capítulo 10

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Essa demora está me deixando preocupada. Não paro de me perguntar o que está acontecendo? Eles não seriam capazes de fazer mal a ele, ou seriam?
A incerteza está me consumindo. Por pouco não vou a cabana daquele velho traiçoeiro, mas esse não foi o que falei com Tony, terei que me contentar em esperar.

Finalmente eles estão chegando, incrível, todos eles 3 do jeito que eu queria.
Mas a cara de Tony não está nada boa, o que será que estiveram conversando para chatealo tanto?
Isso não será por muito tempo, eles já estão se aproximando.
E pensar que Ana era minha melhor amiga nesse lugar, hoje está me olhando e tratando igual a uma barata. Isso não está certo.

Tanto faz, cresci sozinha e sozinha vivi antes de chegar aqui, não vai ser a rejeição de um punhado de gente que vai apertar meu precioso coração, afinal eu sou o que se considera uma Deusa, depois de mim não preciso de ninguém mais porque não posso contar com ninguém...

Bem, talvez o Tony seja uma exceção a regra só um pouquinho, desde o momento que decide sair da defensiva em relação a ele, já que meu coração decidiu reviver por ele, ao contrário do que pareça, eu quero um final feliz, eu quero um amor incondicional, mas de tanto viver de incertezas e meias verdades não sei como é isso de ser amada pelo quê é e protegida acima dos demais, mas esse não é um bom momento para pensar nas desilusões da vida, uma questão mais urgente se apresenta.

- o que você fez com meu irmão aberração?
Ana diz exaltada, Pedro detém ela pela cintura, Tony vem para o meu lado, isso me deixou aliviada, em algum momento tive minhas dúvidas.

- não chame ela de aberração nunca mais.
Ele afirmou convicto.
- não te reconheço mais irmã.
- mano você não vê?
Perguntou Ana olhando em mim antes de prosseguir.
- essas coisas estão ocupando o nosso espaço e ainda têm a ousadia de viver mais do que nós? Eles não merecem, ela não merece, um bicho meu irmão, tem que ser tratado como tal.

Dava para sentir o gosto de ódio nas palavras de Ana, mas eu nunca lhe fiz mal, era minha amiga.
- E eu não mereço viver? O nosso pai te disse que minha mãe é um sereia? O que você acha que eu sou, um bicho que deve ser tratado como bicho?
A surpresa no rosto de Ana era inconfundível, ela não sabia dessa parte da história, mas afinal, que jogo macabro esse velho asqueroso esta jogando?

- não quero interromper esse momento familiar.
Falei sarcasticamente.
- mas tenho outro assunto em mente para discutir.
Bom, tenho atenção de todos para mim, inclusive o próprio Tony, agora a reunião começa.
- não quero ferir ninguém.
Digo séria.
- apesar de terem me ferido primeiro.
- pelos vistos não o suficiente.
Pedro responde friamente.

Ignoro a intervenção dele deliberadamente.
- eu quero respostas, e vocês vão me dar.
Continuo olhando diretamente para o pai deles ou chefe se assim se preferir.
- Onde encontraram o sangue da minha mãe?
Pergunto, a única pessoa que pode responder credívelmente é o chefe deles, os outros não passam de marionetes.
- o que te faz pensar que vai ter alguma resposta?
Ele pergunta zombando.
- porque eu sempre consigo o que quero.
Respondo friamente intencionada. Eles não esperavam por isso, meus cabelos enrolados no frágil pescoço de Ana, humanos!!

- a menos que queira perder sua preciosa filha e cúmplice, sugiro que comece a responder...
Falo deixando minha intenção clara.
- ela odeia bichos, e tenho vários por perto, famintos por carne humana, inclusive tubarões, que Vocês estiveram caçando.

- Stefany!! Solta ela agora, o que está fazendo?
Tony diz e eu não dou atenção, eu quero respostas e vou ter de um jeito ou de outro.
- fale!!
Digo aumentando o aperto, Ana está se debatendo por falta de ar, se ela fosse branca com certeza estaria vermelha ou rocha.
- eu não sabia que era sangue da sua mãe, um membro do Clã da mãe de Tony me deu e disse que era o melhor jeito de te incapacitar.

Faz sentido, não sou a pessoa favorita de muitos.
Solto Ana no chão e Pedro vem ao socorro dela, ela tenta respirar.
- porque? Porque eles ajudariam vocês?
Perguntei genuinamente, não vejo motivo para isso.
- O clã precisa de um príncipe de linhagem pura, Tony é mestiço mas teu sangue fará com que ele seja tão forte quanto um sangue puro, eu e Ana partilhariamos o sangue de Tony e nos tornariamos imortais, porque somos do mesmo sangue, só pode funcionar assim, a sua morte seria um bônus, acabava com a paixão de Tony e ele estaria livre para assumir o lugar que lhe é destinado no clã da mãe.

- pai? Você mataria ela em seu próprio benefício? Onde está aquele todo carácter e benevolência, eu te respeitava.
Tony falou decepcionado, até eu estou surpresa com essa engenhosidade.

- a benevolência não salva ninguém da morte meu filho.
- pai, meu irmão não é humano?
Perguntou Ana toda trémula, só não sei se de arrependimento ou de raiva.

- teu irmão é melhor que eu e você juntos.
Fala o pai perdendo a paciência.
- é ele que vai nos tirar dessa vida miserável.

- não vou tirar ninguém de nada, deviam ter me consultado antes de tentarem matar alguém.
Tony fala furioso apertando a minha mão.
- eu amo a Stefany, ela é minha namorada e não vou permitir essas atrocidades, se aceitem como são, eu me aceitei e a ela aceitei como é, não vou disperdissar uma vida por causa de uma gente que eu nem conheço, não nasci príncipe e não me tornarei um, lá eu não passarei de um bastardo mestiço, e não vou condenar a mulher que amo por causa disso, jamais.

- lindas palavras amiguinho.
Diz Pedro sacando uma arma, apontando para o senhor Jaime, vulgo chefe.
- mas fui enganado nesse vosso joguinho, deixe - me saber Jaime.
Pergunta para o pai de Tony.

- se a conversão só acontece com pessoas do mesmo sangue, como pensava em me tornar imortal?
- você não passa de um iludido.
Senhor Jaime riu sem humor.
- destinado a ser um serviçal até o último suspiro.
Eu precisava apenas da sua força física e você faria tudo pelo bem da Ana, fraco.

Todos ficamos em silêncio, esse velho é uma cobra venenosa, e pensar que é pai de alguém tão doce como Tony é inacreditável.
Pedro está com um olhar mortal para cima de senhor Jaime, e Ana está incrédula.

Num minuto Pedro tomou a decisão que mudaria nossas vidas para sempre.
- Ninguém será imortal.
Disse e apontou a arma para mim atirando, a bala não me faria nenhum mal, no entanto Tony surgiu na minha frente e levou o tiro que lhe acertou na cabeça, fatalmente, eu sei. É como se o tempo tivesse parado para sentir toda minha dor e fúria... Junto de um grande arrependimento.

- naaao naaaao!!!! Ahhhh
Grito a plenos pulmões, ele não pode morrer assim, não agora, não quando temos muitos planos, porque assim.
- ahhhhhh.
Não consigo me controlar, é a dor mais forte que já senti, a perda que mais lamentei, meu corpo está mudando, sinto minhas garras crescendo, não sinto meus cabelos, me levanto e dirrijo toda minha raiva e dor para o lugar certo, Pedro.
Escuto sussuros nos meus ouvidos e eu não sei de onde vem até me dar conta, meus cabelos se transformaram em cobras literalmente, nuunca aconteceu antes e deve  ser pelas emoções fortes que estou sentindo mas não me importo.

- VOCÊ VAI PAGAR COM A VIDA!!
Grito com toda a raiva, porque eu sei que vou arrancar a cabeça dele fora, Pedro está sem reação olhando para Tony estatelado no chão. Ele não devia estar olhando para ele. Matar o seu assassino não trará ele de volta, mas e daí? Eu quero ter feito alguma coisa por ele, mesmo que seja tarde.

Em dois passos eu vou por seu pescoço, e arranco a cabeça dele sem dor nem piedade. Ele cai num baque surdo no chão do barco espalhando sangue.
- Monstro!!
Alguém grita me apunhalando nas costas mas corta a cabeça de uma das serpentes na minha cabeça, elas se esticam quando eu me viro para olhar para o bastardo insignificante e ela se torna pedra. Ana. O mal já foi feito, empuro a estátua e ela se parte em mil e um pedaços.
- Filha!!
Lamenta Jaime, mas eu não acredito nesse remorço.
Olho para ele com todo o meu desprezo.

- não te mato agora porque quero que sofras a morte dos teus dois filhos. É sofrimento o suficiente por hoje e sempre.
Digo friamente, meus sentimentos morreram junto com o amor da minha vida, pena que não pude dizer isso antes.

Olho uma última vez para o corpo ensaguentado do Tony e me arrependo por não ter amado mais, sorrido mais, talvez abraçado mais e terminado o que começamos, quando o meu dia terminar não voltarei para os braços dele, nem para o sorriso doce, nem para o bom humor, voltarei apenas para o frio da água nas profundezas do mar, não faremos mais planos.
- Sempre vou te amar e te lembrar.
Deixo que o vento leve as minhas palavras até ele ou em qualquer outro lugar e me jogo no mar, onde é o meu lugar mas eu nunca quiz ficar.

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