Andorinha

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- Hey Bill, - a voz do garoto ecoou quase tímida

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- Hey Bill, - a voz do garoto ecoou quase tímida. Até então, Stanley parecia bem focado em seus binóculos e guia de pássaros.
Era o final do verão, e os Losers estavam aos poucos tentando sair de casa depois do ocorrido. Tentando aproveitar a paz em Derry pelo qual lutaram com unhas e dentes. Bill e Stan achavam o silêncio e a paz reconfortantes, ao contrário de Richie e Eddie que alternavam entre ver o mesmo filme no cinema cinco vezes e gastar todas as economias no fliperama. E por isso, o Líder e o rapaz apaixonado por pássaros passavam a tarde em uma colina perto do riacho de Derry, focados em seus próprios hobbies, num silêncio confortável.
Bill desenhava coisas agradáveis para tentar de alguma forma tirar as imagens ruins de seu cérebro. Havia decidido que desenharia todos os personagens preferidos de Star Wars, e naquele dia o escolhido era Han Solo. Tinha sua caixa de lápis coloridos para dar um toque especial ao desenho. Stan tinha seu hobbie a muito tempo, algo herdado de seu pai que foi herdado de seu avô, observação de Pássaros. Ele mantinha um caderno de anotações e um guia de pássaros americanos, com curiosidades e ficha técnicas. Em Derry ele geralmente sempre via os mesmos tipos de pássaros, mas no verão sempre havia uma surpresa ou outra.
- Hm? - Bill respondeu, tirando os olhos de seu desenho apenas por uma fração de segundos, para ver Stan ainda de pé na colina, um pouco distante da árvore onde Bill se apoiava sentado.
- Lembra quando me disse que... se eu tivesse pensamentos ruins, deveria falar contigo? - E então Bill parou seu lápis, erguendo os olhos de vez para Stan, encontrando-o agora sem os binóculos no rosto, apesar de não encara-lo de volta ainda.
- Sim, claro - Bill afastou o desenho de si, dando 100% de sua atenção a Stanley, parecendo um pouco preocupado.
O rosto de Stan ainda tinha pequenas marcas nas laterais.
- É estupido. - O judeu começou, parecendo tímido, ainda sem coragem de encarar Billy.
- N-não é. - aquela palavra em especial sempre travava em sua boca. - Só m-me fala. S-senta aqui. - Bill cruzou as pernas e colocou seu caderno de lado, mas Stan demorou alguns instantes para finalmente sentar-se ao seu lado. Quando o fez, Bill reparou que mesmo assim ainda não havia encarado-o. - Pesadelos? - Bill arriscou, Stan negou com a cabeça quieto, e furtou um olhar tímido na direção do outro.
- Eu.... ouvi um boato. E me fez... sentir estranho. - Bill juntou as sobrancelhas. Aquilo era diferente do que estava acostumado a escutar nessas situações. Mas mesmo assim deu espaço. - Me fez sentir... fez eu ficar com...- Bill notou que Stan arrancava um pouco de grama do chão com os dedos, e apertava os joelhos juntos, nervoso. - ...Deixa pra lá.
- Não! - Bill protestou, impedindo que Stan se levantasse colocando sua mão sobre a mão suja de terra do garoto. - N-não é bobo, se está te f-fazendo nervoso, n-não é besteira! - Stan finalmente encarou o líder, com olhos bem abertos, mas Bill não reparou o rubor em seu rosto. - V-voce pode me contar q-qualquer coisa. - e os olhos foram desviados em vergonha.
- Você ... - Stan disse baixo, baixo o suficiente para Bill aproximar o rosto para ouvir o que o garoto que não o encarava dizia. - você já ouviu um boato sobre algo e pensou "ah, queria que fosse comigo"?
- Claro! O t-tempo todo! É n-normal, não é b-bobo! - Bill pareceu um pouco aliviado, ao contrário de Stan, que parecia mais tímido a cada segundo que se passava.
- hm. - Stan resmungou, incrivelmente ciente de que estavam com as mãos ainda ligadas. - se eu falar o que foi... você promete... - houve uma pausa que Bill respeitou, nunca desviando os olhos de Stan. - Você promete não ficar bravo comigo? - Bill encarou-o como se houvesse escutado um absurdo, semi-ofendido.
- Claro que não vou ficar!
- Promete não me bater?
- Stan! Tá maluco? E-eu nunca d-faria algo a-assim! - Stan não pareceu tranquilizado, e demorou um tempo até parecer que juntou a coragem necessária. Ele abriu a boca algumas vezes sem emitir som algum, como se sua garganta lhe traísse. Quando disse algo, pareceu ser numa abordagem diferente da inicial, como se achasse um caminho mais fácil de chegar ao ponto.
- Você.... você beijou a Bev, aquele dia? - Bill pareceu confuso. Além de parecer, ele de fato se tornou confuso.
- Sim. - ele respondeu um pouco incerto. Não do fato em si, mas do motivo pelo qual o fato foi questionado. Stan não lhe deu explicações, e permaneceu encarando o líder em silêncio, como se suplicasse para que os neurônios de Bill fizessem a conexão. - P-p-p-por quê? - a forma como perguntou mostrou que ficou um pouco nervoso. Mas mesmo nervoso, Bill não tirou sua mão da de Stan, e Stan não explicou. Apenas encarou os lábios de Bill por um breve segundo, antes de desviar os olhos, pronto para desistir completamente do assunto. Seu rosto rubro, seus joelhos tremendo. - Oh! - Bill exclamou, de alguma forma aliviado, os olhos iluminados como se houvesse descoberto um segredo. Stan lhe encarou num misto de curiosidade e confusão. - Você q-quer um beijo também? - Bill disse como se não fosse nada, e Stan sentiu seu corpo inteiro tremer, clamando para que saísse correndo dali, para que cavasse um buraco e sumisse embaixo da terra.
- N-nao é, não, é-é que, não pense que, eu n-não- Stan tentou, sentindo o topo de sua cabeça quente como uma panela no fogo, sentindo-se preso no lugar onde estava pela mão de Bill sobre a sua. E a risada sincera que Bill soltou foi o suficiente para fazer um buraco em seu estômago, um soco em sua barriga.
- É c-você gaguejando agora! - Bill disse entre um riso fraco, e o buraco no estômago de Stan se fechou um pouco. Voltou a abrir-se quando os dedos de Bill se entrelaçaram nos seus, mas era um buraco diferente. Era quase agradável, como aquela sensação que se tem antes de descerem as travas numa montanha-russa. Não era a queda ainda, mas você sabia que estava a caminho.
- .... desculpe. - Stan sentiu a necessidade de se desculpar, por algum motivo. Sentiu a garganta fechar e os olhos arderem. Amaldiçoou as lágrimas que queriam escapar naquele momento de vergonha.
- T-tá tudo b-bem! - Bill tentou lhe tranquilizar novamente, e quando Stan virou-se para dizer-lhe que não sabia porque se sentia assim, viu o rosto do amigo próximo (e aproximando-se ainda mais) do seu.
Entrar em pânico foi quase natural naquele momento. Mas estava preso no lugar pelos dedos de Bill entrelaçados aos seus, e vez ou outra um desses dedos lhe acariciava a mão de forma tímida, movendo-se de maneira suave contra sua pele, como se numa tentativa de acalmar-lhe. Nada poderia acalmar-lhe na verdade, mas a tentativa era válida.
Quando os lábios finalmente se tocaram, Stan pôde praticamente ouvir em seus ouvidos o som do vento de quando a montanha-russa cai de sua primeira descida.
Stan nunca havia beijado alguém na vida, e não tinha ideia do que fazer. Os lábios de Bill eram suaves contra os seus, e quando Stan finalmente fechou os olhos, foi a primeira curva daquela montanha-russa. Pressionar os próprios lábios contra os de Bill foi um sentimento totalmente diferente do que imagina que seria, e a brisa daquela tarde calma era o complemento perfeito para o que sentia. Era quente, calmo e silencioso. Ao longe havia o som do riacho correndo, e alguns passarinhos cantavam tranquilos.
A mão livre de Stan subiu até o rosto de Bill, tocando-o com receio, apenas para se firmar onde estava, em o que estava acontecendo. Era um beijo simples, calmo e doce. Os raios do sol esquentavam sua pele nas partes em que escapavam das folhas para poder toca-los.
Quando Stan quebrou o beijo, Bill instantaneamente abriu um sorriso, e ambos se encararam de forma um pouco anestesiada, ainda próximos demais. dedos entrelaçados, e os dígitos de Stan acariciaram o rosto de Billy de leve, ainda sentindo a suavidade de sua pele contra os dedos e contra os lábios.
- T-tudo bem agora? - Bill perguntou, e Stan ainda não sentia suas pernas direito. O judeu apenas afirmou com a cabeça, fraco, um pouco hipnotizado pelo sorriso de Bill a sua frente.
- Voce.... não acha estranho? Somos garotos.
- Não, tá t-tudo bem. - Bill encostou-se um pouco mais contra a mão de Stan, esfregando-se ali com carinho. - Você é meu a-amigo. É eu te a-amo. V-voce quis um b-beijo, então nos b-beijamos! Não tem nada de e-estranho nisso. - Stan abaixou a mão finalmente, e encostou-se contra a árvore a qual estavam sentados aos pés de. Bill lhe copiou, e esticou as pernas, ainda segurando a mão de Stan, que não deixava de encara-lo. - Ah, olha!
Bill exclamou quando finalmente desviou os olhos á colina, e Stan desviou os olhos com certo pesar para poder ver o que Bill via.
- É uma andorinha. - ele anunciou, vendo um passarinho cutucando a chão numa distância de uns dois metros. Permaneceram encarando o pequeno pássaro marrom por alguns instantes até que outro desceu para fazer-lhe companhia.
- D-duas andorinhas.- Anunciou Bill, e Stan apenas afirmou com a cabeça.
- Dizem que representam amor, lealdade e pureza. - Stan explicou simples, e Bill balançou a cabeça em resposta.
- Entendo...
- Também dizem que significa Deus, mas dizem isso de quase todo pássaro. - Stan parecia mais relaxado agora, e Bill riu alto.
- Faz sentido. - Foi a resposta de Bill, vendo ambos pássaros seguirem seu caminho levantando vôo.

𝖫𝗈𝗏𝖾𝖻𝗂𝗋𝖽𝗌 [𝖲𝗍𝖾𝗇𝖻𝗋𝗈𝗎𝗀𝗁 𝖢𝗈𝗅𝗅𝖾𝖼𝗍𝗂𝗈𝗇] • 𝖨𝗍Onde histórias criam vida. Descubra agora