merci d'avoir enchanté ma vie

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*

Talvez fosse aquele lugar apertado, a mão querendo tocar na pele macia, o coração batendo rápido e forte, o mundo que parecia não girar. Talvez fosse ele.

Louis sentia os pés presos no chão o agarrando e o mantendo ali, sem escapatória. Só que não era o chão, não era ao ar, nem o barulho leve que o elevador fazia ao subir. Era Harry.

Harry o mantinha preso, submerso naqueles olhos de orvalho após uma tempestade.

Harry era a própria tempestade, o molhando por inteiro, deixando suas roupas encharcadas, seu piso molhado e o aroma de lavanda pelo ar ao sair pela manhã.

Ele era a tempestade que invadia as noites de Louis, como chuva calma pela madrugada, que te embala num sono tranquilo.

Só que os sonhos não duram para sempre.

O elevador faz um barulho, as portas se abriram. 

- É o meu andar.

- Não me manda embora. - Louis mal sabia se suas palavras realmente saíram por seus lábios. 

Era quase como uma súplica e Louis odiava implorar por qualquer coisa, só que era Harry, algo bonito demais para deixar ir sem lutar.

Num impulso, Harry colocou a mão na porta, impedindo o elevador de fechar suas portas e descer novamente. Deu passagem para Louis, que cruzou tímido, tentando fazer suas mãos pararem de tremer. Seguiu o cacheado até o final do corredor, entrando no refúgio que era o flat de Harry.

Nervoso demais, Louis não reparou nas grandes vigas de madeira, em como as janelas iam de canto a canto, nas várias plantas e flores que tinha pelo chão. Louis mantinha seus olhos focados em Harry com medo de perdê-lo novamente caso não o fizesse.

- Como me encontrou? - permaneceu de costas. Era difícil para ambos os lados.

- Não foi fácil. É difícil quando a pessoa não te diz nada.

Uma gatinha peluda com manchas negras veio miado do corredor, passando o corpinho pelas pernas longas de Harry, pedindo carinho. Sem sucesso.

Louis sabia como ela se sentia.

- Talvez eu não quisesse ser encontrado.

Lágrimas surgiram, porém o orgulho de Louis, que já fora pisoteado, não deixaria que elas caíssem. Não ali, não com ele.

Olhou para baixo, encarando seus pés. Foi burrice ter ido ali, Harry não o queria, talvez nunca quis. Talvez Louis tenha errado em jogar seu coração esperando que ele fosse pego no ar, cuidado e amado.

Era uma erro se entregar e Louis se entregou na primeira trovoada ao longe, esperando a chuva de braços abertos, dançando e pulando em poças, esquecendo que um resfriado vem e que as vezes ele te deixa numa cama de hospital.

Louis se sentia assim, doente. Entregou tudo de si à um estranho que não fazia questão de ter o que Louis era.

Piscou várias vezes afastando as lágrimas e lá estava, a mancha de vinho.

Duas noites antes de sumir como pó, Harry havia cozinhado e Louis teve a brilhante ideia de tomarem vinho, como seria o certo na Itália ao comer pizza - era o que o Louis achava, ou quem sabe era só um toque mais romântico que ele jamais admitiria. Eles estavam tão perto após devorarem aquela deliciosa massa caseira com queijo, molho e cogumelos, o vinho dera à Harry um toque rubro em sua pele, o copo tão perto da borda da mesa e aquela cacho que resolveu ser livre do coque e cair sobre aqueles olhos brilhantes de álcool.

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