Petrichor

appel manqué

*

O relógio marcava 02:02 da madrugada. O vento era violento, batendo janelas e esvoaçando cortinas. Partituras jogadas ao chão junto com o coração de Louis.

Trinta e dois dias.

Mais de um mês esperando dia após dia, sem respostas, sem sinal nenhum do corpo esguio de pele clara coberta de tinta. Ele se fora, assim como a chuva e Louis nem ao menos entendia o porquê. Num momento, Harry estava do outro lado da rua, tão perto, tão certo. Lindo. Num piscar de olhos a chuva caia e ele corria e corria. Louis não o alcançou. A tempestade parou, se foi, como se ela e Harry fossem um só.

Louis tentou, chamou pelo nome dele, tentando atravessar todo o barulho ao redor, tentando afastar o bolo em sua garganta por ver escorrer pelos dedos a única pessoa que fez seu coração desejar ficar até o amanhecer. E além disso. 

Harry entendia, de alguma forma, como era a essência de Louis, Harry ficou, mesmo quando os silêncios eram longos. Agora o que restava era as longas noites olhando para fora, esperando por algo que não viria.

*

Trinta e três dias e um Niall feliz demais ao seu lado.

- Acho que a melhor cor seria um rosa pink nessa parede maior, o que acha Lou? – Zayn concordou com Niall fazendo o mesmo sorrir ao pensar que sim, aquela cor realmente estaria na parede, e agradeceu silenciosamente por ele ser tão bom na cozinha como ele era ruim em decoração.

-Hum?

- Louis, eu não te aguento mais. – fez beicinho – Zayn, dá um jeito nele. – o loiro saiu dramaticamente, com uma mão no peito apontando para o Louis com a expressão de alguém que tinha acabado de presenciar um crime.

Sentiu aqueles grandes olhos cor de âmbar queimando em suas costas, tentou numa tentativa falha, o ignorar, fingindo interesse no jornal à sua frente.

- Você sabe que não pode fugir de mim por muito tempo, não é? – sentou à sua frente, cruzando suas pernas envoltas num jeans escuro apertado. Tentou ignorar a lembrança que isso trazia. Jeans molhados e apertados na sua sala em madrugadas que pareciam ter acontecido mil anos atrás. – O que pretende fazer sobre isso, Louis? Me ignorar e fingir que lê esse jornal?

- Eu estou lendo o jornal, precisamos nos interessar mais sobre as notícias do mundo.

- Não sabia que você tinha a habilidade de ler de cabeça para baixo. - arqueou as sobrancelhas.

Louis suspirou fundo, derrotado, jogando o jornal de lado.

- Eu só queria saber o que aconteceu. Ele estava tão perto e do nada, ele foi embora. Não consigo simplesmente ignorar isso, Zayn. – sentiu o toque leve do garoto em sua mão. A ardência atrás dos olhos mostrava que suas lágrimas estavam ali, inquietas. – Eu não sei nada sobre ele, onde ele mora, telefone, nada! – Louis pensou o quanto isso era ridículo, não saber nada sobre Harry, nada além da angústia que percorria aqueles olhos.

- Você foi muito burro, quem em pleno século 21 não pede o número de telefone de alguém?

- Niall, vá se foder. – jogou o jornal na cara do loiro, que aparecia pela porta. – Ele não falava ok, qualquer coisa que envolvesse a vida dele ou até mesmo um número de telefone, ele mudava de assunto. Ele sempre foi muito bom nisso.

- Nós podemos tentar encontrá-lo, Louis. Estamos aqui por você. – Zayn sorriu ao ver Liam chegando do nada, se aconchegando em seus braços como um filhote de cachorro.