Capítulo 5

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Esse beijo muda tudo, eu sei que é a maneira que ela encontrou para me fazer esquecer e é muito eficaz, do momento não posso pensar nada além de como o corpo dela combina com o meu, quente demais. E os cabelos dela estão se enrolando envolta dos meus ombros sei que não vai me machucar, eu poderia disfrutar do beijo a noite toda, dias e semanas, mas é hora de ir.

Foi ela que interrompeu o beijo no entanto, mas ainda continuamos juntos, afastei o cabelo dela do rosto, sente se tão macio, não sei como alguém pode ser tão bonita.

- nós temos que ir. Falei baixo mas ela pode me ouvir. - você consegue andar?
Ela acenou que sim, nos levantamos em silêncio, passei a lanterna para ela e ela fez que não com a cabeça de novo, esse silêncio está me dando nos nervos.

- Stefany eu sei que você...
- o que você quer de mim? Porque me tirou de lá? Eles são sua família, com certeza planejaram isso juntos.

- Claro que não, olha pra você, é um ser humano e...
- não, eu não sou. Eu sou uma Deusa e uma besta.

Ela não está me ouvindo, e se gritar agora seremos encontrados, no mínimo ela deve estar com raiva. Mas eu também não estou ficando para trás.

- não é mas se parece com uma, perdão Deusa, tenho que me curvar a você agora?

- Tony...
Ela suspirou. - Desculpa, e obrigada por me tirar de lá, mas agora eu preciso do mar.

- É para lá que estamos indo, e não me agradeça, eu faria de novo e de novo, seja por você ou por qualquer um.

Ela conhece bem esse túnel, eu nunca ouvi falar que tinha um debaixo das casas, talvez seja a única casa, tenho tantas perguntas e só ela pode me responder com a verdade.

- Deusa?
Se ela quer ser chamada de Deusa, quem sou eu para não chama lá né, mulheres.

Eu sei que ela ouviu, mas não respondeu, acho que vou tentar mais uma vez.

- Esthepania, a imortal?
Silêncio de novo, continuou andando.

- vossa majestade?
Silêncio, mas não tenho nada melhor para fazer agora.

- majestade imperial pode...
Nossa, tem uma ceta ou flecha apontando para o meu olho direito, um centímetro de distância na verdade, e, eu consegui chamar a atenção dela afinal de contas.

- não me tente Tony, não quero te machucar e agora não posso controlar nem se quer a respiração.

Me sinto mal por leva lá a fazer isso, mas nao pensei que ela estaria tão mal, e me olhando furiosa.

- calma Stefany. Respira fundo.
Ela revirou os olhos e me deu as costas, bem, pelo menos não perde meu olho.

- Então, hmm voce é a última? Quer dizer, não existem mais Deuses né?

- não, não existem.
Eu sou a última tanto na linhagem de minha mãe como na do meu pai, sou a única.

- como é que era a sua mãe?

- linda.

- como é que uma mulher com cobras na cabeça pode ser bonita?

- Então você me acha feia.

Se a beleza da mãe for igual a dela, então era magnífica.
Andamos mas um pouco e fizemos uma curva a direita, mais uma a esquerda e encontramos a saída, o ar estava bem mais fresco, já eram altas horas da noite.
Ela parou e olhou para mim, eu sabia que ela vinha se despedir. Mas eu não vou deixá lá ir sozinha.

- não se despeça ainda Stefany, eu vou com você.
Pude ver o desenvolvimento tomar conta das suas feições.
- como? eu posso respirar no fundo do mar é minha casa, você não.
Suspiro alto e me sento na areia de frente aos barcos, foco meu olhar neles, e sinto olhos dela em mim, está esperando uma resposta, senta se ao meu lado até que eu quebro o silêncio.
- meu pai diz que eu sou filho de uma sereia. Do jeito que ele é, não sei mais se isso é verdade.
A última vez que entrei no mar fiquei pelo menos seis horas de baixo da água, não ganhei uma cauda, mas minha pele ganhou escamas. Quando saí, assustado de mais fui para casa, meu pai me falou da minha mãe. Nunca mais voltei, até agora, eu quero ir com você.

O silêncio dela já estava me incomodando, eu queria que ela dissesse alguma coisa, não que ficasse calada, com ela eu nunca sei o que esperar.
- eu sabia que você era estranho, mas não imaginei isso.
Ainda posso sentir o olhar dela me analisando, eu me sinto a vontade com isso, com ela.
- posso tentar algo? Perguntou me, não tive que pensar muito.
- pode sim.

Direpente senti uma dor de cabeça e uma tontura.
Coisa estranha, raramente fico doente, quase nunca mesmo.
- está me ouvindo?
Tem uma voz falando na minha cabeça, o que? Olhei para ela, e ela estava concentrada em mim.
- foi você? Que falou na minha cabeça.
Ela simplesmente sorrio, para mim, ela nunca fez isso antes.
Bem, não que eu tenha visto e só conta se eu tiver visto. Estava sempre com Ana, só de pensar nela sinto uma decepção tão grande. Mas não vou pensar nisso agora, tem uma pergunta que não sai da minha cabeça.
- Porque você me beijou Stefany? Não que eu não tenha gostado, eu adorei.

- Beijei porque eu quiz. Eu...
- E você sempre faz o que quer.
- Eu ia dizer que sempre quiz você.

- essa frase é minha, eu sempre quiz você Stefany, desde a primeira vez que te vi. Mas você era inalcançável. Amiga da minha irmã, dos meus amigos, mas comigo nunca trocou mais de cinco palavras, achei que era melhor ficar longe.

- eu não queria me apaixonar por você, e nem te querer, com você por perto, eu sentia mil coisas e mais, nenhuma delas forte o suficiente para decifrar.
Esses seus olhos verdes me perseguiam até de baixo da água,  sobre você não tinha um lugar seguro, e olha que eu sou imortal, sei como estar segura.

- Stefany, isso é muito...
- Escuta, por favor. Sua casa é aqui, e minha é em qualquer outro lugar, não podemos ficar juntos. Eu não posso.

Não importa o que ela diga, o que eu sinto não muda, eu quero ela de qualquer jeito que puder ter, e logo ela vai entender isso, não adianta discutir agora.
- tudo bem, não diga nada agora, dê um tempo, isso você tem de sobra né.
Ela suspirou e ficou olhando para um ponto qualquer, olhando ela desse jeito, parece tão frágil, eu queria ter o poder de protege lá.
- está bem.
Respondeu e se levantou, me levantei com ela. Quando segurou minha mão eu me sente em casa, sossegado como se não tivesse mas nada no mundo para me preocupar.
- Vamos.

A água está gelada, fomos andando até o nível do pescoço e eu tentei afundar meu medo, Stefany foi para o fundo e eu a segui, mas não pude continuar e voltei para a superfície, memórias do passado assaltavam a minha cabeça, minha pele escamosa, eu não consigo, não posso ver de novo, sai a superfície da água e busquei por ar, eu a senti antes dela me tocar.
- Calma, eu estou aqui com você, tem que aceitar parte do que você é.
Ela me abraçou por trás e eu fui ficando mais calmo, o corpo dela é quente em comparação a água, quero que ela me abrace por mais tempo mas ela me soltou, me senti sozinho.
- vem, vou te mostrar a beleza do mar, do que você é, e talvez do que nós somos. Você só tem que aceitar Tony.
Era tentador demais, o que ela estava oferendo significa mais tempo com ela, mas porque tem que ser no fundo do mar e não na terra? Se não fosse a minha família poderíamos estar na ilha, mas então não estaríamos juntos, não sei o que é pior, a decepção pela traição ou a felicidade pela consequência da traição.

- confio em você para isso.
Responde um pouco incerto, mas ela não teve o mesmo problema, entrelaçou os dedos nos meus e me puxou para o fundo sem aviso prévio. A uma velocidade indistinguível,  senti que ultrapassamos uma barreira, e tudo a nossa volta ganhou luz, era tão lindo, criaturas minúsculas nadavam a nossa volta. Eu queria tocar mas não queria espantar, fiquei quieto.
- maravilhoso. Sussurei, mas espera aí, eu posso falar aqui? Virei para perguntar para Stefany e ela estava quieta, esperando a minha reação com certeza, mas o que ela espera que eu diga? É tudo diferente aqui em baixo.
Tudo bem que ela parece uma cobra da cintura para baixo, mas eu tenho escamas, os cabelos brancos e os olhos vermelhos, não parece nada humana, eu já sabia disso.
- porque você está me olhando assim? Perguntei.
- você não está com medo? Eu tenho uma cauda de cobra.
Ela parecia incerta, talvez duvidando se queria mesmo saber.
- eu já sabia Stefany, além disso eu tenho escamas, mas seus olhos parecem duas cerejas submersas no leite. Hahahaha.
Ela sorriu com a minha tentativa de piada, acho que a minha mais nova tarefa é fazê-la sorrir.
- Você fica mais linda sorrindo.
- vamos para casa. Para minha casa. Ela disse muito séria direpente. - esse visual escamoso cai muito bem em você.
Ela se adiantou rindo, não vi nenhuma graça nisso, fui logo atrás dela.

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