youniverse

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Sinto minha mente estalar ao ouvir o som da chuva caindo lá fora e das buzinas do trânsito caótico que a metrópole faz. Meu apartamento fica um pouco longe do centro, mas o barulho caótico de lá ainda é suficiente para chegar até aqui.

Deixo o lápis de lado livrando-o desse fardo que sou. Rasgo outra folha do meu caderno, amasso e a jogo pela janela a minha frente, assim como fiz com tantas outras. Era só mais outro rascunho inútil que só me serviu para intensificar a dor da angústia presa sobre o meu peito há tantos anos.

Eu estava no mesmo ponto inicial que no dia anterior e em todas as outras semanas e meses que se passaram: Decadência.

Observo a chuva consumir aquela bolinha e tantas outras que joguei no gramado molhado, até que a água suja e fria fosse absorvida por sua superfície amarelada e me questiono se era daquela mesma forma que o mundo agora me vê: Apenas mais um rabisco qualquer que a vida deixou cair do seu lado melancólico até que fosse se autodestruindo com o auxílio da "chuva" e inutilidade.

No entanto, batidas que vem da janela a minha frente, infelizmente, me livram dos meus pensamentos. Levanto a cabeça e encontro a imagem do meu velho amigo vestindo seu amado sobretudo azul marinho, debaixo de um guarda-chuva preto que tanto conheço. Eu havia o emprestado há semanas, mas ainda não o recuperei.

— Wa... Trabalhando até tarde outra vez, Namjoon? Você não cansa? — Min Yoongi se finge de surpreso e sobre as sombras que os postes da ruela solitária faz, pude ver seus pequenos olhos mais abertos que o costume.

— Em minha defesa, você não tem direito algum de falar sobre mim, já que é muito mais viciado em trabalho do que eu. — Mesmo que não tenha sido minha intenção, minhas palavras saem rudemente. Mas ver que Yoongi estava falando tais palavras a mim, sendo que era tão parecido com aquele que recebe a bronca, me deixou um tanto indignado.

É, para que eu tenha ficado assim justo com meu hyung, eu não estou nos meus "menos piores dias".

Vejo o Min revirar os olhos e um breve sorriso surge em seus finos lábios. Yoongi não gosta de frio e sequer de água, então para que ele viesse em minha janela, tenho certeza que sumi outra vez sem sequer notar e o Min mais velho estava só demonstrando sua sutil preocupação.

— Você está bem? Como andam as composições?

Como eu, Min Yoongi também é músico, então eu sei que ele me entende quando a falta de inspiração vem. Mas ainda assim, Yoongi não sente falta das cores certas como eu sinto sobre cada nota ou letras.

— Vivo e... Infelizmente, ainda refém dessa vida hedionda. — Sorrio para meu hyung na esperança que não notasse minha falta de sorte com mentiras.

Vivo não por não querer, mas sim por estar preso a algo que não consigo achar uma saída para a liberdade, era essa a resposta que queria ter lhe dado, querido hyung, mas não posso. Se não sei como me livrar de quem hoje sou, não posso garantir que saberia livrá-lo também, caso o envolvesse nisso.

— Quer ir beber um café? Sabe, espairecer um pouco. — Nego com um pequeno aceno e digo que preciso continuar com o trabalho, melhor dizendo, em busca daquele brilho que perdi anos atrás que servia de lua a muitos no mundo. — Ok. Até mais, Namjoon-ssi.

E sem devolver meu guarda-chuva, ele foi embora.

Sem demorar muito, desligo os abajures da sala, fecho os cadernos e a janela do escritório e caminho pelo meu apartamento. Vou até a cozinha e ponho água a ferver para um café. Não que eu não goste de café quando Yoongi me chamou para espairecer um pouco a mente, mas é que de chuva por hoje já basta aquela que nunca cessa dentro de mim.

Mono: Monster No MoreOnde histórias criam vida. Descubra agora