garoto no qual a mesma nem conhecia e muito menos ia com a cara.

─ Tudo bem. ─ respondeu enraivecido. ─ Mas por que você-

A ruiva agarrou o pulso do rapaz ao avançar apressadamente até um dos armários ─ no qual Peregrina perguntava-se como teria conseguido resistir à queda d'água. ─ onde abrira as portas metálicas antes de adentrar no objeto estreito juntamente de Pietro. Cabia à eles dois permanecerem em silêncio, ou tentarem não derrubar nenhum livro didático daquela estante. As reclamações de Pietro eram ignoradas pela ruiva alerta enquanto tentava confirmar o ruído oriundo do corredor. Bingo.