De longe algo gritava em agonia constante. Os gemidos eram agudos e cada vez mais altos, mais perto de seus ouvidos.
De repente, o clamor vinha de dentro, partiu de outra para ela.
Quem chamar agora? Para quem gritar? Quem iria escuta-la em meio a tanto barulho?
O buraco abria-se mais e mais. E ela caia.
...
Um susto despertou os pensamentos e o lençol pesado foi retirado de cima dos olhos abertos em agonia com a claridade repentina doendo na visão, seu tronco por inteiro ergueu-se na cama até que ficasse sentada respirando ofegante.
O pescoço e testas suados eram desconfortáveis de tocar e, do jeito que estavam pregados aos cabelos, denunciavam o calor da afobação. Um gosto amargo de amanhecida aflorava nas papilas gustativas de forma que isso servia para que tivesse mais vontade ainda de levantar de seu descanso e refrescar seus sentidos.
Levou alguns poucos segundos até que recuperasse a noção de ter sido só mais um pesadelo estranho e tomasse a coragem necessária para por seu pé direito no chão, sentindo o contraste do tapete felpudo com os dedos pequenos.
Um novo dia surgia e as mesmas surpresas matutinas surpreendiam cada vez que, ao acordar, notava ainda estar naquela cama, naquele quarto e naquela casa.
Bocejou cansada coçando os olhos enquanto o corpo seguia o caminho para longe da cama, caso contrário ficaria ali por muito mais tempo do que deveria, e observou e relógio da cabeceira que ainda marcava sete horas da manhã, fazendo-a suspirar aliviada por não estar nem um pouco atrasada para o expediente.
Foi até a grande janela coberta pelas sutis cortinas e seu ânimo despencou no momento em que notou a chuva grossa que caia lá fora, acabando por não ter vontade e nem motivos para abri -la e deixar o frescor úmido entrar no quarto.
Era seu primeiro dia de trabalho e já estava se lamentando por ter que encarar o frio e os obstáculos de um tempo fechado assim. Mas, de qualquer forma, teria que engolir a falta de força de vontade e ir mesmo assim.
Havia acordado durante a madrugada para tirar o moletom quente que usava ao dormir por conta do calor que sentiu, e acabou optando pelo seu pijama azul claro velho que se constituía apenas de uma blusa sem mangas e um shortinho curto o suficiente para deixar suas pernas desprotegidas à vista, ou seja, não estava preparada para descer e tomar seu café da manhã em meio ao frio. Por isso puxou o lençol da cama e enrolou o corpo ao redor dele, ficando apenas com a cabeça e os pés para fora.
Deu passos cuidadosos durante todo o caminho até o banheiro e chegando lá deixou o lençol pendurado na maçaneta de metal enquanto se aliviava e lavava o rosto, ficando pronta para encarar o começo do dia com seu agasalho improvisado de volta ao corpo.
Desceu as escadas em lentidão, olhando apenas para seus pés com as pálpebras ainda cansadas, mas já mais acordadas do que antes.
- Essa é a cena mais adorável que eu já vi. - Lilith subitamente falou ao passo que viu Yumi no pé da escada, enquanto ela já se encontrava no sofá da sala tomando uma xícara de café preto. - Você quer café?
Yumi apenas sorriu curto e acenou positivamente com a cabeça, dirigindo-se até o lado da garota enquanto está ia até a cozinha, voltando com outra xícara e a entregando.
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EGO {HIATUS}
RomansaYumi Sasaki, ao atingir seus 18 anos e sua preciosa maioridade esperava ter sua independência ampliada, mas ser expulsa de casa definitivamente não era o que ela tinha em mente. Ela, que sempre se gabou por ter tudo, teria que se acostumar agora co...