Capítulo 19

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Kim Taehyung era uma das pouquíssimas pessoas no mundo que já haviam presenciado, mais de uma vez, Elis Porto chorando. E ela se odiava por não conseguir controlar as lágrimas que transbordavam pelas suas bochechas, pateticamente parada no meio de uma viela mal iluminada, se desculpando por ser uma completa covarde. O rapaz de cabelos loiros, apoiado à parede úmida de uma loja de disco, recusava-se a olhá-la nos olhos. E os dela não conseguiam se desgrudar do chão recém-lavado por uma das chuvas de fim de inverno que assolavam Seul naquela época do ano.

Elis o seguira para fora da casa de shows sem nem ao menos pensar no que diria quando o alcança-se.

"Não chora Elis." Taehyung se aproximou, de cabeça baixa, e segurou as mãos dela nas suas, esfregando-as gentilmente para afastar o frio.

"Eu estraguei tudo." Por isso você é sozinha. Por isso seus pais não se importam. Você machuca as pessoas, Elis.

"Não diga isso." Seu tom ainda era calmo, como da primeira vez que a viu chorar e passou mais de uma hora tranquilizando-lhe o coração, sem ter a menor ideia de que o seu próprio seria em breve ferido. "Fui eu quem se deixou gostar por alguém que não sentia o mesmo. Eu vi os sinais errados. Tá tudo bem."

Mas quando ela tentou abraçá-lo, como um sinal de conciliação, ele recuou. Não olhou em seus olhos enquanto repetia que estava tudo bem, que ia ficar tudo bem. Despediu-se levando as mãos de Elis até seus lábios e quando se foi deixou em seu lugar um enorme vazio. Ele era a mentira bonita que ela construiu para si como escape da sua própria vida.

Elis não foi uma garota de muitos amigos. Na típica adolescência rebelde de noites regadas à álcool e algumas experiências ilícitas das quais não se orgulha muito, pulava de grupo em grupo fingindo uma felicidade que não vivia. Não pensou duas vezes antes de enterrá-los junto àquela Elis que preferia esquecer. Na faculdade não tinha tempo. Logo percebeu que não era só falta de tempo, era completa ausência de vontade de socializar. Tentou ser normal por diversas vezes, só que não se encaixava no normal.

Soube que tinha alguma coisa de diferente com Seul quando sentiu uma pontada no estômago ao chegar em casa e descobrir o celular vazio, sem mensagens preocupadas de Tae e Hoseok perguntando se ela chegara bem.

(...)

Tomou o elevador para o andar do curso de inglês respirando fundo e repetindo mentalmente tudo o que precisava dizer assim que o encontrasse. Jung Hoseok estava parado no meio do corredor conversando com um moço baixinho. Uma mão no bolso da calça e a outra segurando um copo do que provavelmente seria café. Ao notar Elis, pediu licença para o colega e ficou parado esperando-a se aproximar. O rosto que a encarava era inteiro esculpido em decepção. Ela respirou fundo uma última vez. Ele a ouvia sem demonstrar qualquer reação, aquela poderia ser facilmente uma carcaça pregada ao chão enquanto Jung Hoseok voava por aí. "Tudo bem." Foi tudo o que saiu dos lábios dele em resposta aos seus pedidos de desculpas. Ele se curvou antes de dar-lhe as costas e reiniciar a conversa com o mesmo colega de antes. Elis queria gritar com ele, queria jogar aquele café no chão e obrigá-lo a reagir, só que não estavam no Brasil, aquela era a Coreia, e não se deve demonstrar emoções em público na Coreia. Não aquele tipo de emoção.

Plantada de frente para o elevador ela pôde ouvir uma daquelas risadas escandalosas de Hoseok, daquelas que antes a faziam sentir-se confortavelmente em casa, mas que agora entravam pelos seus ouvidos rasgando-lhe os tímpanos numa dor que a imobilizou pelo resto do dia.

(...)

A primeira mensagem veio no almoço. Acompanhada de um susto e uma sensação gostosa na barriga.

"Me desculpe se for intromissão demais ter pego seu número, eu só queria saber se está tudo bem."

"sim, está tudo bem, só tive um obstáculo no percurso."

o sábado que mudou nossas vidas ∘ jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora