coisas comuns acontecem em lyon

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eu estou com meu vestido vermelho hoje à noite
dançando no escuro
à luz pálida da lua
meu cabelo está arrumado como o de uma rainha da beleza
tirei meu salto alto
estou me sentindo viva

ai meu Deus
eu sinto isso no ar
os fios de telefone lá em cima
estão chiando como um tambor
querido, eu estou em chamas
e sinto isso em toda parte
nada mais me assusta

"mon amour
mon amour
était tellement le temps passait"

O som de velhos violões mal-afinados ecoam pela pequena taberna. Ashton a olha mais uma vez. "Linda", ele pensa. "Como pude conhecer uma garota tão linda?".

Emile traga vez ou outra o amarelado cigarro que carrega entre os dedos. Cantarola suavemente "mon amour mon amour était tellement le temps passait". E pensa em como o garoto a fitá-la é estranhamente engraçado. Pensa em como eles mal entendem o que dizem um ao outro. Ela não sabe bem, não prestou muita atenção quando ele contara sobre sua fabulosa história de vida, mas acredita piamente que o rapaz seja de Charlotesville. Ela somente não se perguntou em que mísero espaço do globo está Charlotesville. Tem quase certeza de que é na Austrália... Ou seria na velha terra estadunidense? Não sabe. E nem procurará saber. Do que importa afinal? É mais um azulado fim de tarde em Lyon.

Nada mais.

Emile está sentada à beira de um balcão, em um bar desconhecido e pequeno demais para receber um nome decente, ao lado de um rapaz que conhecera há pouco menos de 24 horas. Ela não está sóbria. Está longe disso na verdade. E também não sabe se está feliz. Talvez o fato de estar completamente bêbada embaralhe seus pensamentos, como moedas jogadas de um lado para o outro, deslizantes rebeldes em uma carteira esmiuçada. E tudo o que Ashton consegue pensar é em quão brilhantes os olhos de Emile refletem neste ironicamente apaziguador fim de dia.

- Oh não, não, não, não. Merde.

- O que foi? O que aconteceu?! - Exclama lentamente Ashton. Ele pousa o copo carregado de uísque sobre a mesa amadeirada. Ótimo, ambos estão bêbados. Ele tem medo de acordar em poucos instantes e descobrir que tudo não passou de um sonho. Mas o que seria de fato tudo? Porque tudo se resumiria à um sonho? Afinal, porque ele estaria sonhando se nem ao menos se lembra de como viera parar neste cubículo chamado de taberna? Realmente, ele está bêbado.

Oh.

- Freddie. Meu ex... Ex... Ah... Namorado, namorado. Quem é ele mesmo? Ah, sim, claro! É o Freddie, o Freddie! Merde, merde!

- Por que tem tanto medo, Emile?

- Emilee. - Bufa irritada a garota. - Se pronuncia Emilee.

- Por que tem tanto medo, Emilee?

- Não tenho medo. Poupe-me. Tenho raiva. Ele é um cafajeste. Me traiu com metade da cidade.

- Com metade de Lyon? - Pergunta Ashton, abismado pela recém-fofoca sobre um desconhecido que provavelmente nunca conhecerá. Lyon não é consideravelmente grande. Mas também não seria o suficientemente pequena para que o tal Freddie dormisse com metade da população. Ou seria? Ele está tão bêbado.

Oh.

- Não me lembro qual cidade. Mas ele me traiu. Várias e várias e várias e várias vezes. Não foram poucas não, meu bem. Nem algumas. Foram várias. Tomara que ele não me veja aqui.

O Brilho Nu de Uma Mente EternaOnde histórias criam vida. Descubra agora