Financeiramente falando, aquela foi a decisão mais inconsequente que já haviam feito. Abandonar seus empregos, casas e rotina, para fazerem mochilão pelo país por um ano; juntos. Mas, tinha de admitir que nunca experimentou tanta felicidade e realização como estava sentindo naquelas ultimas semanas. Eles eram jovens o bastante para acreditar que viveriam para sempre e que estavam acima de qualquer risco iminente.
Esse foi o problema.
– Quer dar uma parada naquele posto de gasolina ali? Podemos comer alguma coisa antes de acamparmos para dormir. – olhou para o outro, sorriu e concordou com um meneio de cabeça, recebendo um sorriso amplo em resposta.
Antes de cruzarem a pista até o restaurante anexado ao posto, sentiu os dedos mornos do outro se entrelaçar aos seus, apertando sua mão com carinho. Limitavam-se a esse tipo de gesto de afeto em publico, para não correrem riscos de serem atacados por homofóbicos, mas para ele, Damien, aquele gesto simples era o suficiente.
Entraram no restaurante e perceberam que todas as cabeças no local se viraram para encará-los, Damien se sentiu desconfortável, como um bicho em exposição, mas seu namorado, Christopher (ou Chris, como todos costumavam chamá-lo) se manteve firme e puxando-o pela manga do casaco, os fez entrar.
Sentaram-se em uma das mesas mais afastadas e logo foram abordados por uma garçonete com olhos cansados que perguntou o que iriam querer. Decidiram pelo prato do dia com purê de batata e refrigerantes. Estavam ansiosos para chegarem ao próximo ponto do mapa, a cidadezinha de Sweet Falls.
– Muito bem – disse Chris enquanto olhava o mapa. – Pegamos a principal e seguimos para o Norte e pelos meus cálculos chegaremos à Sweet Falls por volta das 5 da tarde. Acampamos por lá e ao amanhecer seguimos para a próxima cidade e... – o rapaz foi interrompido por uma batida agressiva em seu ombro e ao olhar para trás encontrou um velho de aparência descuidada e suja, com uma longa barba amarelada e olhos lunáticos que lhe disse num sussurro.
– Sweet Falls? Fique longe daquele lugar garoto. Coisas estranhas acontecem por lá! Não pare naquela cidade nem que a sua vida dependa disso e nunca, jamais saia da trilha paralela a ela, nunca! – a garçonete chegou no momento em que Chris estava pensando em esquecer a comida e ir embora. Ela olhou para o velho com uma expressão cansada que parecia dizer "Você está apavorando os clientes de novo?"
– Okay Joe, já fez seu aviso assustador, agora, vá embora ou eu terei de chamar o Jimmy lá na cozinha e nós dois sabemos que você não quer isso, não é? – O velho se levantou de um pulo, negando com um gesto de cabeça enquanto que ao mesmo tempo estendia as mãos espalmadas na frente do corpo como se tentasse se proteger de algo terrível e invisível.
– Eu estou indo Lucile, estou indo... – mas antes de sair do restaurante, quando estava passando ao lado de Damien, Joe segurou-o pelo ombro e sussurrou algo em seu ouvido.
– Nunca saia da trilha, eu sai uma vez e ele quase me pegou... – e então puxou a camiseta que usava para baixo, expondo uma longa e tortuosa cicatriz mal suturada.
Lucile ameaçou novamente chamar Jimmy o que fez com que o velho se apressasse em sair dali, mas, até passar pela porta, ele continuou lançando olhares assustados para os dois rapazes e balbuciando algo que lembrava "a trilha... nunca saia da trilha..."
Damien, que estava apavorado com a forma que o homem o segurou, permaneceu encarando-o fixamente e notou que ele mancava com a perna direita. Na verdade, ele arrastava aquele pé como se fosse um pedaço de madeira morta e tal constatação só lhe deu mais calafrios.
– Me desculpem rapazes, o Joe é inofensivo, mas parece que gosta de aterrorizar viajantes. Bem, aqui está o pedido de vocês, bom apetite. – Lucile se afastou lentamente e mais uma vez, Damien notou o jeito de andar. A garçonete também mancava com o pé direito, da mesma forma que Joe. Um pequeno alarme vermelho de perigo começou a piscar em sua mente, mas antes que pudesse formular uma resposta, sentiu a mão morna do namorado segurar a sua sobre a mesa e ignorou o alerta interno.
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Nuances do Horror
HorrorO Horror é como uma enorme paleta de cores, repleta das mais diversas nuances de pavor e medo, agora imagine cada um desses tons de medo com protagonismo LGBT. Imaginou? Pois é o que você vai encontrar nestas histórias aqui. Temos de tudo! Assassi...