Capítulo 17 - O filho do pastor

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Jungkook amava aquela cidade e a vida que levava ali. Nunca tinha pensado em partir até o dia em que deu seu primeiro beijo. Aconteceu em um sábado de culto, atrás da cozinha do templo, com a voz da pregação do pai ao fundo. Mau tiveram tempo de desgrudar seus lábios e uma das vizinhas já estava berrando aos quatro ventos que "O FILHO DO PASTOR ESTÁ DESONRANDO A POBRE MENINA!". Também levou sua primeira surra naquela noite, "Em nome do Senhor, para mostrar a Ele o quanto Jeon Jungkook está arrependido" repetia seu pai a cada cintada. Mas o garoto só tinha treze anos e foi a menina que deu a ideia deles se beijarem.

Passou o resto da sua adolescência enfurnado em um Colégio Adventista só para Meninos. Na sua casa não era permitido assistir TV, ou videocassetes, ou ouvir músicas, ou ler livros ou qualquer coisa que seu pai considerasse indecente.

Logo que completou dezesseis anos uma família nova chegou na cidade trazendo na bagagem todo o tipo de "porcarias" das quais Jungkook e seus amigos de escola eram privados. Jackson, o filho mais velho do casal, tinhs estudado três meses no exterior e tornou-se o guru daqueles garotos que ansiavam por escapar da vida monótona e entediante do Colégio Adventista.

Foi assim que descobriu Eminem e revistas de mulher pelada.

Mentia para o pai que ia estudar com os meninos, quando na verdade estavam na parte "proibida" da cidade, bebendo e vivendo suas primeiras experiências sexuais nos bancos de concreto mau iluminados da Praça 13. Para isso Jungkook não ligava muito. Havia algo na forma como via seus amigos se comportando que o fazia sentir-se vazio. Além de que, tinha tanto medo de beijar alguém e ir pro inferno que nem ousava pensar sobre o assunto. Ele gostava mesmo era de assistir às batalhas de hip hop e aplaudir o pessoal dançando no chão. No começo tentou ignorar aquela pulsação forte que seu coração dava toda vez que o ritmo tomava conta dos alto-falantes. Era tímido demais para dançar na frente dos outros, mas não conseguia se controlar nas raras ocasiões em que era deixado sozinho em casa. Até o dia em que foi pego.

Ele chorou em seu quarto sem entender o porquê do castigo, afinal de contas, o que havia de tão errado em fazer algo que o deixava feliz?

"Você está desonrando sua família dançando como uma mulherzinha." Repetia o pai a plenos pulmões.

(...)

Respirou fundo antes de apertar a campainha. O coração disparado, uma gota de suor gelado escorrendo pela nuca. Espera todo mundo sair e fala, vai acabar rápido.

"Kookie" Uma voz infantil o recepcionou quando a porta da frente foi aberta. Não pode conter um sorriso e agachou-se para abraçar a irmã. Ouviu um fungado emocionado e nem precisou levantar a cabeça para saber de quem era.

"Você está um homem lindo!" Sua mãe o abraçou apertado e Jeon deixou-se afundar nas suas roupas macias com cheiro de recém-lavado. Ela lhe mandou um dinheiro para comprar "roupas bonitas para a ocasião" e, por mais que odiasse usar calça e camisa sociais, ele odiava mais ainda decepcioná-la.

"Cara, você vai lá dizer pra sua mãe que não quer saber da garota que ela, provavelmente, já considera a nora perfeita, e que vai continuar em Seul. Não importa se você está vestido como eles querem ou não, eles vão te matar de qualquer jeito." Jin ficou repetindo isso na sua cabeça o dia anterior inteiro, quando pediu ajuda do amigo para procurar uma roupa que sua mãe gostasse.

O mais velho foi o único para quem contou a situação, e no final das contas, Seokjin só conseguiu deixá-lo ainda mais ansioso.

Quando olhou nos olhos da mulher parada a sua frente e os percebeu brilhar orgulhosos, Jungkook teve a certeza de que estava prestes a lhe cortar o coração. Me perdoa, omma. Pediu em silêncio, incapaz de sustentar aquele olhar.

o sábado que mudou nossas vidas ∘ jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora