Mais um mês

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Ela tinha os olhos sobre ele, aqueles olhos que falavam mais que a própria boca, não era mulher de meias palavras, ao contrário, era o que mostrava ser, independente do seu estado de humor, que naquele instante era um dos piores do mundo. Há cinco dias havia avisado de sua partida, porém, seu ex namorado, ou melhor, seu chefe, sentado naquela cadeira macia e muito bem estruturada implorava por sua permanecia. As vezes lidar com mentes deixava sua mente completamente cheia.

— O que quer que eu faça, Kakashi? — ponderou sem pestejar, ela queria poder mandá-lo ao inferno, mas se fizesse isso talvez fosse junto com ele. — Você tem um paciente especial e não sabe o que fazer? Francamente, pensei que fosse o diretor.

— Temporário. — o albino voltou a explicar, daria tudo para poder agarrá-la e convencê-la a ficar de uma outra forma, mas se havia algo que ele jamais se permitia fazer, isto era misturar o pessoal com o profissional. — Você é minha melhor psiquiatra, não te pediria esse favor se não fosse realmente necessário.

— Kakashi, eu tenho uma vaga no hospital de Suna me esperando, não posso me dar ao luxo de permanecer aqui por mais tempo. — lembrar da vaga numa cidade longe deixava o Hatake ainda mais desnorteado.

Pessoas normais talvez quisessem estar mais perto de quem ama, e apesar de Sakura amá-lo, ela tinha decidido que tornaria sua vontade de construir uma família real, e apesar de tudo, não dava para fazer isso ao lado do ex namorado.

Todas suas amigas já tinham casado, com excessão de Tenten, que ainda enrolava o bonitão do namorado com o pretexto de terminar o mestrado, mas ainda assim este era um motivo mais que plausível. Kakashi cresceu praticamente sozinho, o seu maior espelho de família era o mestre, Minato, que também era pai de Naruto, um dos amigos da Haruno, um dos muitos que também já havia casado e inclusive a esposa já tinha um filho e esperava o segundo.

Para uma mulher como Sakura o quesito enrolar era como pedir para que sofresse. O Hatake fora seu primeiro namorado, ele uns anos mais velho, mas ainda assim um bom namorado, sempre preocupado com o bem estar da parceira e com seus pensamentos, porém um amor jamais é feito apenas de sexo e paixão, para Sakura as coisas eram bem diferentes, tinha a ideia fixa de ser mãe, de crescer dentro de um casamento bem construído, até pelas brigas de casados ela ansiava, porém, Kakashi estava longe de querer algo do tipo. Isso os levou a um término definitivo, apesar de recente, a mais nova arrumou uma vaga num hospital em Sunagakure para que pudesse ter a sonhada mudança de vida, afinal, quem sabe se mudando ela tivesse a oportunidade de encontrar o homem dos seus sonhos, porém, convenhamos, isso não existe.

— Pode pedir a eles mais um tempo. — o mais velho apoiou os braços sobre a mesa e se levantou com calma. — Apenas um mês, a Doutora Tsunade está em lua de mel, quando ela voltar você pode ir. — ele dizia tais palavra sentindo que elas fossem engasgar e jamais sair, mas precisava dizer.

— Somente um mês! — esbravejou de forma moderada. Ele acenou positivo e voltou a se sentar, as orbes castanhas caíram sobre a Doutora Haruno, uma mulher estonteante, linda, madura, a mulher que ele deixou escapar. Os cabelos cor-de-rosa desciam já pelo meio das costas, mas ele se lembrava de quando eles eram pequenos, os olhos num tom de verde vivo brilhavam oferecendo alegria, mas ele próprio já havia provado a cor negra da tristeza que eles podiam transbordar. — Tem a ficha do paciente? — a mulher estalou os dedos chamando-o daquele devaneio que o consumia.

— Claro... — buscou entre os papéis algo sobre o seu mais novo caso e em seguida a entregou. — Ele se chama Sasuke Uchiha.

— Uchiha? — ela ousou repronunciar o nome. — Mas essa família não tinha...?

— Sim, ele foi o único sobrevivente do massacre. — o albino explicou. Por um instante Sakura sentiu que havia aceitado a proposta errada, um arrepio subiu por sua espinha a obrigando tremer um pouco enquanto lia os documentos. — Com medo? — Kakashi riu sarcástico. — Pensei que não tivesse mais isso.

— Não é medo. — ela rebateu um tanto chateada. — Só não gosto de me envolver nesse tipo de caso, geralmente assuntos inacabados acabam.

— E com toda certeza eles virão atrás justamente da psiquiatra do seu alvo. — o ex namorado riu e ela teve uma grande vontade de bater nele usando as folhas, mas se lembrava bem que elas não machucavam muito. — Ele é somente um pouco perturbado por causa de toda essa confusão, creio que não será difícil para você.

— Tenho certeza que não. — admitiu. Kakashi era muito seguro de si, e ainda mais dela, não se duvida da mulher que ama. — Até depois, senhor diretor.

A frase soou como farpa, mas apesar de não ser o real sentido dela, ela própria gostava que soasse assim. Tomou caminho pelo corredor da área administrativa da clínica, precisava retornar as vestes comum de uma médica, mas antes que pudesse repor as ideias e fazer planos de como abordar o paciente ela sentiu seu braço ser agarrado e ao se dar conta havia uma loira de enormes cabelos presa em seu braço.

— Como foi? — Ino perguntou já curiosa. Sakura a olhou sentindo um pouquinho de inveja, a Yamanaka usava um dos típicos jalecos brancos, mas ainda assim seu corpo era bem marcado por ele, e pior, a aliança dezoito quilates brilhava chamativa na mão esquerda da loira.

— Ficarei por mais um mês. — ela jurou ter ficado surda com a empolgação da amiga, mas tinha que admitir que estava feliz.

— Mas e entre ele e você? Resolveram? — a Haruno negou com a cabeça enquanto enfiava em seu armário a chave para abri-lo, tirou de lá suas vestes e sem demora as colocou. Uma flor cor-de-rosa era esbanjada ao lado do bordado do seu nome. — Como não?

— Ino, eu já te expliquei o que eu queria. — ela revirou as duas esmeraldas de seu rosto e mostrou um expressão cansada.

— Tudo bem, você disse para mim que queria casar, mas já experimentou dizer isso a ele? — era o cúmulo, então ela teria que pedir para ele a pedir em casamento? Isso não fazia sentido algum.

— Tenho um paciente novo me esperando, Ino, nos falamos mais tarde.

Quanto mais fugia do assunto mais ele parecia a atormentar, não havia porquê ela ter tal atitude e mesmo que Ino tivesse razão, tudo agora já estava acabado, não tinha como voltar no tempo. Ela atravessou o corredor pedindo aos céus que chegasse em sua sala sem ser abordada por mais ninguém, e conseguiu. Descansou o corpo sobre o conforto de sua cadeira e desbloqueou o celular enquanto folheava a ficha do Uchiha. Seu primo havia mandando algumas mensagens perguntando sobre a ida da menina para a nova cidade, porém, ela pretendia explicar a ele a situação durante seu horário de almoço, agora ela tinha apenas um objetivo: focar em seu mais novo paciente.

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