Sem essa de Destino! [vmin]

[06]

Coréia do Sul
Dias atuais

Kim Taehyung

Respira.

Um dia de cada vez, vamos com cuidado e calma, o mundo não vai acabar amanhã. Ou talvez acabe, mas como eu tô vivendo um dia de cada vez, eu não me importo.

As minhas mãos estão tremendo e eu não sei o que fazer, mesmo que eu não precise fazer muito além de respirar. As estrelas cobrem todo o que minha visão consegue alcançar e eu sorrio para elas.

Dizem que nosso destino está escrito nas estrelas, não é? Então por que eu não consigo ler nada?

Respira.

Ficar deitado na praia não é uma coisa que eu recomendo para as pessoas fazerem, principalmente de noite e com a possibilidade de dormirem na areia. Vamos combinar que é perigoso mas eu gosto de fazer porque o som do mar é um dos meus sons favoritos e a praia, o cheiro e tudo mais me trás boas lembranças.

Nada na minha vida faz muito sentido. Era para eu estar fazendo engenharia, como meus pais queriam, mas eu estudei fotografia e ganho uma mixaria. Era para eu estar morando fora do país, como uma cartomante me disse quando eu tinha catorze anos, mas eu sempre tive preguiça de aprender alguma coisa além de coreano. Era para eu estar com Jimin agora, como eu gostaria, mas eu estou com medo.

Existem pouquíssimas coisas das quais eu tenho certeza, entre elas: você pode achar que qualquer um é o amor da sua vida, Leonardo DiCaprio merecia o Óscar muito antes, os filmes da Barbie recentemente estão uma bosta, pombos são aliens tentando conquistar nosso planeta e eu conheço Park Jimin há muito tempo.

Minha avó - saudades vovó - já me contou histórias sobre amores tão grandes e intensos que atravessam a linha da vida e nos fazem reencarnar para que continuemos amando e eu sempre acreditei nisso.

Eu sempre acreditei em destino até que o filho da puta começou a brincar comigo. Entregava meu coração para qualquer um achando que era a pessoa das histórias da minha avó, minha princesa ou príncipe encantado; achando que enfim a pessoa que sempre esteve me procurando me achou.

Mas nunca era. Talvez porque na verdade, essa pessoa não exista.

Nós temos a mania de inventarmos histórias para amenizar nosso sofrimento, como dizer que "você não achou a sua pessoa" quando percebe que nada dá certo com ninguém. Eu me enganei por muito tempo, me deixei levar e usar por muitos alguns, sem nunca acreditar que eu era o amor da minha vida, e isso bastava.

Sem essa de destino, isso não existe, é apenas uma forma de diminuir nosso sofrimento e culpar uma entidade cósmica pelas consequências do que fazemos e pelo acaso.

Entretanto...

Entretanto, quando eu o vi, no mesmo instante meu coração parou e tudo ficou mudo. Ele não tinha quase derrubado minha câmera ainda então eu não estava com raiva. Eu estava atônito, tremendo. Minhas mãos suavam e um nó imenso se fez na minha garganta. Aquele garoto era tão familiar, como se eu o conhecesse desde muito tempo, embora o rosto dele não me lembrasse nada de fato.

Era uma saudade tão grande misturada a alguma coisa que eu odiava porque não entendia.

Então ele quase matou minha câmera favorita e tudo isso desapareceu. Bem, até de noite, onde eu me lembrei de seus olhos, seu sorriso, dele desmaiando provavelmente por desnutrição e também da pulseira vermelha que ele tinha, que se parecia tanto com a minha tornozeleira.