6ª história - A Estação das Bruxas

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A lua estava alta e cheia no céu e ele já estava correndo a mais de uma hora, fugindo sem olhar pra trás apesar de poder ouvir nitidamente os passos deles no seu encalço. "Por que estavam fazendo isso com ele?" já era uma pergunta que não exigia mais resposta. Eles só o perseguiam porque podiam, porque sabiam que ninguém iria descobrir e que jamais seriam recriminados. Não os filhos da elite da cidade, os garotos de ouro!

Enquanto que ele era um simples filho de lojista, cuja família estava passando por problemas financeiros e lidando com o luto pela filha caçula que caiu no riacho e se afogou há dois anos.

E por mais que seus pais dissessem que eles não o culpavam, ele se martirizava, afinal, devia estar tomando conta da pequena Betty Ann naquele dia no riacho, mas então os quatro valentões apareceram e começaram a atacá-lo e atirar coisas nele e nesse meio tempo em que se distraiu, a irmãzinha entrou no riacho e... Quando se deu conta do que havia acontecido, os quatro já tinham ido embora, era sempre assim.

Durante vários meses teve pesadelos com a irmãzinha em que ele quase conseguia salvá-la, mas a pequena mão da menina lhe escapava por entre os dedos. E era ai que ele acordava gritando, desesperado, suado e com o coração saindo pela boca.

E a culpa era daqueles quatro.

Eles que já fizeram outras vítimas, machucado muitas crianças, quebrado o braço de algumas e deixado escoriações feias em outras, mas, em algum momento se cansavam e arrumavam uma nova presa. Infelizmente, no seu caso, os quatro vinham atormentando-o desde o começo do ano, já fazia dez meses!

– Nós vamos te pegar, Arnold seu idiota! – ouviu o líder do grupo, Kenny, gritar. Ele era o filho do prefeito (que também era o dono de praticamente toda a cidade) e isso lhe dava confiança para fazer atos horríveis com a certeza de que jamais seria punido.

– Rsrsrs, isso ai Arnoldo! Vamos pegar você e te dar tantos murros que você vai ficar parecendo um saco de pancadas! – gritou Gregory, o braço direito de Kenny e filho do chefe de polícia. Ele carregava na cintura uma arma sem licença, presente de aniversário do pai e apesar de jamais ter atirado em um ser humano, usava-a para matar animais pequenos com frequência.

Os risos animalescos e grunhidos iam crescendo conforme ele continuava correndo desesperado, há muito havia saído do centro da cidade e agora se via dentro da floresta espessa e escura, seus pés atolando na lama e enroscando nos galhos e trepadeiras. Mas, não podia parar de fugir.

– Não tem pra onde correr, Arnoid! Nós vamos te pegar e te transformar em decoração para o Halloween! – Stanley gritou, sendo seguido dos risos guturais dos outros três. Ele era filho da advogada criminalista mais conhecida da cidade, a mulher jamais perdera uma causa, mesmo que vários dos seus clientes fossem criminosos confirmados.

E por fim ele ouviu o som alto e rascante do bastão de basebol de Craig. Ele não podia falar, já que há alguns anos enquanto caçava cervos com o pai, acabou atirando em si mesmo, acertando a garganta e danificando as cordas vocais. Durante este mesmo acidente, o pai foi baleado e morreu. Mas nem por isso Craig era menos cruel, na verdade, depois de Kenny, ele era o mais sádico dos quatro. Morava com o avô, que era o dono do único banco da cidade e apesar de o velho ser rígido e severo, isso não conseguia controlar os impulsos de crueldade do rapaz.

Todos os quatro eram mais velhos que Arnold e todos estavam no último ano do colegial enquanto que ele, que continuava fugindo desesperado, havia saído há menos de um ano do ensino fundamental.

E foi então que viu a claridade pálida que aparecia no fim da trilha e se deu conta de que havia percorrido toda a floresta e caído no cemitério, que ficava na ponta oposta ao centro da cidade. Entrou correndo no lugar, procurando desesperado um lugar onde pudesse se esconder. O som dos passos se tornava mais alto e próximo e então ele ouviu novos gritos ameaçadores vindos dos portões do cemitério.

Nuances do HorrorWhere stories live. Discover now