Block Me

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Uma caneta caindo no chão. É o primeiro som que escuto após horas em silêncio encarando o caderno, tentando compor algo. Desistindo do esforço para extrair qualquer coisa e não conseguindo ficar mais parado, levanto e estico os músculos doloridos pela inércia. Pego a caneta do chão, depositando-a em cima da folha em branco e saio do quarto. Ando pelo grande apartamento me sentindo sufocado e decido por sair dali, pensando que talvez me ajudasse a espairecer.

Ao chegar no estacionamento, adentro o carro e dirigo para fora do prédio, mas ao virar a direita na esquina me arrependo de ter saído. O trânsito estava parado. Me sentindo mais sufocado ainda, abro as janelas e reparo em como o céu estava mais azul do que aparentava pelos vidros do carro. Era outono e mesmo assim o céu estava sem nuvem alguma, era como o reflexo do mar.

Saio do devaneio ao ouvir buzinas e percebo que esse mero bloqueio estava pior que o esperado, pois se torna um som que apenas me estressa. Cansado de tudo isso peso a mão no volante ainda mais frustrado que antes, fazendo tanto barulho quanto todos a minha volta. Já sem paciência até para buzinar, olho outra vez pela janela, agora notando outra tonalidade no céu. Não é mais aquele azul refletido do mar, está mais amarronzado, como se toda a poluição se reunisse alí.

Sinto uma onda quente de vento me atingir no rosto e o cheiro me faz fechar os olhos, não por ser bom ou ruim, mas por faltar o aroma que sempre sinto, o de paz, tranquilidade e conforto. Minha cabeça estava fora do lugar, já estava enlouquecendo. Com os olhos ainda fechados, procuro em mim alguma calmaria, logo desistindo e ligando o rádio, uma música lenta começa a tocar e me envolve aos poucos. Mesmo ainda aflito, consigo sentir o cheiro diferente que antes procurava. 

Mais calmo, minha mente vaga para quando era mais novo, quando optei por esse caminho. Quando eu precisava de paz e conforto e não sabia o que fazer, apenas uma música foi capaz de mudar minha forma de ver o mundo. Eu sempre dei o meu melhor no que fazia, mas fazer além do que podemos acaba nos machucando e matando aos poucos.

Na rádio começa a tocar uma música minha, a letra ao invés de me alcançar de alguma forma, me faz desligar o aparelho. Lembro que escolhi esse caminho para alcançar as pessoas como fui alcançado com aquela música, mas agora, já não sei mais o que faço. Solto um riso sarcástico involuntário ao me ver na situação atual. Eu simplesmente não me conheço mais. 

Faço música para que alcance aos outros, mas e quanto a mim? Há quanto tempo já não me alcanço mais? Há quanto tempo esqueci de que preciso de mim para chegar ao outro? Só voltarei a escrever e lançar uma música quando estiver em sã consciência. Quando estiver bem para deixar outras pessoas bem. Quando me encontrar nesse meio outra vez. 

Ligo o rádio outra vez, agora conectando meu celular e opto por uma música que não escuto há tempos, a mesma que me trouxe até aqui e ao ouvir as primeiras notas regidas por um piano meu corpo relaxa, o trânsito se torna menos insuportável e consigo ter um pouco de paz, dessa forma, pensando melhor no que posso fazer e encontrando uma luz…

Escrito por: LizGael
Revisado por: Poeira_de_Pollux e LuaInAHoodie
Capa e Arte por: LuaInAHoodie e pjmcoeur

Mono: Monster No MoreOnde histórias criam vida. Descubra agora