Capítulo 1

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O avião estava prestes a aterrissar, e Lauren começou a distinguir as construções avermelhadas da cidade antiga. Era Marrocos... a jóia do mundo islâmico.
Durante anos a fio, ela sonhara com essa cidade. Murmurava seu nome sonoro, enquanto imaginava folhas de palmeiras ondulantes sob o luar prateado do deserto, sentia o aroma de perfumes exóticos e o sabor de frutos jamais provados antes. Embora relutasse em admitir, também sonhava com mulheres atraentes, talvez uma princesa de olhos negros, que a raptaria, levando-a para sua fortaleza inexpugnável, onde a amaria com paixão... pelo menos por um fim de semana.

Nos momentos de maior sensatez, culpava o brutal inverno de Chicago por seus excessos de imaginação. Naquelas gélidas manhãs de fevereiro, enquanto corria da porta de seu minúsculo apartamento até o carro, amaldiçoava o frio que parecia se infiltrar em seus ossos e a neve escorregadia que representava um perigo em potencial para todos os motoristas. Não era de espantar que ela sonhasse com Marrocos!

Então, na semana anterior e em meio à mais severa das nevascas dos últimos trinta anos, tio Russey lhe telefonara de Nova York a fim de convidá-la a ir com ele para Marrocos.

— Vou a uma conferência de proprietários de poços de petróleo americanos e do oriente, que se realizará em Marrocos — dissera Russey. — Eu pretendia levar meu assistente, mas, no último minuto, ele desistiu, pois sua esposa está prestes a ter um bebê. Esse encontro é muito importante,Lauren. Estarei representando um conglomerado de petróleo e precisarei de alguém para assumir o papel de anfitriã. Será que não pode ir?

Marrocos.., Pela janela do escritório, ela via as pessoas lutando para caminhar contra o vento gelado que varria a cidade.

— Quando pretende partir?

— Na próxima semana.

— Mas... é muito pouco tempo, tio Russey. Eu...

— Já é mais do que hora de tirar umas férias, menina — interferiu ele, disposto a não ouvir objeções.

— Não sei. Quanto tempo ficaríamos por lá?

— Só duas semanas, e... eu realmente preciso muito de você, Lauren.

Como recusar esse apelo? Tio Russey era como um irmão ou um pai, mas na qual ela carinhosamente o chamava de tio por todo seu cuidado fraternal para com ela, ele a recebera de braços abertos quando os pais dela morreram num acidente, quinze anos atrás. Morara com ele enquanto cursava a faculdade e, embora já vivesse sozinha havia muitos anos, ainda considerava aquela casa seu verdadeiro lar.
Além disso, Russey cuidava da herança que ela recebera do pai e assumira esse papel de afetuosa paternidade em todos os aspectos de sua vida.
Uma recusa estava fora de cogitação.

Então, no sábado, ela e o tio embarcaram para Marrocos.
Agora a cidade de seus sonhos finalmente se concretizava diante de seus olhos fascinados. Altas e majestosas palmeiras ladeavam as largas avenidas, por onde trafegavam magníficos Mercedes e também Rolls Royces, ao mesmo tempo em que homens de vestimentas longas e capuzes, chamadas de albornozes, conduziam caravanas de camelos.
A conferência iria se realizar em um hotel luxuoso, situado entre gramados com intermináveis canteiros de flores e que mais parecia um oásis em meio ao calor. Tão logo foi conduzida a seu quarto, Lauren postou-se no terraço, aspirando o ar fresco do deserto, sentindo o sol acariciar seu rosto, enquanto admirava as distantes montanhas Atlas. Seu sorriso era de intensa felicidade.

Lauren acordou na manhã seguinte com o nascer do sol e, sem preocupar-se em vestir um robe, correu para o terraço. Através da bruma matinal, ela divisava os minaretes e as mesquitas. Ao longe, ouvia a voz do imã, chamando os fiéis para rezar, com as mesmas palavras que se repetiam por séculos. O misticismo daquela cidade lhe provocava arrepios.

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