Capítulo 5 - Tremor

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Ana Luísa acabou aceitando a sugestão de Beto sobre os encontros de estudo. Sem que percebessem o tempo passando, já haviam se passado três semanas desde começaram a se ver no clube e, felizmente, até o momento, ninguém conhecido os vira.

Em uma tarde de quarta, Ana fez o mesmo trajeto até o clube e parou no portão, o encontrando fechado. Notou uma folha grudada nele e aproximou-se para ler. O clube estava fechado para manutenção e só voltaria a funcionar dali a duas semanas. Então, os estudos teriam que ter pequenas férias.

— Ué, tá fechado? — Ouviu a voz de Beto e virou-se, o vendo caminhar em sua direção. Ao chegar, também leu o informativo e encarou Ana. — E agora?

— Teremos que dar um tempo nos encontros.

— Quê?! Não, não podemos! — Arregalou os olhos.

— Não tem outro lugar para ficar...

— Tem que ter. Agora que eu estou vendo o resultado dos estudos, não podemos parar, ou eu vou voltar para a estaca zero.

Ana o observou, tentando pensar em alguma solução para aquele problema. — Eu não conheço outro lugar.

— Então... será que não podemos ficar na minha casa? E-eu juro por tudo que é sagrado que eu não vou fazer nada com você — disse rapidamente ao notar a garota ruborizando. — Eu só não quero parar de estudar.

— Hm... Bom... É longe?

— Não muito... Olha, eu quero que a gente vá, mas não quero que você se sinta obrigada.

Ela soltou o ar pela boca, rapidamente. — Não, tudo bem. Podemos ir sim.

— De verdade? Mas você quer mesmo? — indagou, incerto.

— Sim, eu quero ir — afirmou, desviando o olhar para o chão.

— Tá... Espero que você esteja sendo sincera. — E Beto acabou deixando escapar um sorriso divertido. — Vem, vamos.

Sem dizer mais nada, Ana caminhou ao lado dele por cinco minutos, até chegar na casa. Beto destrancou o portão com suas chaves, entraram e destrancou a porta principal, que dava para a sala.

— Bem-vinda ao meu cafofo — disse ele, tirando a mochila e a colocando em cima de um dos sofás cor creme.

O lugar era bonito e arrumado. Não era luxuoso ou simples. Era... normal. Dois sofás acompanhados de uma mesa de centro de vidro, uma televisão smart na parede, abaixo de um aparador de duas prateleiras, alguns porta-retratos pendurados acima do aparelho...

— Quer alguma coisa? Água, refrigerante...?

— Não, obrigada. — Ana andou timidamente até o sofá e se sentou. — Vamos ficar aqui?

— Sim. A menos que você prefira uma escrivaninha, mas aí temos que ir para o meu quarto.

— Aqui está ótimo — falou rapidamente, puxando a mochila ao mesmo tempo que ia para o chão. Pegou seu material e o deixou na mesinha, assim como Beto, logo depois de ligar a televisão em um canal de música antiga e deixar o som baixo.

Assim como fariam na biblioteca, começaram a estudar e fazer algumas atividades. No meio tempo, Beto chegou a trazer alguns salgadinhos que acabara comendo sozinho, já que a garota recusou fielmente. Mesmo que ela tivesse dito que não tinha problemas com seu peso, detalhes como aquele chamavam sua atenção para o assunto, porém, não falaria sobre novamente. Não queria ser inconveniente e nem que ela achasse que aquilo o incomodava de alguma forma.

Enquanto o menino respondia algumas questões de biologia, Ana encarou suas anotações da aula sentindo um leve calor na nuca. Afastou os cabelos para o lado, tentando refrescar a região, sem sucesso. O calor aumentava gradativamente ao mesmo tempo que sua boca ficava seca, como se não bebesse água há dias. Fechou as mãos em punho ao notar que começaram a tremer. Respirou fundo, sem fazer barulho e tentou se acalmar.

— Onde fica o banheiro? — perguntou ela, quase sussurrando.

Beto levantou a cabeça para olhá-la. — É só seguir reto, segunda porta à esquerda.

Ana levantou antes que ele percebesse algo diferente e seguiu para onde ele instruíra. Passou pela cozinha, entrou em um corredor e seguiu para a segunda porta. Entrou, fechando a porta em seguida e encarou sue reflexo no espelho grande. As mãos ainda tremiam, assim como seus joelhos.

Seus olhos estavam arregalados. Piscou algumas vezes, tentando focar sua atenção. Um formigamento começou a surgir pelos dedos, subindo pelos braços e pernas. As mãos ergueram-se, quase em uma espreguiçada automática, e fez força para travar os músculos, mais força do que jamais fizera antes. Se concentrou o máximo que pode e destrancou a porta, saindo voltando rapidamente para a sala, assustando Beto, tanto pela entrada como pela súbita recolhida de materiais.

— D-desculpe, eu preciso ir para casa — gaguejou Ana, colocando tudo na mochila de qualquer jeito.

— Por quê? O que foi? Você tá bem? — questionou, alarmado, levantando-se.

— S-sim. E-eu preciso ir. Por favor. — Direcionou-se até a porta e saiu da casa, sem esperar pelo anfitrião.

Sem entender, Beto pegou suas chaves e destrancou o portão. — Quer que eu te leve...

— Não, eu vou mais rápido sozinha. Depois conversamos. Até amanhã.

Não houve resposta, já que a garota praticamente correu para a rua. Beto parou na calçada, observando até que ela desaparecesse na esquina.

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