olá, estranho.

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Sem perspectiva.

É assim que eu me senti quando sai da sala da professora Michaels depois de aceitar a oportunidade do trabalho.

Ela não havia me dado um norte, disse que "confiava no meu taco" seja lá o que significava aquilo. Eu teria que encontrar o auge do meu trabalho. O que eu sabia sobre futebol americano?NADA. 

Apenas que meu pai assistia ao Superbowl todo o ano e me obrigava a assistir. De resto? Eu era uma porta, e não tinha interesse algum. Minha vontade era sentar na grama do campus e chorar, mas eu sabia que isso não faria minha nota subir. 

Eu não tinha mais nenhuma aula naquele dia, e também estava de folga. O que pela primeira vez em toda a minha vida, parecia uma penitência. Não havia nada que pudesse tirar da minha cabeça o meu mar de problemas. Talvez existisse uma coisa...

Roger's Hole. O bar mais barato, mais próximo e com mais fedor a testosterona de toda cidade. Ficava de frente pro campus e faturava com os universitários mais do que com que qualquer outro público. Eu ainda não tinha legalmente idade para beber, mas os funcionários não eram do tipo que faziam vista grossa. 

Descansei minha mão na pintura áspera que reveste a porta e empurro. Lascas de madeira ásperas cortaram minha palma; estilhaços de tinta preta desmoronam no chão. As dobradiças guincham como se fossem um aviso, mas seu pedido é silenciado por uma parede de barulho. O riso domina a jukebox. As conversas rodopiavam em uma nuvem suja de fumaça, o fedor estagnado de cigarros se esconde no odor mais forte de álcool.

Caminhei sob o bar sem olhar para os lados, estava tão cansada que sequer vergonha eu senti pelas pessoas que me olharam.

O barman me encarou entediado, eu podia dizer que ele talvez estivesse com pena de mim. Cabelos frisados e presos em um rabo de cavalo péssimo, unhas descascadas, zero por cento de maquiagem no rosto.

— Me vê uma vodka tripla. — eu sorri sem graça. — Ou melhor, duas. 

O barman que não tinha mais idade do que eu apenas levantou as sobrancelhas. Até mesmo ele parecia chocado com o meu pedido. Eu havia entrado naquele lugar uma vez, durante uma festa da cerveja com a Rose, no final da festa acabamos indo para uma fogueira horrível perto do lado. Rose era perfeita, mas como eu disse, tinha péssimo gosto para homens. E ela agia como se eu fosse aquela sua amiga que ficou pra tia e que precisa desesperadamente de um homem, mesmo que ela não falasse, eu sabia.

Assim que a minha vodka chegou, eu coloquei para dentro. Ugh, gosto horrível. Gosto de má decisão. 

O álcool era tão forte que descia pela minha garganta como navalha e foi impossível esconder minha feição enojada.

— Essa não me pareceu a melhor escolha para uma quinta-feira. — uma voz rouca surgiu do meu lado. Revirei os olhos, típico, chegar em uma garota no bar, que claramente quer ficar sozinha.

— Certo, obrigada pela dica. — sequer me dei o trabalho de olhar o dono da voz. Dei um gole no meu outro shot e afundei minhas mãos pelo meu cabelo.

O dono da voz riu. E escutei seu copo tocando o balcão de madeira velho novamente. 

— Eu vou querer o mesmo que ela. — escutei a pessoa falando para o barman e olhei para o lado. 

Ele não era tão ruim, na verdade, seu rosto era até familiar. Pele bronzeada, cabelos que pareciam recém cortados, olhos azuis que beiravam o negro, se isso fosse possível , e um corpo de atleta. Óbvio. Tão bonito, mas gritava "erro, saia de perto".

Eu sorri amarelo e voltei meu olhar para o barman.

— Eu quero outro. — pisquei para ele, que apenas assentiu, e colocou dois pequenos copos cheios de vodka triplamente destilada.

Antes Que Acabe.Onde histórias criam vida. Descubra agora