heroin sucks

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as pessoas deveriam ver
como nós temos vivido
eu fecho os olhos para
a música que toca
às vezes, isso tem um sabor quente e doce

nós somos as coisas que fazemos por diversão
e eu vou respirar, e tudo vai passar
então brinque conosco
e me faça acreditar que isso é bem real
pois nada é errado quando não se é real

eu vivo em um holograma com você

Fite as estrelas, meu garoto apaixonado, ardentemente. Fite-as como se realmente pudesse agarrá-las e guardá-las em pequenos potes envidraçadas, meros vagalumes teimosos. A paisagem ao seu lado não é das melhores, eu diria. Poças de água gélidas e imundas pairando sobre o cimento como reflexos que deixam o céu menos belo, poeira líquida sendo embalada bela brisa do outono; uma sacada pendente, ameaçando desmoronar a qualquer instante, desabar junto à rios. Mas é preferível ignorar esses meros detalhes. Por que contemplá-los se há um universo inteiro para se admirar? Você me diz que prefere permanecer assim, do jeito que está, um gatinho assustado em uma ninhada fantasma, largado na escada, logo atrás da porta engradeada que jorra metal frio como granizo, os olhos arregalados e vidrados.

Você está morto mas não é nem fúnebre.

Você então me sussurra coisas além de minha compreensão. "Tenho medo", é tudo o que consigo captar de seus murmúrios latejantes. É incrível como o medo sempre rodeia todos aqueles que chegam até mim, impedindo-os de viverem mas nunca os inibindo em minha presença. Eu não te tranquilizo. Mas tomo sua mão e a ponho sobre meus dedos cálidos, noto que está calejada pelo tempo, pela enxada fresca, pelas máquinas tortuosas.

Você é jovem com um cansaço velho.

Analiso o seu rosto, como se pudesse abraçar seu espírito e enterrá-lo em minhas costelas. Mas a minha visão não é tão avançada assim. Então me atenho a observar sua face morna, que por sinal é bela, embora tristemente machucada. "Quem diria, hum?!", penso. Quem seria capaz de se levantar em meio à plateia e dizer alguma coisa?

Me aproximo de ti, lenta e vagarosa, como se estivesse te desafiando a me ter, me roubar e engolir-me com seu destroçado coração de palha, possuir-me em seus braços magrelas nestes degraus maciços. "Estamos cruzando todas as linhas", sussurro, "e eu o levarei à um novo lugar" - confesso que me encaixo bem no papel de amante apaixonada e insana. "Então leve-me o mais longe possível", você implora aos meus pés, um cão de rua.

Apertem os cintos, o aviso propõe. Oh, acho que de fato vivemos o sonho de consumo americano. Afinal, renascemos na América, em meio a diamantes ensanguentados e ouro roubado. "E como vamos pagar pela passagem?", você me questiona. Não vamos. Mas não se atente à isso, afinal, se realmente se atentasse às coisas, não estaria aqui ao meu lado. Então, aproveite a viagem! E cerre os punhos a medida que o desejo lhe consumir - isso ajuda a distribuir o peso da foice em seu corpo esbelto.

Apenas siga os rastros deixados por minha voz e me achará, pois estarei em qualquer lugar de minha própria terra, a terra das diversões e perigos letais, vivendo como uma mortal dentre pilhas de dinheiro. E esse seria o meu hino nacional.

"Isso é sério?", você balbucia, ainda embasbacado, rolando de um lado para o outro como uma pitão, tão mole em meus braços que parece derreter como manteiga. Te seguro, embora esteja fraca, e penso que ainda tenho muito o que te mostrar, tantas coisas a ensinar. Olho para ti e vejo em seus olhos o meu próprio reflexo: rolando como um Rolling Stone.

Acho que agora é uma boa hora para se embriagar; não é como se tivéssemos todo o tempo do mundo. As melodias são bonitas mas sempre mascaram verdades feias, e a verdade é que o nosso tempo está prestes a esgotar, como areia pendente em uma ampulheta de cristal, tão fina e oblíqua que desaparece em fendas amorfas, atemporais. Então corra!, pois ainda há tempo de ter a sua cara estampada na página 6. Oh, grand artiste.

Sinta, meu bem, apenas sinta! Como um animal... Sinta como uma besta o sabor ácido que escorre por seu esôfago e queima suas entranhas, deleite-se no doce de minha pele a envenenar seus lábios, manchando-os com carne viva, pintando-os com sangue. Tente me tomar, me embebedar e enveredar, tente me tomar com seus dedos frios e queime-os. Você ainda não sabe com quem está lidando? Perceba os seus olhos se fundirem em uma mistura tácita, enegrecidos totalmente pelo poder da diversão, o poder de minha terra, do meu desgoverno baseado no desejo e submissão, na paixão arrebatadora e na morte precoce. Por isso, aprecie a vida enquanto a assiste sendo arrancada de suas mãos, moedas velhas escorregando por entre os dedos magricelas e se espalhando pelo chão, perdidas para sempre no carpete da sala. Isso ainda não é suficiente?

Concluo que você é um quadro disperso, meu bem: Noite Estrelada, uma estrela em Bel Air. É de fato um homem apaixonado pela terra, a terra dos comercias, dos letreiros vivos e paparazzis mortos. Está apaixonado por esta história de amor moderna, este romance brutal que certamente não terá um final feliz. Está apaixonado pelo próprio reflexo, pela vida refletida nas lentes das câmeras, o narcisismo disfarçado de nacionalismo como lobos velhos e suculentos em peles de cordeiros.

Chateau Marmont, Cadillacs amarelos, plumas e confetes. "Uma festinha nunca matou ninguém", é o que todos dizem. Incrível como declamam estes famosos versos mortais pouco antes de correrem em direção aos meus braços, os braços de Roxanne, a vendida para a noite, a dona do vestido vermelho que fuma charutos roubados na Quarta Avenida, a senhora dos jardins de verão, externos, exploradora do mundo inteligível. "Toque em minha mão", eu imploro, "e roube-me outra vez e adore-me entre os lençóis, lençóis tão brilhantes quanto os letreiros".

Roube os meus farelos mágicos, feito porcelana branca quebrada, e mergulhe neles até que tudo faça sentido, deixando-os correrem por suas veias, borbulharem seu sangue e banharem-se em seus pensamentos vis. Mergulhe nisso, mergulhe e se enterre em minhas coxas. Mergulhe, meu senhor Ofélia!

Mas é claro que tudo isso não passa de um sonho. A realidade às vezes é chocante, como uma casa vazia após um assalto. Então apenas busque refúgio em sua mente delirante: sei que ela te levará até mim, até minha imagem, meu reflexo latente a te assombrar eternamente, um fantasma druida, dançando ao seu redor como se reverenciasse uma fogueira.

Eu disse que te deixaria, e sempre cumpro minhas promessas. Eu disse que só esperaria por mais um ano, alguns meses, poucas semanas, e sempre cumpro minhas promessas. Então pense no que restou de mim, lembranças de meu toque vivo, e deixe-se ponderar sobre isso até que o seu corpo se torne maleável como mel e vá ao chão.

Então a sua visão se enrijecerá, mas o corpo ainda será um túmulo vivo, flores murchas e alecrins dourados repousando sobre ele, todos os tipos de remorsos oferecidos aos cadáveres quando os vivos se dão conta de que são mortais. As fotografias insistentes de paparazzis invisíveis se transformam em letreiros decadentes, lâmpadas fluorescentes sobre sua face, examinando sua alma e lhe forçando a despertar deste torpor.

Eu te disse, não? Não é como se tivéssemos muito tempo dessa vez. E eu sempre cumpro minhas promessas.

Overdose, é como dizem.

Eu chamaria de catarse.

O Brilho Nu de Uma Mente EternaOnde histórias criam vida. Descubra agora