O Conjurador de Mãos

Capítulo 03 - Balbúrdia

Durante alguns instantes nada foi visto por Leyraq, somente um clarão cegou sua visão rapidamente, porém naqueles instantes sentiu como se houvesse passado milênios. Jogou-se no chão. As sete fases de luto passaram por sua mente em questão de poucos segundos, mas algo que não lhe contam é que o choque pela perda sempre retorna. Enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, começou a traçar mais uma vez um círculo arcano para teletransportar-se até o círculo que havia acabo de realizar. Se a sorte estivesse do seu lado, conseguiria realizar o vínculo antes que a energia desaparecesse por completo. 

"Não! Pare de ser estúpido, Leyraq!" Ainda no chão, bateu a cabeça com força contra a parede mais próxima. Era rochoso e nada lapidado, exatamente como Wesser gostava. Ela sempre dizia que um dia, depois de velhos, morreriam juntos na caverna em que ela havia morado durante os anos em que estudava a magia natural. A mente de Leyaq começou a jogar memórias, fazendo suas mãos tremer e as lágrimas o cegarem quase por completo. "Eles já terão destruído o círculo, não adianta tentar ir para lá! O quarteirão inteiro fora destruído..." 

Olhou ao seu redor e percebeu que estava sozinho e no escuro, somente bem longe era possível ver um pequeno raio de luz entrando em uma antecâmara esculpida naturalmente. Riu um pouco, como um idiota, ao saber que estava melhor sem ter a habilidade de ver no escuro, pois perderia o controle se visse algum tipo de objeto que iniciasse mais outra memória de sua vida junto a Wesser. 

"Isso, minha vida com ela..." Socou o chão com seus pequenos punhos e continuou a conjuração do portal, mas dessa vez o destino era outro um pouco mais longe que o primeiro. "Eu disse que seria uma boa ideia! Me chamou de exagerado, ainda por cima! Vou provar pra ela, isso eu vou!"

Lentamente cada runa mágica, inscrição arcana ou especificação de mandinga poderosa fora feito. Demorou bem mais que aquela feita alguns minutos atrás, Leyraq estava queimando muita magia e precisava guardar se quisesse salvar Wesser. Sabia que era um risco, mas seus inimigos arriscaram bastante e se forem afobados serão fáceis de lidar.

O portal ainda abria e o conjurador já estava pronto para saltar e continuar seu progresso. Outro empurrão lhe atingiu, assim como o clarão. Desta vez, a primeira coisa que sentiu quando o corpo estabilizou fora a chuva forte que continuava caindo sem cessar e deixava o barulho da cidade mais abafado. Seus olhos voltaram a ver seus arredores e a magia funcionou mais uma vez, estava na taverna que construía com sua esposa. Isso encheu Leyraq de determinação e não pode deixar de escapar que só poderia ser um sinal positivo, que tudo ficaria bem no final.

Deu alguns passos em direção ao seu destino, mas frustrado teve que voltar mais rápido ainda. Lembrou de algo que, sem dúvida alguma, lhe ajudaria neste momento de dificuldade. Voltou até o círculo que havia criado e sugou a essência da magia de volta para seu corpo, não podia deixar algo tão precioso assim quando agarrava-se na esperança. 

"Isso deve bastar, ao menos até lá..." Suspirou e seus olhos começaram a exalar uma fumaça roxa. Logo em seguida seu corpo desapareceu, como se a realidade piscasse por um segundo, e sua silhueta era visível escorregando em um prédio próximo sem qualquer aptidão para isso. 

Quando um telhado terminava e a queda começava, desaparecia mais outra vez e surgia ou no chão ou em outro telhado. Desviava de pessoas, roupas e fantasias que o tempo todo surgiam em seu caminho, algo que deixava Leyraq irritado. Devido a situação, não tinha paciência alguma para ser delicado ou educado e diversas pessoas foram empurradas ou surpresas para que o caminho fosse livre. 

O estranho rastro de fumaça era a única coisa que não gostava nessa magia, mas precisava admitir que usar a si mesmo como a tela em que marcou na pele suas  runas de teletransportação de curta distância fora uma ótima ideia. Muito mais rápido que alguém treinado e sem o risco de exaustão física, somente mental.