[Jacob P.O.V]
Me sinto aliviado ao falar com Laura sobre a minha mãe. Já se passaram mais de 2 anos desde o acidente. Nunca tinha falado com ninguém sobre o acontecido, nem como me sentia sobre.
Acho que por ter que me fortalecer e arcar com o que veio depois do acidente. Meu pai sempre foi muito forte e nossa relação era como ele. Forte, descontraída, verdadeira. Éramos só nós 3 contra o mundo. Éramos invencíveis.
Laura me segurou em seus braços por longos minutos, parecia que queria arrancar todo aquele sentimento de mim. Coitada.
Não se pode simplesmente retirar ou apagar um sentimento. Querendo ou não, aquilo mexeu muito comigo e me fez quem eu sou. Claro que sofro com saudades e tristeza, mas prefiro lembrar de seus moemntos felizes, do quanto nos divertimos, de quanto aproveitamos.
Ainda estou fotografando aquele local, tentando torná-lo permanente em minha memória e rolo de câmera. Sinto que a beleza depende do seu ponto de vista e sempre tento aprimorar o meu, fazendo daqueles metais enferrujados e piso de madeira surrado, virarem uma perfeita obra de arte.
- Bom, ainda temos 1 hora, você vai querer treinar? - Laura diz e me viro para ela. Vejo que já arrumou tudo, afastou algumas mesas e colocou a caixinha de som para funcionar. Sua feição não está mais triste ou preocupada, mas demonstrando o orgulho de ter feito aquilo em apenas 5 minutos.
- Vou querer sim, prefiro não arriscar de errar tudo na hora - Digo descontraído. Coloco minha câmera na mochila e a apoio encima de uma das mesas.
- Tá bom - Ela diz e liga a caixa de som. A melodia é calma e compasada, espero que não seja tão difícil de acompanhar - O primeiro passo é assim - Laura continua, pega a minha mão direita e apoia em sua cintura.
Logo após entrelaça minha mão esquerda com a dela. Com leveza ela me guia pela dança enquanto fala "É um pra direita, no dois para frente e no três vai pra esquerda, já no quarto para trás, repete!".
Sua voz doce quase me deixava escutar o som de seu sorriso. Ela não mentiu, a música era até que fácil de acompanhar de modo que consegui pegar aquela seção de passos em uns 10 minutos sem derruba-la, pisei no pé dela? pisei,mas acontece né.
- Muito bem Jake! - Diz sorrindo orgulhosa por ter conseguido me ensinar - Você pegou bem rápido.
- Tá surpresa porque??? Sou profissional kk- Digo descontraído, não costumo falar muito, mas quando estou com meus amigos não há quem me pare. Me sinto confortável em sua presença, Laura não me julga, pelo contrário, ela me entende.
- Uyy, cadê o garoto que disse que ia derrubar o casamento??? - Ela fala sorrindo, sinto o deboche exalar.
- Eu não disse como né, eles vão ficar boquiabertos com meus passos perfeitos - continuo, Laura está rindo e leva uma das mãos a barriga. Por uma brecha no telhado o sol entra, e ilumina os olhos dela, aquela mescla perfeita.
- Okay - Laura fala tentando se recompor - Agora vai começar a parte difícil.
Nessa parte tem alguns giros, troca de mão e outras coisas mais. Só espero não me confundir, pelo menos não agora. Laura me ensina alguns giros. Nos os repetimos algumas vezes até faze-los com um pouco mais de precisam, então ela liga a música e reinicia a dança.
Os passos ,agora mais precisos , são feitos com maestria e então chega a parte mais temida: os giros. Sou muito distraído e não levo jeito para dançar.
Laura continua me guiando, mas logo depois indica que é a minha deixa. "Nao posso errar, não posso errar" repito para mim mesmo. Falha.
Pego ela pela mão e guio esse primeiro giro, logo após a envolvo em meus braços. Nesse momento um dos meus pés falha e acabo caindo. Laura cai por cima de mim e fecho os olhos ao sentir o impacto contra o chão.
Nossos rostos estão bem próximos e consigo sentir sua respiração, não posso negar que meu olhar está em seus lábios, percebo que ela também olha os meus, mas sou trazido de volta a realidade por uma gargalhada, eu a acompanho tentando afastar um pouco da vergonha do momento.
- Ai kkkkkk - Ela diz enquanto apoia as mãos no chão na tentativa de levantar.
- Meu Deus kk, me desculpa Laura, eu falei que não tenho jeito pra dança! - Digo, agora sentando. Esfrego o mão no meu cotovelo tentado afastar um pouco a dor do impacto.
- Não, não kkkk, você foi muito bom, já perdi a conta de quantas vezes já cai - Ela comenta brincalhona. Provavelmente lembrando de seu treinamento.
Nos repetimos aqueles giros algumas vezes e ela decide passar para uma parte mais lenta da música.
Agora mais perto um do outro, minhas mãos em sua cintura. Os movimentos são leves e delicados, como o vento tranquilo de uma tarde ensolarada.
Sinto o seu coração bater junto ao meu e percebo que nossas testas se encostam. Sua respiração está compasada e tranquila, quase como se ela se sentisse um pouco mais segura em meus braços.
Vejo que ela olha para os meus lábios e eu faço o mesmo, sua mão está em minha nuca, então fecho os olhos me entregando. Nossos lábios se tocam e sinto uma adrenalina que vai de desde as pontas dos meus pés, sinto ela sumir ao passo em que sinto suas mãos acariciarem a minha nuca.
Laura se afasta.
- Eu...hm...é..eu...- Ela balbuceia, eu a interrompo com outro beijo, que ela retribue - Jake...
- Hm...que - falo e me afasto um pouco dela, nossas testas ainda se tocam
- Eu...preciso ir...desculpa...- Laura fala sem jeito, e eu intervenho
- Hmm....verdade...eu tenho que trabalhar - digo, agora fora de seus braços e olhando o horário em meu celular. SOCORRO EU ME ATRASEI DE NOVO PQP.
- Tenho que ir agora, tipo agora mesmo, me desculpa sair assim corrido, é que estou atrasado - falo pegando minha mochila de volta e dando um beijo em sua testa.
- Tchau Jake, te vejo amanhã? - ela diz a soa confusa
- Claro que sim meu bem, tchauzinho - digo e saio correndo, literalmente correndo. Pelo menos a livraria fica há alguns metros daqui, no parque mesmo.
Assim que chego dou de cara com Lana e sua expressão raivosa de sempre.
- Boa tarde - falo, ainda desconfiado.
- 10 minutos de atraso Whiteland - ela diz e revira os olhos.
- Você vai ter que me desculpar, tive um compromisso, como esta o fluxo hoje?? - digo enquanto digito a senha do computador e checo se tem algum pedido.
- Normal, aqueles adolescentes ali estavam conversando um pouco alto, eu repreendi eles, mas da próxima vez você que vai.
- Okay, justo - digo e percebo que tem 3 pendências, nesse caso, pessoas que ainda não devolveram o livro, mas que ainda há tempo, mando um email com um aviso para os mesmos.
A livraria Desmond Palace é um pouco movimentada, por ficar perto de uma escola. Eu consegui o emprego aqui como estagiário há apenas 1 mês e faço alguns trabalhos de informática, checo os registros, pendências e etc.
Em um momento de descanso, me lembro do que aconteceu hoje, de como a Laura confio em mim. Lembro de nossa queda e dou um sorriso besta. A esse ponto não importa se fui bem ou mal, se soube seguir a melodia, o que importa são os momentos que passamos.
O beijo, aquele pequeno ato que vai nos marcar pra sempre, ou não, eu realmente não faço ideia de como ela irá reagir, mas seguirei seu pesamento, só espero não ser mais um.
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❅»Maldito 103«❅
RomanceTodo dia a mesma coisa, Laura Thompson, estudante de artes pega o mesmo ônibus, a mesma hora, para ir e voltar de sua faculdade. Seu cérebro gira em torno não somente de sua vida acadêmica, mas também de seu status que tanto odeia mas tem que conviv...