A brasa de cada poro da pele que deveria evaporar queimava forte e arrepiava longos caminhos de nudez. Firmes, os dedos passeavam para cima e para baixo nos lugares certos, tocando profanamente as inconcebíveis linhas que tanto sentia prazer em tocar. Uma delimitação nas costas a partia ao meio cada vez que o quente vinha outra vez e com o corpo arqueado, sua respiração curveava junto.
Os lábios não eram capazes de estarem fechados, precisavam inspirar e expirar o pouco de ar que lhe era possível captar naquele momento e os cabelos escuros vez ou outra pendiam na boca avermelhada.
Da pequena janela alta podia observar o tempo fechado e as escuras nuvens carregadas lá fora, longe de serem tão fervorosas quanto seu próprio corpo agora.
Precisava desse banho relaxante.
O banheiro que ficava no corredor do segundo andar não era tão extraordinário quanto o resto dos cômodos que viu anteriormente, podia até considerar parecido com o que tinha em casa, ou melhor, na casa da mãe. Mas a água quente do chuveiro para ela foi ainda melhor do que qualquer outro luxo que poderia ter ali.
Abriu o box de vidro com os pingos molhados que desenhavam linhas transparentes na sua pele vermelha da temperatura. Puxou uma toalha branca de algodão que já estava ali pendurada e tratou de cobrir o tronco, amarrando-a na altura dos braços antes de se posicionar em frente ao espelho de rosto acima da pia.
Achava-se bonita agora, finalmente tirara a maquiagem do rosto e, com seus cabelos lavados, seu aspecto rejuvenescido lhe vestia muito melhor. Mesmo assim, sabia que ainda tinha algo de feio em si, por dentro das camadas de pele, músculos e ossos, mas nem todos os banhos do mundo seriam capazes de resolver isso agora.
Suspirou relaxada, o clima de seu organismo a permitia gozar de um conforto enquanto se dirigia, ainda só de toalha, para fora do banheiro.
Assim que se pôs além da porta, olhou ao redor para ter certeza que a outra não estava por ali, não queria ser vista despida.
Mas, para sua felicidade, o corredor se encontrava deserto e os únicos barulhos que ecoavam pela mansão vinham lá de baixo e, pelo tilintar de aço, julgou que provavelmente Lilith estava na cozinha lidando com panelas.
Não havia se enxugado definitivamente e as gotas já escorriam de sua perna em direção ao carpete vinho no chão, tinha que ir em direção ao seu quarto para se vestir ou acabaria molhando tudo e ela definitivamente não queria começar seus dias ali estragando a casa bem cuidada.
Só que algo a chamou urgentemente pela atenção quando seus olhos de pupilas dilatadas o encontraram novamente.
O quarto por trás da última porta.
No exato mesmo instante um arrepio ousou aflorar em seus neurotransmissores e uma estranha sensação de perigo o acompanhou.
Lilith havia sido clara: Ali é proibido.
Involuntariamente, seu corpo girou em direção ao fim do corredor, mas não se moveu um centímetro, apenas ficou encarando envolvida pela curiosidade e pela tentação.
Tão persuadida e hipnotizada que não percebeu quando os barulhos de alguém cozinhando cessaram.
A mão veio terna subindo pelo braço sem de fato encostar, trocando energia estática com a fina camada de pelinhos superficiais e intocáveis, apenas sendo sentida quando veio a pousar no ombro desnudo cheio de sardas de sol.
Instantaneamente, o corpo de Yumi reagiu em um pulo de espanto acompanhado de um grito inesperado, fazendo com que seus pés rapidamente subissem e, pelo movimento brusco, a delicada toalha fosse jogada ao chão.
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EGO {HIATUS}
RomanceYumi Sasaki, ao atingir seus 18 anos e sua preciosa maioridade esperava ter sua independência ampliada, mas ser expulsa de casa definitivamente não era o que ela tinha em mente. Ela, que sempre se gabou por ter tudo, teria que se acostumar agora co...