Capítulo 7

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A caravana se detivera em mais um oásis para passar a noite. Lauren e Karila estavam a sós, pois os homens haviam acampado na encosta de uma duna, atrás das palmeiras.

— Amanhã, cruzaremos as montanhas, e então restará apenas um pequeno trecho de viagem. Antes do anoitecer, estaremos em casa.

A casa de Karila, não a dela! Lauren desviou o olhar, fitando as chamas da fogueira, a fim de não demonstrar a extensão de seu desespero ou sua determinação em fugir.
Não sabia quase nada sobre El Agadir, exceto que era o reino de Karila, onde ela teria poder absoluto, e, se decidisse mantê-la a seu lado, ninguém poderia ajudá-la. Portanto... precisava fugir naquela noite mesmo.

Ela olhou para as estrelas, em busca de orientação, mas a beleza do firmamento a distraiu de seu objetivo. Nunca vira um céu tão belo antes ou uma lua de um prateado tão intenso. Odiava os dias tórridos do deserto, porém a noite suavizava a paisagem, transformando as dunas em um jogo de luz e sombras.

— Você ficou muito quieta — disse Karila, interrompendo-lhe o devaneio. — No que está pensando?

— Em como o deserto é bonito à noite.

Karilapermaneceu um longo tempo em silêncio, e, quando falou, sua voz revelava uma intensa emoção.

— Não existe nenhum outro lugar tão magnífico no mundo. Embora viaje com frequência para a Europa e para seu país, basta se passarem alguns dias para que eu sinta uma enorme saudade daqui. O deserto está em meu sangue, é parte de mim e de minha vida.

Ela se aproximou da fogueira e colocou mais alguns gravetos.

— Talvez seja porque minha mãe descende de uma tribo beduína. Fui criada em El Agadir, mas frequentei uma escola em Casablanca e depois cursei a universidade de Princeton. Durante todos esses anos, eu sonhava com a temporada em que iria com ela, passar alguns meses com seu povo. Eu sou diferente aqui, e minha mãe teve muito medo de retaliações contra a mim, tive que lutar muito para mostrar que eu era capaz e normal. Aprendi a amar o deserto — Karila encarou Lauren, com firmeza.

— Não importa aonde meus compromissos me levem, sempre voltarei. Criarei meus filhos aqui.

Lauren sabia que Karila era uma mulher do deserto e pertencia àquele lugar árido e misterioso. Mas ela não! A imensidão das dunas, o calor e a sensação de espaço infinito lhe eram estranhas demais. Queria a civilização, luzes brilhantes, gelo nas bebidas, água quente para tomar banho, vinho gelado e comida sofisticada.

— Somos muito diferentes — disse ela, fitando-a através das chamas.

Karila era uma mulher excessivamente atraente. Seus olhos castanhos pareciam desnudar os recessos mais íntimos da alma de uma mulher. Os lábios, que podiam ser tanto sensuais quanto cruéis, prometiam despertar sensações inebriantes. Prazeres que Lauren ansiava por descobrir, mesmo sabendo que jamais se renderia.

— Sei como o deserto foi uma experiência difícil para você — prosseguiu Karila. — Quando chegarmos a El Agadir, verá que tudo é diferente e muito melhor.

Ela esperou que Lauren se manifestasse, mas diante do silêncio, insistiu no assunto.

— Está irritada comigo porque decidi levá-la para meu país. Posso até compreender sua raiva, mas não correrá perigo nenhum em minha casa. É minha hóspede...

— Sou sua prisioneira! — interferiu ela. — Está me forçando a ir com você, como aquele homem em Marrocos. Não é diferente dele!

— Como?! Ele a raptou!

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