capítulo 4

38 14 77
                                    

Escuto vozes conhecidas, não sei do que estão falando, me sinto tão fraca, não consigo abrir os olhos ou mecher meu corpo, me sinto drenada e preciso de água, preciso do mar.
As vozes estão mais fortes agora, posso escutar a Ana e o Pedro, o que será que aconteceu comigo? Nunca estive tão fraca em toda minha existência... Porque eles estão sussurrando?
- será que ela vai acordar a qualquer momento? Temos que estar preparados.
Preparados para o que? Onde é que eu estou, meus sentidos estão tão fracos, mas esse cheiro é tão familiar, ainda estou na ilha.
- talvez sim, eu não sei Ana. Mas eu tenho mais uma dose para lhe pôr a dormir.
Como assim? É de mim que estão falando? Porque haveriam de me por a dormir.
Eu estava no mar com o predador, a picada me paralisou, ah não!!!
Estou na cabana, não de boa vontade, alguém sabe o que eu sou, o que Ana e Pedro estão fazendo aqui? Estão feridos? Tudo por minha culpa, não devia ficar tanto tempo com eles, preciso... A escuridão se aproxima novamente, o sangue da minha mãe tirado das serpentes é um veneno para mim, eu não consigo mais pensar com clareza.

Não sei quantas horas passaram desde que estou aqui, mas me sinto cada vez melhor, acho que não aplicaram mais nada em mim, eu preciso saber o que está acontecer sem chamar atenção para mim, preciso falar com a Ana ou Pedro, só posso confiar neles e mais ninguém.
As vozes reduziram completamente, abri os olhos devagar, e rodei pela sala, Pedro estava parado na porta com um homem a quem não consigo identificar, Ana está no sofá a minha frente, mas não posso me levantar, me concentro e extende meus cabelos em direção dela, eles tocaram a bochecha dela é a respiração dela mudou, falatava muito pouco para acordar, mas um toque seria o suficiente, fiz de novo no pulso dela, mas ela deu um grito e pulou sentada, chamou atenção dos dois homens que estavam na porta e fiquei quieta. Tenho que esperar mais.

- o que foi Ana? Sonho ruim?
Foi Pedro a perguntar se aproximando e sentou no sofá junto dela.
- filha, não tenha medo falta pouco para terminar.
O pai de Ana está aqui? Ele nunca está fora de casa.
Ana bocejou e se espreguiçou, deitou se no peito de Pedro, eu não sabia que eles tinham alguma coisa.
- não é isso. Ana respondeu depois de um tempo, com a voz baixa como se soubesse que eu estava escutando, mas não tinha como saber.
- é que senti algo me tocando, pensei que fosse a Esthepania. Acho que não devemos deixar ela viva, vai ter o mesmo destino da mãe, sem a cabeça.
Ana sentenciou irónica.
Mas o que ela sabe de mim ou da minha mãe? Não importa, ela quer arrancar a minha cabeça ou tentar. Pensei que fossemos amigas, mas se eu esconde coisas ela também pode ter escondido. Eu preciso sair daqui. Rápido.

Mais tempo se passou e eu só posso recuperar minha força total dentro do mar, não vou conseguir chegar até lá sozinha.
Sinto várias presenças fora da cabana, aqui dentro ninguém mais ficou devem estar pensando que eu estou desacordada, precisa ser agora, ninguém mais sabe, mas eu escolhi essa cabana por um motivo a mais, no banheiro tem uma passagem subterrânea que leva até o lado sul da ilha, a parte mais remota e onde ficam os barcos, é minha única saída, tento movimentar minhas pernas e consigo com muita dificuldade. Não posso fazer barulho, não vou poder contra tanta gente e parece que tem uma multidão lá fora.

Me arrasto devagar pela parede até chegar a porta do banheiro, testo e vejo que está aberta, entro e verifico que não tem ninguém, abro a passagem, tenho que tentar passar, mas de qualquer jeito farei barulho sem ajuda, as madeiras não estão firmes, vejo uma sombra passar pela janela, alguém está vindo para cá, me arrasto de volta para o sofá na sala, e vejo sangue, meu sangue, olho pra meus braços e vejo cortes já cicatrizado, como umas marcas finas e avermelhadas, estão tirando o meu sangue? Vão pagar, sinto que não posso controlar minhas emoções, é muita raiva, meus olhos estão mudados, a mudança é total, e não podem me encontrar assim ou discobrem que estou acordada. Deito rapidamente e controlo a respiração, respirar e expirar, uma, duas, três, quatro vezes e sinto tudo voltando ao normal, meu tempo sozinha acabou, fecho os olhos e alguém entra na cabana, mas esse cheiro eu conheço, Tony.

Ele caminha ate mim com pressa, sinto que ele está agitado e deveria, eu vou faze-los sofrer por isso, eu sou uma Deusa.
- Stefany você precisa acordar, eu tenho que te tirar daqui mas preciso de você acordada. Se consegui me ouvir, abra os olhos.
Até onde eu sei pode ser tudo encenação, todos me enganando e o motivo eu vou discobrir, e pensar que eu me apaixonei por alguém assim.
- por favor Stefany, não tenho muito tempo, e não quero que você morra por ser diferente, não sei porque mas... Sinto que você pode me ouvir, estou do seu lado.
Todos os meus instintos me disseram para confiar nessa voz sussurrando pra mim, meu coração me diz que sim, minha besta também, eu abri os olhos e encontrei os olhos verdes de Tony me encarando, eu sei que os meus estão vermelhos agora.
- me tira daqui. Minha voz saiu baixa e rouca pelo tempo sem falar. - por favor, tem uma saída no banheiro, me ajuda.

Sempre me imaginei assim, nos braços dele mas nunca pensei que eu estaria tão deplorável, bem, ele não está reclamando, me carregou para o banheiro e abriu a passagem, pelos vistos ele já estava preparado. Tinha uma pasta de colo e tirou uma lanterna, entrou primeiro, e quando eu estava descendo derubei a pratileira de cosméticos que a propósito nunca usei, mas o barulho foi suficiente para acordar toda a ilha.
Ouvi passos na sala e me joguei para a passagem, meus cabelos fecharam a tampa e ficamos em silêncio. Apenas respirando. Alguém entrou no banheiro, e mais passos seguiram, com certeza é o Pedro, Ana e seu pai.
- como ela desapareceu? Que merda, não era suposto ela se teletransportar.
- E o Tony cadê ele? Será que ela matou meu irmão?
- calma, o teu pai vai achar uma solução, já temos o sangue.
Todos suspiraram, e fizeram silêncio, até que uma voz que identifiquei como pai de Tony falou.
- a nossa solução era o Tony, precisamos do sangue dele para misturar com o dela, a eternidade seria nossa. Vamos encontrá-los.
Todos saíram do banheiro, e nós ficamos olhando um pro outro, ele foi afetado com o que ouviu, eu não sei acalmar ninguém, mas ele me ajudou quando eu precisei. Não pensei nisso, apenas fui pra boca dele e esperei ele reagir, seus braços se estreitaram na minha cintura, e então correspondeu ao meu beijo.

EsthepaniaOnde histórias criam vida. Descubra agora