Nuances do Horror

5ª história - Cuidado com o que você deseja

Naquele momento ele era o cara mais feliz do mundo. Tinha tudo o que um estudante do ensino médio poderia sonhar. Boas notas, respeito dos colegas e o mais importante, um namorado que era zagueiro do time de futebol americano.

Não se importava com o fato de que obteve tudo aquilo com a ajuda de um objeto do oculto. Não se preocupava com a maldição que o dono do antiquário de onde comprou a peça disse que ela trazia. Não acreditava em maldições, pragas ou superstições. Era totalmente cético.

Também era gordo, nerd e usava grandes óculos fundos. Mas naquele momento não se importava com nada disso, afinal estava dividindo a cama com seu namorado-zagueiro, o cara mais popular e desejado da escola. Deslizou a mão espalmada pelo tórax nu do outro rapaz e sorriu, finalmente conseguiu o que queria.

Sobre a escrivaninha estava o tal objeto, parecia uma caixa quebra-cabeça, mas tinha um formato estranho, hexagonal e coloração verde-musgo brilhante, se é que isso era possível. Contou pelo menos doze lados na peça. Cada vez que ele resolvia uma das configurações, uma voz espectral surgia de dentro do objeto inquirindo "Qual é o seu desejo?".

No começo foi fácil, "Desejo ser popular", "Desejo que Kevin Wittaker me ame", "Desejo ter as melhores notas da escola". Futilidades adolescentes, mas que para ele, Tobias Lightman eram importantes, na verdade, eram coisas de vida ou morte.

Infelizmente, conforme seus desejos foram atendidos, ele se afastou do seu melhor amigo, Jammal Robson. Mas naquele exato momento não queria pensar em Jammal, por que faria isso?

Kevin acordou e ao vê-lo ao seu lado, beijou-o de forma apaixonada e apesar de Tobias sentir que o outro fazia aquilo de forma puramente mecânica, não se importava. Até gostava na verdade, a sensação de que o controlava era algo delicioso.

Sentiu as mãos do outro rapaz, deslizar por sua cintura, mas o proibiu de continuar. queria ver até onde Kevin iria sem poder fazer sexo com ele. Levantou-se, se aprontou, mandou o outro embora e foi para a escola, onde recebeu suas provas com as notas mais altas da escola. O professor também parecia "zumbizado" como passou a chamar mentalmente as pessoas sob a influência da caixa quebra-cabeça. Mas, ele ainda não se importava com isso, seus professores sempre o ignoraram, mesmo ele tirando as melhores notas da escola, para enaltecer os atletas e as lideres de torcida.

Na lanchonete se sentou à mesa dos descolados, e mais uma vez observou aquele olhar vazio nas pessoas a sua volta, aquele comportamento mecanizado e repetitivo, mas não se importou. Gostava de vê-los assim. Pelo menos uma vez na vida o nerd gordo estava no poder.

Quando estava indo embora, com Kevin abraçando-o pelos ombros, ouviu ser chamado e ao olhar para trás, encontrou Jammal com um sorriso sem graça no rosto. Ele havia sido um dos poucos não-afetados pelo objeto.

– Tobbey, nós podemos conversar? – disse que sim e informou ao outro rapaz que se veriam mais tarde. Kevin pareceu não gostar muito disso, mas concordou.

– O que foi Jammal? – perguntou com um quê de impaciência na voz, pois queria torturar Kevin um pouco mais antes do jantar.

– Nada, é só que... Você não fala mais comigo e eu... Estou sentindo a sua falta. Saudades das nossas idas a loja de quadrinhos e ao fliperama. Sabe? Nossos passeios nerds... – Tobias colocou a mão grande e macia sobre os lábios de Jammal quando o garoto terminava a frase.

– Nunca mais repita isso, okay? Eu mudei e agora eu sou descolado e não faço mais essas coisas nerds. – Jammal era mais alto que ele, negro e bonito, porte de jogador de basquete, esguio e firme e exibia um Black Power de respeito no topo da cabeça.

Ao dizer aquelas palavras, notou que os olhos do outro se entristeceram. Ele foi magoado e a culpa era sua, mas, não se importava com isso, perdeu um amigo, mas ainda tinha muitos outros.