───ღ two.

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8 de agosto de 1943, 10:32 a.m.

Estávamos "jogados" pela grande sala, Susana fazia algum tipo de jogo com os garotos, um bem chato por sinal. Pedro tentava faze-la calar a boca mas era totalmente em vão, Edmundo resmungava de algo, e eu e Lucia estávamos a observa-los totalmente entediadas

- Ora Susana você não cansa desse jogo não? Eu não aguento mais - Lucia diz irritada - Podemos brincar de esconde-esconde?

- Mas nós já estamos nos divertindo tanto Lúcia - Pedro lança um sorriso sarcástico para Susana que o olha feio

- Lucia tem razão, vai ser mais divertido do que ficar aqui, sem querer ofender seja lá o que você estiver fazendo Susana - Dou um sorriso curto a Susana que da de ombros

Lúcia se apoia no braço da poltrona em que Pedro está sentado. Nós olhamos para Pedro esperando uma resposta e então ele começa a contar

- 1, 2, 3, 4, 5... - Pedro sorri enquanto conta se dando por vencido e nós saímos correndo

Não seria tão difícil achar um esconderijo, afinal eu conheço essa casa como a palma da minha mão. Corro até o baú que ficava em um dos enormes corredores que existiam ali mas então vejo que Susana foi mais rápida que eu. Volto para trás e subo as escadas e me escondo dentro de um armário vazio que ficava no corredor. Havia uma fresta pequena que me permitia ver grande parte do corredor, inclusive Edmundo e Lúcia brigando pela cortina, e ele vencendo fazendo a mais nova sair correndo atrás de um novo esconderijo. Um minuto depois escuto Lúcia gritando no corredor em que estávamos 

- Eu voltei!. Estou de volta!. Eu estou bem! - Saio para olhar o que estava acontecendo e o porque ela estava falando aquelas coisas 

- Quieta Lucia, ele vai nos achar - Edmundo coloca a cabeça pra fora da cortina

- Vocês não ficaram preocupados? Eu sumi por horas - A olho confusa

- Mas do que você está falando Lúcia? Não faz nem dois minutos que você passou pela gente - Pergunto confusa, tentando entender porque ela dizia aquelas coisas sem sentido e porque estava tão eufórica

- Acho que vocês não entenderam a brincadeira - Pedro diz vindo até nós e nos olhando. Edmundo bufa irritado e eu desvio o olhar para Lúcia assim que o meu se encontra com o dele

- Eu ganhei? - Susana aparece e para ao meu lado

- Lucia não quer mais brincar - Pedro diz e olha para a menor

- Mas eu sumi por horas - Ela dizia aquilo com tanta convicção que parecia realmente real, mas não fazia nenhum sentido

- Lucia explica isso direito - Olho pra ela ainda mais confusa

[...]

Lúcia nos leva até uma grande sala vazia com apenas um enorme guarda roupa no fundo. Ao passar por aquela porta alguns flashbacks surgem em minha mente me fazendo sentir um aperto estranho. Pedro havia percebido que algo estava errado porque segurou o meu braço suavemente perguntando se estava tudo bem. Apenas assenti com a cabeça e lhe dei um sorriso gentil

Caminho até o guarda roupa mas paro no caminho quando uma forte lembrança vem a minha mente. Havia uma imagem um tanto quanto borrada, mas a voz era nítida

"— Poppy nós precisamos de você tanto quanto precisamos dos reis e rainhas — O esquilo diz um pouco alto — Você é a esperança para nós, você irá nos proteger quando os nossos reis e rainhas não puderem"

Os irmãos examinavam cada centímetro do guarda-roupa. Eu os observava de longe com um tremendo espanto, como poderia não me lembrar disso?

- Lúcia, a única madeira aqui é a do guarda-roupa - Susana diz olhando para a pequena que permaneceu parada ali

- Um jogo de cada vez, Lu. Nós não temos tanta imaginação - Pedro diz e se vira para ir embora sendo acompanhado pelos outros Pevensies, eu tento falar algo mas nada sai, eu estava estática olhando para o guarda-roupa e agradeço por eles estarem ocupados demais para repararem em mim

- Mas não foi minha imaginação! - Lúcia grita chamando a atenção dos irmãos me fazendo voltar do transe

- Já chega, Lúcia - Susana diz irritada

- Eu não mentiria sobre isso! - Lúcia diz chorosa

- Eu acredito em você - Edmundo fala e todos olham pra ele

- Eu também acredito em você Lúcia - Falo algo finalmente depois de alguns longos minutos calada e então os olhares são direcionados para mim

- Acreditam? - Lúcia pergunta e eu posso sentir um pingo de esperança em sua voz

- Claro - Edmundo fala antes que eu pudesse abrir a boca com um sorriso no rosto e todos o olhamos de novo, mas agora mais intrigados - Não contei à vocês sobre o time de futebol nos armários do banheiro?

- Ah, você quer parar com isso? Adora piorar as coisas não é? - Pedro diz com um cansaço na voz

- Foi só uma brincadeira! - Edmundo tenta se explicar

- Quando você vai amadurecer? - Pedro pergunta num tom autoritário, mas baixo

- Cala a boca! Você acha que é o papai, mas não é! - Edmundo grita e sai correndo

- Ajudou muito a sua atitude - Susana vai atrás dele

- Mas.. Eu estive mesmo lá - Lúcia retorna a falar

- Susana tem razão Lúcia. Agora já chega - Pedro se vira para mim antes de sair da sala - Espero que não fique incentivando ela nisso Poppy

- Você acredita mesmo em mim? - Lúcia vem até mim

- Sim Lúcia, eu acredito - Lhe dou um sorriso

- Jura? - Ela abre um sorriso enorme

- Claro, eu também já estive lá - Fecho a porta do guarda-roupa e dou a mão a pequena - Conheci um esquilo e uma raposa, ambos eram bem simpáticos e me contaram ótimas histórias - Deixo um sorriso triste escapar após pensar no que poderia ter acontecido

- Você pode me contar? - Pergunta olhando pra mim enquanto caminhamos

- Lúcia isso são coisas que irão te contar mais pra frente, eu não posso dizer mais nada. Agora vamos comer alguma coisa, vem! - Digo entendendo o motivo da mesma ter ido para Nárnia e logo depois sigo com ela até a cozinha

[...]

Estava sentada no sofá lendo um livro sobre fantasia e mitologia quando sinto alguém se sentar ao meu lado. Fecho o livro devagar soltando o mesmo cuidadosamente em cima da minha perna e olho para a pessoa que encarava as mãos

- Poppy eu sei que você tem as melhores intenções com a Lúcia, e admiro muito isso, mas incentivar ela a isso não é bom - Ele então me olha - Ela precisa amadurecer e aprender que essas coisas não existem

- Pedro mas eu só fiz o certo, não menti pra ela. Contei que acreditava nela porque realmente acredito - Olho no fundo dos olhos dele - Você deveria tentar acreditar nela também, as vezes o mundo pode te surpreender com coisas que você nem imagina que existam

- Eu só não quero que ela saia machucada quando perceber que tudo isso não passa de uma fantasia, um sonho que ela mesma inventou - Eu olho pra baixo um pouco irritada

- Por que é tão difícil acreditar nela Pedro? Ela já te deu motivos para não acreditar na palavra dela? - Ele nega com a cabeça - Então Pedro, por que não pode só simplesmente acreditar no que ela esta falando?

- Por que isso que ela fantasiou não é real, eu preciso que ela saiba que o mundo não é uma fantasia Poppy - Ele olha para as mãos novamente e então olha para mim de novo - Por favor só não a encoraja mais com essa história - Ele se levanta me deixando ali sozinha

A Guardiã | As Crônicas De NárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora