Capítulo um.

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Nova Iorque | 4:35AM
Dylan Russell

O alto grave da música adentra meus ouvidos, e minha visão completamente turva faz minha cabeça latejar.
De longe, consigo ver Scarlett na pista, dançando com um homem desconhecido, enquanto fuma algo.
Olho em volta, observando uma movimentação estranha dentro do local, pensando ser normal de início, entretanto, as pessoas iniciam uma agitação extrema a caminho da saída da boate. O espaço não é dos maiores, e por conta das drogas e prostituição, se torna um alvo para a vigilância, que faz questão de estragar tudo.

O barulho das sirenes ecoa de longe, e assim que os meus olhos encontram os de Scarlett, saímos de onde estávamos, nos juntando a multidão que se desloca até a parte externa.
Nos batemos em diversas pessoas, somos empurrados e pisoteados, mas conseguimos chegar ao carro de minha irmã.
Rápida e desordenadamente, a loira liga o veículo e pisa no acelerador uma única e permanente vez, fazendo com que os pneus cantem uma linda e alta melodia contra o asfalto. Seguro firme no apoio da porta, ainda desnorteado por conta dos acontecimentos velozes que nos trouxeram para dentro deste carro em um período tão curto de tempo.

Em alta velocidade, prosseguimos o caminho. Concentrada demais na estrada e naqueles a nossa volta, Scarlett não profere uma palavra. Suas sobrancelhas estão levemente franzidas e seus olhos intercalam entre os retrovisores e a rua iluminada. Observo discretamente seus movimentos, e consigo sentir o foco e precisão em cada uma de suas ações. Sua mão troca as marchas e conduz o volante com uma enorme posse, mas também, desespero. Entre curvas estreitas e olhares atentamente frenéticos, o temido e insuportável barulho da sirene policial chega de maneira alta a nossos ouvidos.

Merda. - Profere ela, encarando a viatura pelo retrovisor. Viro minha cabeça, semicerrando os olhos ao ser cegado pelas fortes luzes coloridas no topo do carro.
— Encoste o carro. - Digo, suspirando. Ela demora mais alguns segundos até desacelerar. Scarlett bate com força uma das mãos no volante, negando com a cabeça.
— Estamos fodidos. - Indaga. Ao parar o carro completamente, a figura alta do policial aparece em seu lado, apontando uma lanterna para dentro no vidro, a obrigando a abaixá-lo.

Os olhos escuros do homem percorrem atentamente por nossos rostos semelhantes, e suas sobrancelhas se franzem em seguida. Qualquer um percebe que somos gêmeos.

— Scarlett e Dylan Russell, estou certo? - Depois de soltarmos uma grande quantidade de ar, assentimos. — Preciso que saiam do carro. - Scarlett o encara por alguns segundos, abrindo a boca repetidas vezes.
— Oficial... - Estica-se para ler seu nome em seu broxe. — Clarke. Nós... - Abaixa seu olhar. — Me perdoe pelo excesso de velocidade... - Diz baixo. — Estávamos em uma festa, e... - Sua fala engasga. Fito seu rosto melancólico e evito franzir as sobrancelhas. — Recebemos uma ligação, nos informando do acidente de nossa mãe. - Evito qualquer expressão a não ser uma levemente triste, com os olhos deprimidos e as sobrancelhas levemente franzidas. — Ela estava voltando da casa de nossa avó e... - Consigo ver seus olhos brilharem por conta das lágrimas que ela fez com que surgissem em sua linha d'água. Nunca deixarei de me impressionar com o quão cínica ela consegue ser. 

— Se sua mãe tivesse sofrido um acidente, toda Nova Iorque  já estaria sabendo, senhorita Russell. - Grunhi baixo. — Saiam do carro, agora. - Ordena. — E mantenham as mãos onde eu possa ver.

Bufo irritado, mas faço o que manda. Abro a porta do carro com brutalidade, a batendo da mesma forma. Já estou ciente do nosso destino. Acabaremos em uma cela na delegacia mais próxima, detidos.
Dentro do porta-luvas, se encontram dois ou três sacos minúsculos contendo cocaína. E talvez algumas pílulas de tarja preta, nas quais o uso é somente permitido com receita médica, coisa que obviamente não possuímos.

Amor ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora