Visita inesperada - Sarah

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- Você está com febre Sarah, não deve sair.

- Mas é só uma febre mãe, não quebrei minhas pernas para não poder andar.

- Não vai sair dessa casa hoje mocinha!

Perfeito, tinha que ficar doente. Passar o dia em casa com a minha mãe era a última coisa dos meus planos, não que a minha mãe fosse chata, mas sim, ela sempre foi chata demais.

Já que não tinha o que fazer, resolvi ler alguns textos que o David tinha me emprestado.

Qual parte do "Não se apaixone!", você não entendeu? Até que ponto você vai permitir que o coração te comande? Se liga, quem manda é você, não deixe o seu coração brincar de te fazer sofrer, você pode escrever a sua história. Não permita que ninguém te magoe com uma paixão inesperada, não se apaixone por quem estiver com placas, "Não se apaixone!".
Aprenda a criar regras que o seu coração deve seguir, e no mais, siga as regras você também. O amor tem que vim do cérebro, e não de um órgão feito apenas pra pulsar o sangue. "Não se apaixone!"
E só pra dizer algumas verdades que a humanidade deve ouvir "Não se apaixone!", a paixão só vai te fazer sofrer.

Fiquei me perguntando como alguém poderia escrever para mim sendo que nem me conhecia, todos os textos do David sempre pareciam mais comigo do que com ele, parecia que ele queria jogar umas verdades na minha cara.

Depois do almoço, com muita relutância minha mãe permitiu que eu ficasse um pouco na varanda, como não tinha muito o que fazer fiquei apenas observando alguns pássaros e torcendo para as horas passarem logo.

- Tem alguém querendo te ver, ele disse que se chama David, e é um rapaz muito bonito.

Finalmente alguma distração, mas o que ele estaria fazendo aqui quando deveria estar no colégio?

- Pode deixar ele entrar, e contenha seu sorriso, eu não vou namorar com ele.

- Eu quero muitos netos Sarah.

Quando o David entrou, minha mãe nos deixou a sós, ainda com um sorriso malicioso nos lábios.

- Você não deveria estar no colégio David?

- Fiquei sabendo que você estava doente, e queria te ver.

- Perda de tempo, me ver demais vai estragar o seu juízo.

- Meu juízo nunca foi certo mesmo. E eu trouxe isso pra você.

Ele tirou uma flor da mochila, era linda, porém linda e delicada demais, e rosa, a cor que eu mais odeio.

- Flores secam David, elas murcham e morrem, e enquanto vivas, são tão frágeis e inúteis. Ela estaria bem melhor se ainda estivesse presa a sua raiz, talvez alguém achasse ela bonita.

- Nossa! É só uma flor Sarah, mas se não quer, tudo bem.

Então ele jogou a flor pela janela, fazendo o meu coração ir junto, eu não queria magoar aquele garoto, mas não podia deixar ele se apaixonar por mim, preferia ser apenas mais uma, do que fazer ele sofrer não sendo amado. E o pior é que talvez eu tenha dado alguma corda no início, e talvez ele já estivesse enforcado.

- Você está bem Sarah? A sua mãe falou que você não podia nem sair da cama.

- Exagero dela, tanto que estou aqui na varanda e não lá, eu estou ótima David.

- Realmente parece ótima, até o cabelo está arrumado hoje.

Na verdade eu nem tinha penteado o cabelo, e ele estava todo embaraçado e com os fios espalhados para todo lado, estava bem pior que o normal.

- Bom saber que você tem senso de humor, deveria virar comediante.

- Só se você virar minha assistente, e andar sempre com o cabelo assim do meu lado, acho que já é o suficiente pra espantar os fãs chatos.

Levantei para dar alguns socos nele, mas não consegui, minha perna fraquejou antes que pudesse alcançá-lo, por sorte o David me segurou, suas mãos fortes na minha cintura me fizeram lembrar da sua fala outro dia: "só te ajudei pra poder pegar na sua cintura", ele me colocou de volta na cadeira e sentou ao meu lado.

- Você tem que se cuidar garota, está muito frágil. Se eu te agarrasse agora você nem teria forças para se defender.

- Mas teria força suficiente pra dar um chute nos seus testículos.

- Me lembre de nunca te agarrar um dia! - Fez uma cara de espanto, bastante falsa por sinal.

Ficamos conversando sobre livros e poesias, chegamos a conclusão de que Fernando Pessoa é o melhor de todos os poetas.

- Acho que já vou indo, ainda tenho que ir ajudar meu pai.

- Menino prestativo, tão bonitinho ajudando o pai.

- Bonitinha é você parecendo uma velha sem conseguir levantar.

Pensei em levantar e lhe dar alguns tapas, mas ele já estava longe, me mandou um beijo antes de sumir pela porta.

Eu poderia facilmente me apaixonar por aquele garoto, e é exatamente por isso que eu não o faria, quando a paixão é fácil, ela vai embora mais fácil ainda.

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora