petrichor

196 21 31
                                    

Petrichor

Aroma da chuva, perfume da poeira após uma longa tempestade. Cheiro que acompanha a chuva após um longo período de seca.

*

Foram longas semanas.

O frio não era o problema, nem mais a chuva que escondia suas gotas em nuvens cinzas, nunca as deixando cair, o problema era os lençóis que perderam o cheiro de Louis algumas horas após ele ter ido embora.

Ele não tinha voltado. Ele disse que não o voltaria. 

Harry não sabia a quantas horas estava ali deitado, olhando para o teto branco. Talvez ele estivesse ali desde aquele dia porque ele não lembrava do que havia feito durante todo esse tempo, a não ser pensar e pensar.

Qualquer um acharia que a solução era óbvia. Correr para Louis. Em primeiro lugar, nem tê-lo deixado sair por aquela porta. Só que Harry não era qualquer pessoa, ele se culpava por muitas coisas.

Nunca superou a morte de sua família, as horas presos nos destroços do carro, a rejeição de seus avós e deu seu pai.

As famílias que nunca o quiseram, na última tentativa ele sabia que nunca se encaixaria em lugar algum, ninguém estaria disposto a entender ou envolver seu corpo molhado em um abraço mesmo que as atitudes dele fossem estranhas e confusas.

Harry não pertencia a nada.

Harry já havia aceitado que seu lugar no mundo era sozinho, submerso.

Em uma noite como qualquer outra onde Harry não esperava mais nada do mundo, Louis aparece e o abraça, o esquenta e o mantém por perto e o mais assustador, quer ficar, mesmo sem entender o que Harry é.

Era difícil aceitar que alguém o queria, não só seu corpo, mas tudo que vinha junto.

"Eu não vou te salvar, mas podemos passar por essas tempestades juntos."

Harry não sabia o que era estar junto de alguém, a última vez que sentiu isso foi com Gemma e Anne, pensou que poderia sentir novamente com Rose, mas ela nunca o levou para casa.

Ele nunca quis ser salvo, sempre soube que ninguém poderia e desistiu de tentar por si mesmo a muito tempo.

Quem sabe ele apenas precisasse de alguém que o mostrasse que era possível, que ele conseguiria.

A verdade era que Harry não queria mais tentar, ele vivia a sua vida em modo automático, com medo de ser entupido de remédios caso buscasse alguma ajuda profissional, com medo de ser repelido como as crianças do orfanato fizeram quando viram que ele era o garoto estranho.

Embarcar nessa vida ao lado de Louis era sair de sua zona de conforto, era correr riscos e correr riscos significava a possibilidade de perder. E Harry não queria perder mais uma vez aquilo que amava.

E ele amava.

E esse amor o preencheu sem pedir passagem o tomando aos poucos, aparecendo como um estrondo e o assustando, o fazendo fugir enquanto Louis o olhava do outro lado da rua, sem entender.

Se encolheu na cama, fechando os olhos com força tentando afastar a magia refletida naqueles olhos. Harry o magoou, ele faria de novo, não faria? Porque Harry era quebrado, porque Harry matou sua família.

Petrichor Onde histórias criam vida. Descubra agora