Capítulo 8 - Prova

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Beto ficou pensando sobre sua descoberta o fim de semana todo, pensando e imaginando como seria se ele tentasse demonstrar seu interesse, se ela recusaria, se ficaria envergonhada demais para falar algo, ou se aceitaria. Claro que ele temia levar uma negativa e acabar estragando a relação que eles construíram. Mesmo que tivessem pouco tempo de amizade, já considerava Ana uma boa amiga.

Ele devia tentar? Dizer o que sente? Dar indiretas? Aceitar que eles não tinham nada a ver?

Era complicado.

Na segunda de tarde, o menino andava de um lado para o outro na sala, apenas esperando a campainha ser tocada. Chegava até a ensaiar algumas falas, apesar de ter certeza que não as colocaria para fora.

A campainha tocou, e ele correu para fora, abrindo um sorriso ao ver Ana. Enquanto destrancava o portão, estranhou uma coisa.

— Não trouxe mochila hoje?

— Não. Eu estava pensando e... vou te dar uma prova — explicou, entrando.

— Prova...? — Beto repetiu, receoso, trancando a porta e a seguindo para dentro. — De quê?

— Matemática. — Ana se sentou no lugar de sempre, no chão, entre o sofá e a mesa de centro, puxando o caderno já posto ali, uma caneta e começando a escrever.

— Eu não estou preparado... — confessou ele, sentando ao lado dela, esquecendo completamente do que pensava anteriormente.

— Claro que está. Você mal olha o caderno quando faz as atividades. Eu sei que você consegue. Tenha mais confiança em si.

Ele suspirou ruidosamente. — Tudo bem. Vou tentar.

Ana fez dois enunciados com cinco questões cada um e entregou a folha para Beto, junto de um lápis e uma borracha. Sorriu, o encorajando, e ele começou.

— Você tem meia hora para terminar — informou, colocando seu celular na mesa. — Se a sua nota for maior do que oito, vou te dar um presente.

— Sério? Que presente? — questionou, animadamente.

— Eu não vou falar agora. Vai, começa.

Sorrindo com o jeito dela de o incentivar, Beto começou a fazer os cálculos. Até ficou surpreso por perceber que realmente não precisava consultar seu caderno, já que conseguia lembrar de todas as fórmulas.

Vinte e dois minutos depois, ele anunciou que havia acabado. Ana pegou a folha, uma caneta vermelha e começou a corrigir, enquanto Beto batucava os dedos ansiosos no tampo de vidro. Rapidamente a menina ticou as respostas, conferindo, e escreveu um número no topo da folha. A pegou com o verso para o peito e se virou para ele.

— Consegue adivinhar quanto tirou?

— Hm... Oito? — palpitou, incerto.

Ana virou e lhe entregou a folha. — Muito bem.

Beto viu um nove e meio escrito e deu um sorriso de orelha a orelha. — Isso só foi graças a minha professora, sabe.

— Mas você se esforçou e conseguiu.

— Obrigado. De verdade.

— Foi um prazer. Quer seu presente?

— Quero.

— Fecha os olhos e estende a mão.

Assim Beto o fez. Ana pegou o presente do bolso da calça e o deixou na palma aberta dele. Ao abrir os olhos, ele viu que era uma bala de maçã verde, e sorriu, divertido pela simplicidade do presente. Beto observou a bala durante alguns segundos, pensativo, e encarou Ana a sua frente.

— Eu... fiquei pensando em uma coisa. No fim de semana.

— No quê?

Ele hesitou. — Eu acho que...

Sua frase diminuiu gradativamente de altura conforme o rosto de Ana aproximava-se do seu. Apesar de estar surpreso pela atitude, não conseguiu expressar nada a não ser encarar os olhos castanhos e deixar a boca entreaberta sem notar. Ana encostou seus lábios nos dele e o beijou ternamente, e ele retribuiu, fechando os olhos, sentindo o coração martelar seu peito.

Ao se afastar, poucos segundos depois, Ana sorriu. — Faz parte do presente.

Beto achava que devia estar com cara de bobo surpreso. E realmente estava.

— Obrigado. Acho que nunca me deram um incentivo tão bom para estudar.

Ela riu. — O que você ia dizer?

— Eu... Eu nem sei se ainda preciso dizer. Acho que a minha cara já me entregou.

— Pode dizer mesmo assim.

— Eu ia dizer que... eu acho que estou gostando de você — disse, encarando e virando a bala entre os dedos.

— Eu gosto de você, Beto. Você é... uma pessoa muito gentil.

— Você... gosta de mim? Tipo, gosta? Romanticamente falando?

— Sim.

— Então...

— É.

Beto largou a bala entre suas pernas e segurou o rosto de Ana, se aproximando e voltando a beijá-la carinhosamente. Mal estava acreditando naquilo. Pensou tanto, imaginou tanto um momento como aquele e, no final, foi ela que o fez. Não que ele estivesse reclamando. Achou muito fofo e inesperada sua atitude.

Ele queria aproveitar aquele momento e deslizou os dedos para os cachos dela, sentindo sua maciez e textura. Sentiu sua pele da bochecha corada, o queixo e o maxilar delicado.

Ana se afastou ligeiramente. — Eu... também estive pensando. Você já acampou?

— Não. Por quê?

— Eu conheço um lugar ótimo para acompanhar, e dá para ver muitas estrelas de lá. Com um equipamento certo, talvez até alguns planetas.

— Uau. Deve ser incrível.

— Sim. Quer ir comigo? Não é tão longe. Dá para ir de trem.

— Claro. Quando?

— Sexta-feira.

— Vamos! — concordou, agitado com tantas coisasnovas acontecendo.

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