Beto aguardou o fim de semana ansiosamente, quase contando os minutos para chegar a sexta-feira e, quando o dia chegou, equipou sua mochila com algumas roupas e comida, já que Ana disse que tinha os equipamentos de acampamento, como barraca, colchão inflável, cobertas e lanternas.
Devido a programação da noite, não teve a tarde de estudos. As quatro da tarde, os dois se encontraram no ponto de ônibus, viajaram até o terminal e tomaram o trem. Ana guiou o caminho, explicando as direções. Depois que desceram, caminharam até um parque e, lá, pegaram uma pequena trilha até o topo da montanha, onde era possível ver toda a cidade.
— Uau, que visão... — comentou Beto, impressionado.
— Sim. Espera só quando escurecer completamente — respondeu Ana, começando a montar a barraca.
Apesar de saber fazer sozinha, Beto a ajudou como pôde, já que não entendia como barracas funcionavam. Ele tentou encaixar e puxar a lona, mas ela soltava do lado que já estava presa, então se contentou em segurar a lanterna quando escureceu.
Depois, os colchões foram inflados e colocados na barraca junto com as cobertas.
Beto se sentou em uma das pedras grandes e admirou a paisagem, já maravilhado com o céu das oito horas da noite.
— Quantas vezes você já veio aqui?
— Umas três, eu acho.
— E você nunca viu nada?
— Como assim nada?
— Ah, sabe... Naves, luzes estranhas.
Ana sorriu, lembrando do fascínio dele por aquele assunto. — Hm... E se eu disser que já?
— Quê?! E você nunca me contou?! — Arregalou os olhos, virando para ela em uma reação automática.
— Eu queria guardar para hoje... Na realidade, deixei algumas coisas para serem ditas hoje, e eu estou quebrando as regras por você.
— Como assim? — Soou confuso.
— Eu disse que você era uma pessoa gentil. Eu gostei de você e acho que vale a pena te deixar...
Ana parou de falar abruptamente e desviou o olhar de Beto para o céu. Ele estranhou e se virou, um pouco assustado com a reação dela e, para sua surpresa, avistou algo escuro pairando sobre a montanha, que camuflava-se com o céu sem nuvens naquela região.
Beto não sabia como reagir. Não sabia se devia ficar maravilhado ou aterrorizado.
— Vo-voce está vendo, não está? — gaguejou ele, sem desviar o olhar do objeto grande.
— Eu achei que... — começou Ana, fazendo Beto a encarar. — Eu sei, mas eu queria que ele visse... — Era como se ela estivesse conversando com outra pessoa.
— Do que você está falando?
— Desculpe, Beto.
Antes que ele pudesse perguntar sobre o que ela estava dizendo, sentiu algo quente cobrir sua visão e, sem notar, caiu na inconsciência.
Sua visão estava embaçada quando despertou, e a claridade no cômodo o incomodava. Apesar do esforço, não conseguia se lembrar de onde estava. Em vez de forçar mais sua mente, se ocupou em sentir partes de seu corpo, que estava repousado sobre uma superfície morna.
— Beto? — Uma voz desconhecida chamou. Segundos depois, uma silhueta inclinou-se sobre ele, tampando parte da luz. — Como se sente?
— Não sei bem... O que aconteceu?
— Você não se lembra?
— Não... — E, de repente, recordou-se que estava com Ana. — Cadê a Ana? Ela estava comigo.
— Ela está bem, não precisa se preocupar. — A silhueta se afastou um pouco e Beto virou o rosto para acompanhar o movimento, mesmo que ainda não conseguisse distinguir as formas. — Não está com medo?
— Eu deveria?
— Você está enxergando?
— Não. Só consigo ver borrões.
— Espere um pouco. — E se afastou.
Não demorou muito para que mais passos se aproximassem, e duas vozes soaram em uma linguagem estranha, quase vibratória.
— Você vai sentir uma picada no braço — avisou a primeira pessoa. Logo, sentiu a tal picada, menos dolorosa do que uma vacina. — Feche os olhos por alguns minutos.
Obedecendo, Beto viu tudo escurecer. Quando a voz pediu para que voltasse a abrir os olhos, ficou mais relaxado ao notar que sua visão estava normal. Agora conseguia ver os detalhes do teto metálico e os spots de luzes.
— Consegue se sentar?
Beto se impulsionou para frente com certa dificuldade, pois parecia que havia dormido muitas horas na mesma posição. Já sentado, reparou na sala. Parecia um consultório moderno, com algumas máquinas, alguns armários aéreos de vidro fosco, um carrinho médio de metal ao pé de sua cama e, por falar nela, percebeu que parecia ser de LED, era esbranquiçada e levemente iluminada por baixo.
— Melhor?
Ele virou o rosto em direção a voz para responder, entretanto, as palavras não saíram. Observou aquele ser com um misto de medo e fascinação, sem saber como reagir.
— Acho que você está enxergando agora... — comentou ele. Ou ela.
O ser era alto, esbelto e alongado. Não tinha feições muito humanas, mas também não eram tão diferentes. Seus olhos eram levemente puxados para cima, e negros. Seus lábios, finos, em um tom de marrom acinzentado, fazia contraste com a cor da pele cinza claro. Os cabelos escuros e longos estavam presos por mechas da frente, deixando suas maçãs do rosto altas mais evidentes.
Ele, ou ela, tinha uma beleza surpreendentemente agradável e única, e suas roupas em tons de azul escuro lhe caiam muito bem, nem muito folgadas, nem muito justas.
Beto mal conseguia acreditar que aquilo não era um sonho extremamente bem elaborado.
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Próximo capítulo será o último :p
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Entre Galáxias
RomanceAna Luísa não vê outra alternativa a não ser ajudar Beto, um dos garotos populares da escola, já que ele não estava indo muito bem nas provas. Como ela era tímida, sua única condição era que ninguém os visse juntos, para que continuasse no anonimato...