Beto ficou pensando sobre sua descoberta o fim de semana todo, pensando e imaginando como seria se ele tentasse demonstrar seu interesse, se ela recusaria, se ficaria envergonhada demais para falar algo, ou se aceitaria. Claro que ele temia levar uma negativa e acabar estragando a relação que eles construíram. Mesmo que tivessem pouco tempo de amizade, já considerava Ana uma boa amiga.
Ele devia tentar? Dizer o que sente? Dar indiretas? Aceitar que eles não tinham nada a ver?
Era complicado.
Na segunda de tarde, o menino andava de um lado para o outro na sala, apenas esperando a campainha ser tocada. Chegava até a ensaiar algumas falas, apesar de ter certeza que não as colocaria para fora.
A campainha tocou, e ele correu para fora, abrindo um sorriso ao ver Ana. Enquanto destrancava o portão, estranhou uma coisa.
— Não trouxe mochila hoje?
— Não. Eu estava pensando e... vou te dar uma prova — explicou, entrando.
— Prova...? — Beto repetiu, receoso, trancando a porta e a seguindo para dentro. — De quê?
— Matemática. — Ana se sentou no lugar de sempre, no chão, entre o sofá e a mesa de centro, puxando o caderno já posto ali, uma caneta e começando a escrever.
— Eu não estou preparado... — confessou ele, sentando ao lado dela, esquecendo completamente do que pensava anteriormente.
— Claro que está. Você mal olha o caderno quando faz as atividades. Eu sei que você consegue. Tenha mais confiança em si.
Ele suspirou ruidosamente. — Tudo bem. Vou tentar.
Ana fez dois enunciados com cinco questões cada um e entregou a folha para Beto, junto de um lápis e uma borracha. Sorriu, o encorajando, e ele começou.
— Você tem meia hora para terminar — informou, colocando seu celular na mesa. — Se a sua nota for maior do que oito, vou te dar um presente.
— Sério? Que presente? — questionou, animadamente.
— Eu não vou falar agora. Vai, começa.
Sorrindo com o jeito dela de o incentivar, Beto começou a fazer os cálculos. Até ficou surpreso por perceber que realmente não precisava consultar seu caderno, já que conseguia lembrar de todas as fórmulas.
Vinte e dois minutos depois, ele anunciou que havia acabado. Ana pegou a folha, uma caneta vermelha e começou a corrigir, enquanto Beto batucava os dedos ansiosos no tampo de vidro. Rapidamente a menina ticou as respostas, conferindo, e escreveu um número no topo da folha. A pegou com o verso para o peito e se virou para ele.
— Consegue adivinhar quanto tirou?
— Hm... Oito? — palpitou, incerto.
Ana virou e lhe entregou a folha. — Muito bem.
Beto viu um nove e meio escrito e deu um sorriso de orelha a orelha. — Isso só foi graças a minha professora, sabe.
— Mas você se esforçou e conseguiu.
— Obrigado. De verdade.
— Foi um prazer. Quer seu presente?
— Quero.
— Fecha os olhos e estende a mão.
Assim Beto o fez. Ana pegou o presente do bolso da calça e o deixou na palma aberta dele. Ao abrir os olhos, ele viu que era uma bala de maçã verde, e sorriu, divertido pela simplicidade do presente. Beto observou a bala durante alguns segundos, pensativo, e encarou Ana a sua frente.
— Eu... fiquei pensando em uma coisa. No fim de semana.
— No quê?
Ele hesitou. — Eu acho que...
Sua frase diminuiu gradativamente de altura conforme o rosto de Ana aproximava-se do seu. Apesar de estar surpreso pela atitude, não conseguiu expressar nada a não ser encarar os olhos castanhos e deixar a boca entreaberta sem notar. Ana encostou seus lábios nos dele e o beijou ternamente, e ele retribuiu, fechando os olhos, sentindo o coração martelar seu peito.
Ao se afastar, poucos segundos depois, Ana sorriu. — Faz parte do presente.
Beto achava que devia estar com cara de bobo surpreso. E realmente estava.
— Obrigado. Acho que nunca me deram um incentivo tão bom para estudar.
Ela riu. — O que você ia dizer?
— Eu... Eu nem sei se ainda preciso dizer. Acho que a minha cara já me entregou.
— Pode dizer mesmo assim.
— Eu ia dizer que... eu acho que estou gostando de você — disse, encarando e virando a bala entre os dedos.
— Eu gosto de você, Beto. Você é... uma pessoa muito gentil.
— Você... gosta de mim? Tipo, gosta? Romanticamente falando?
— Sim.
— Então...
— É.
Beto largou a bala entre suas pernas e segurou o rosto de Ana, se aproximando e voltando a beijá-la carinhosamente. Mal estava acreditando naquilo. Pensou tanto, imaginou tanto um momento como aquele e, no final, foi ela que o fez. Não que ele estivesse reclamando. Achou muito fofo e inesperada sua atitude.
Ele queria aproveitar aquele momento e deslizou os dedos para os cachos dela, sentindo sua maciez e textura. Sentiu sua pele da bochecha corada, o queixo e o maxilar delicado.
Ana se afastou ligeiramente. — Eu... também estive pensando. Você já acampou?
— Não. Por quê?
— Eu conheço um lugar ótimo para acompanhar, e dá para ver muitas estrelas de lá. Com um equipamento certo, talvez até alguns planetas.
— Uau. Deve ser incrível.
— Sim. Quer ir comigo? Não é tão longe. Dá para ir de trem.
— Claro. Quando?
— Sexta-feira.
— Vamos! — concordou, agitado com tantas coisasnovas acontecendo.
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Entre Galáxias
Roman d'amourAna Luísa não vê outra alternativa a não ser ajudar Beto, um dos garotos populares da escola, já que ele não estava indo muito bem nas provas. Como ela era tímida, sua única condição era que ninguém os visse juntos, para que continuasse no anonimato...